segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cozinha para evitar o tédio e um suflê de legumes nutritivo

Eu não tenho andado longe da cozinha, mas em dívida com a criatividade culinária. Em parte sem tempo, é verdade, mas também sem vontade de ficar fazendo pose de comida e/ou escrevendo mais do que eu já tenho que escrever, por trabalho ou obrigação.

Hoje não foi diferente, acordei com uma preguiça descomunal e nem pude ficar imensamente feliz por não ter que trabalha. Isso porque preguiça geralmente vem junto com o tédio e torna-se um círculo viciosos. Tenho preguiça e não faço nada, fico com tédio. O tédio me deixa mal-humorada e aumenta a preguiça. A inércia toma conta de tudo e fiquei cerca de uma hora perdendo meu tempo na frente da TV com programas estúpidos só porque não tinha forças pra começar o dia logo cedo.

Até preguiça tem limite e esse limite vem acompanhado de certa culpa pelo desperdício de tempo tanto para o lazer quanto para a obrigação. Daí, foi o bonitinho ir passear de bicicleta para expiar a culpa dele que resolvi tomar vergonha e dar um rumo menos empoeirado e arrastado para o meu dia que mal havia começado. Afinal  ele havia saído para fazer o que mais gosta e já tinha até levado o carro no médico usando o tempo para as obrigações. Se ele vai fazer o que mais gosta eu vou...

Trabalhar!

Pois é, a minha culpa é maior em relação ao trabalho que ao prazer. Descobri isso hoje, talvez porque para os dias de preguiça ficar sem fazer nada seja uma fonte oculta de prazer, vai saber. Assim, paguei a minha corveia para ficar em paz com minha mente obsessivamente disciplinada [pelo menos nos últimos tempos] e comecei a mexer. Lentamente comecei a escavar a poeira e sair de baixo dela. Desliguei a TV, andei um pouco para sentir o sangue circular nas pernas novamente, abri as cortinas e a janela [passo importantíssimo - a preguiça me impediu até de ver que a casa estava meio "dark"] e fui para a cozinha com o computador a punhos para começar a minha rotina escrivinhadora. Subi no "escritório" peguei os textos que achei que fosse precisar, dei uma organizada na pequena montanha de despejos que deixamos no braço do sofá que fica perto da porta [é o nosso aparador, onde jogamos as coisas quando chegamos da rua e às vezes dá uma acumulada incomoda]. a ordem dessa coisas podem não ser a mesma em que ocorreram, mas foi basicamente isso.

Alguns parágrafos depois, já com a boa sensação de que pelo menos eu fiz o mínimo, resolvi ir me divertir um pouco na cozinha. Quer dizer, eu já estava na cozinha, mas escrevendo e não me divertindo. Fui preparar os itens para o almoço, até porque alguém iria chegar da rua querendo comer um braço.

Havia comprado cenouras na Fazenda Constância de Orgânicos na semana passada [sujei meu tênis todo de lama andando na plantação] e logicamente o que vem acompanhado da cenoura fresquinha e colhida na hora: a rama da cenoura. Então, eu já estava de olho para fazer alguma receita com ela antes do amarelamento/apodrecimento, pois as partes verdes tendem ao rápido perecimento e hoje seria esse dia. A primeira coisa que veio a mente - desde que eu comprei a cenoura - foi uma omelete verde com as ramas e bastante cebolinha, mas fazendo uma rápida pesquisa sobre o tema hoje achei algumas instruções e sugestões valiosas no LaCucinetta, cuja dona, para minha satisfação voltou a ativa com os posts. A dica fundamental foi passar as folhas no processador para que fiquem bem picadas e mais palatáveis, uma vez que eu certamente iria incorrer no erro de picar grosseiramente.

Ocorre que ao catar as coisas na geladeira para começar o preparo, descobri uma abobrinha moribunda que se escondera no saco de batatas não tão no fundo assim da gaveta de vegetais [o que só prova que tenho visitado pouco essa gaveta]. Automaticamente ela, a abobrinha passou a prioridade zero na lista de ingredientes, logo, eu resolvi misturar tudo num suflê, servido com batata assada com bacon.

Triturei as folhas de cenoura no processador, ralei a abobrinha, resolvi ralar também uma cenoura, porque não, e um pedaço de queijo parmesão. Cozinhei as batatas, que ficaram ótimas, com dois dentes de alho, sal, pimenta rosa e algumas sementes de erva-doce. Batatas cozidas, ainda firmes e escorridas, ganharam uma boa quantidade de azeite, sal e alecrim fresco. Mexi bem na panela e arrumei-as em uma assadeira, de modo que ficassem com a casca para baixo e separadas. No fim salpiquei cubinhos de bacon sobre elas e coloquei no forno a 180ºC.

