domingo, 11 de março de 2012

Considerações sobre o porquê o risoto tem que ter frango

Por que tem que ter frango no risoto? Porque você ganha um de presente! Isso não faz nenhum sentido pra você? Acompanhe a história toda.
Resultado Final
A pergunta vem de um dilema existencial que começou no dia do desafio de cozinhar sem recursos em cozinha alheia. Depois que decidimos fazer um risoto de cenoura e vagem para o jantar, a anfitriã desta contenda me questionou acerca do frango. "Como não tem frango? Nunca vi risoto sem frango!" Foram essas as palavras proferidas para gerar desconfiança e discórdia durante toda a preparação da refeição. Não sei de onde ela tirou a ideia de que um risoto tinha, necessariamente, que ter frango em sua composição, mas foi assim que tudo ocorreu até o último momento, ou a primeira garfada. Na verdade, a história do frango no risoto assombra até as lembranças mais recentes, toda vez que a conversa nos remete àquele jantar.

Mas essa não é a parte mais estranha dessa história, pois o que se pode dizer de ganhar um frango assado de presente, ou melhor ganhar um peito do bichinho pra levar pra casa. Pois então, é isso que acontece comigo e já virou anedota no trabalho. Fazia tempo que não recebíamos um franguinho de presente, cheguei a achar que a tal remessa tinha cessado, que era só uma preocupação passageira, por causa do início das coisas, mas eis que eles voltaram e com força total. Explico.
Olha o frango aí, gente!
Na semana retrasada, na quinta-feira para ser mais exata, o meu querido companheiro foi visitar os pais - depois de longuíssimos "1" mês sem ir fazer o ritual de retorno. Chegou na quinta, dormiu, me esperou sair do trabalho e voltamos os dois na sexta-feira depois do almoço. Visita de filho naquela residência é sempre um motivo válido para os excessos: de comida, de palavras e de outras tantas coisas que não me lembro agora. Na hora de ir embora, são tantas coisas oferecidas para levar que até fico tonta e um tanto quanto aborrecida de ter que ficar dizendo "Não, não precisa." Na verdade as frases adequadas, que a minha educação e bom senso não me permitem dizer são: "Tá doida, quem é que vai ficar carregando quilos de feijão, bife, frango, e até alho por vários quilômetros quando se tem mercado perto de casa. Não moramos no mato, não."

É claro, eu nunca disse isso desse jeito, embora negue com certa veemência a maioria das ofertas sem noção que nos são feitas. E ainda escuto: "Não fica olhando pra ele, não, que ele não sabe de nada, diz o que você acha." Como já disse, é melhor eu nunca ter vontade de dizer o que eu acho, digamos, de verdade. E é assim, desse modo, que os frangos sobem a serra, se é que existe tal pergunta. Isso é o resultado da impossibilidade de recusar tudo e ter de que ceder algumas vezes porque, afinal, não é preciso criar caso por qualquer coisa, desde que eu não tenha que trazer bife cru e alho pra casa. Além do mais, já virou tão anedótico que é melhor deixar assim para a diversão geral das pessoas, porque também não sou a paranoica - já fui pior, no início, embora sempre tenha tentado a via do bom senso - que entra nessas competições com mãe alheia.

Enquanto todas as outras pessoas da face da terra presenteiam seus entes queridos com bolos, frutas, doces em compota, biscoitinhos amanteigados e toda uma sorte de guloseimas delicadas e fofas, o pobre ente querido da minha sogra - e eu por consequência - ganha frango assado de presente da mãe. Ganha bolo de fubá também, aquele bolo de fubá, mas isso não é tão engraçado assim. Eu, inocentemente, achei que fosse uma coisa passageira, reflexo de alguma preocupação alimentar com filho recém-saído de casa, principalmente depois que paramos de encontrar, ao chegar em casa, um pote com frango entre os bolos e as outras coisas - além de oferecer ela ainda escondia alguns desses itens bizarros no meio das outras coisas quando a gente recusava -, mas agora vejo que não é bem assim. Paciência e bom humor para lidar com coisas esquisitas.

Voltando para sexta-feira, estávamos no carro, a caminho de casa, desesperados para chegar logo, quando comentei: "Porque sua mãe voltou a mandar frango, não precisava. Eu tava doida pra comer macarrão com atum e agora vou ter que despachar esse frango antes." Ao que o meu desolado e vencido companheiro respondeu: "Não teve jeito, eu só falei pra ela que mandar frango e carne assada era muita coisa." Uma vez em casa, guardamos tudo e o cansaço, a preguiça e o mal-estar da outra parte me fez cancelar qualquer tentativa de jantar. comi um sanduíche ou qualquer coisa que não me lembro e o pote com o frango foi direto para a geladeira sem escala.

No sábado, resolvi que ia fazer risoto com o quê? Com o frango é claro. Mentalizei um risoto de frango com brócolis e limão. Cortei os buquês de brócolis, cozinhei rapidamente, separei uma parte para o freezer e fui pegar o frango para desfiar. Quando abri o pote: surpresa! Fui ao encontro da criatura amável que limpava do andar de cima enquanto eu cozinhava e mostrei a obra de sua mãe. Abri o pote pra ele e lá estavam, juntinhos, um peito de frango e um pedaço de carne assada. Não me contive em rir da cara frustrada dele e só falei: "Ela te enganou, foi muito ardilosa essa sua mãe". Agora eu tinha um frango e uma carne assada para despachar em forma de pratos. Oh my God!!!

Entendeu porque a gente não escolhe a família que nasce? A minha também não é normal, tenho que confessar, só não dá frango de presente. Sandices a parte, já que cada núcleo familiar tem seus malucos e problemas num universo em que ninguém é normal, e agora que todos já sabem da incrível história do casal que ganhava frangos, o risoto ficou uma delícia e me ajudou a cumprir com o mandamento de outra criaturinha meio anormal que diz: "Farás seu risoto sempre com frango".
O montinho característico da foto de risoto.
A história, contudo, é melhor que o prato que levou cebola picada refogada na manteiga com um fio de azeite, uma xícara de arroz arbóreo, frango desfiado e brócolis no olhômetro [acho que uma xícara de cada um], raspas de limão e suco de meio limão. Mexi tudo muito bem e fui juntando caldo de frango com legumes de concha em concha até o arroz ficar cozinho al dente. Pra finalizar queijo muçarela ralado, manteiga, meia colher de chá de sal, pimenta do reino e noz moscada.

Um comentário:

  1. Ahhhhhhhhhhhh espertinha vc... Pra tu e pro Marcelinho companheiro, fazes risoto com frango!? rsrsrsrs

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