Os legumes do sufle estavam prontos e quando a batata estava quase lá eu comecei a quebrar os ovos [4 no total]. Gemas batidas com sal e pimenta para acrescentar à mistura de vegetais, aos quais ainda juntei uns cubos de queijo minas curado e claras numa tigela a parte para virarem neve. Depois foi só incorporar as claras em neve aos vegetais, dispor em um refratário e colocar no forno.

Quentinho, saudável, correto e delicioso.
Deste modo, tenho certeza que as ramas da cenoura foram bem aproveitadas e o almoço ficou bastante nutritivo e mais uma vez a abobrinha foi salva. O único senão foi que eu acho que acabei comendo demais, pois o suflê estava como deveria, com um aspecto e textura de leveza. Ah! E ninguém reclamou de estar comendo ramas de cenoura, pelo contrário; chegou pegou seu pedaço, deu uma garfada e comentou "É a parte verde da cenoura? É sim, tá ruim? Não tá bom, e dizem que tem muita vitamina, né?". Well done!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Couscous marroquino e falafel na falta de um título mais criativo

Era uma sádabo e nós em casa. Nada pode ser melhor do que isso, exceto saber que tem um feriado na segunda. A semana não foi fácil, alguns problemas se acumulam, e pior ainda, vão e voltam e não nos deixam em paz. Estava num ponto limite entre a razão e o desespero [meio exagerado isso], mas nem vontade de cozinha em vinha tendo até as coisas clarearem um pouco neste fim de semana.

Eu ando meio sem paciência para quase todo mundo, exceto alguns bons e velhos companheiros que nunca são demais e sempre estão a postos quando se precisa. Mesmo que eles não saibam que você precisa deles e que eles nunca fiquem sabendo [talvez hoje saibam] eles estão lá e fazem as coisas melhores. E sem que isso implique necessariamente em consolar você. Ando levemente introspectiva demais, pensativa demais e absolutamente sem ideias que prestem, para quase tudo que me proponho a fazer parece que os pensamentos não fluem como deveriam.

Estou caminhando com os projetos, mas me sinto como se estivesse presa [acho que stucked é a melhor palavra para descrever isso] sem sair do lugar. Estranho isso, meio freak, pra não dizer depressivo e inapropriado. Pra ninguém achar que terei tendencias suicidas futuras, isso é só em relação ao trabalho e aos estudos e não chega a me tirar do sério. Apenas acho que registrar ajuda a exorcizar um pouco desses fantasmas emperradores e por isso deixo essas pequenas confissões públicas.

Essa inquietação pede uma comida fácil e rápida, só que sem parecer de preguiçoso. Nada de juntar tudo na geladeira e fazer omeletão, ou torta de resto, ou coisas que envolvam as palavras liquidificador e panela de pressão. Um mandamento culinário diz que usar panela de pressão é pra fazer coisa difícil - feijão, lentilha, sopas variadas, "carne assada" - e trabalhosas, nada de facilitar a vida da cozinheira que isso não é comercial de margarina nem nada. Assim sendo, com a criatividade em dia e uma ligeira queda para o Oriente o almoço saiu com rapidez, facilidade e um pouco de estilo. Fiz falafel assado com uma salada de couscous marroquino pra lembrar os velhos tempos em que eu tinha algum comprometimento com o planejamento das refeições.

Com a minha atual fase de correria, o preparo das comidas não tem sido, assim, um ato de pensamento voluntário, tendendo ao estilo "geladeira oráculo": olhe fixamente dentro dela e veja se encontra a resposta. Mas isso não quer dizer que não tenho, tentado ao menos, comer de modo correto e saudável, pois se em casa está mais difícil nos almoços no restaurante quando estou no trabalho tenho me mantido firme na missão e, inversamente, distante do empadão de frango e da batata frita dos infernos. Toda essa história também prova que todo o tempo investido anteriormente em planejar, medir e combinar alimentos para criar pratos quase à exaustão estão sendo muito bem aproveitados agora. De certo modo, aumentei em muito a variedade de receitas na manga e consigo manter um armário com itens suficientes para cozinhar sem pensar e sem sofrer, mesmo quando falta algum ingrediente. É o bônus da comida saudável, porque uma vez liberta de convenções do arroz com feijão e da opressão do creme de leite, fica muito fácil preparar qualquer coisa.

Nesse último sábado então, fui pra cozinha sabendo o que queria mas sem investir um tempo enorme e desnecessário nisso. Quick and easy e um pouco atabalhoado! Joguei no processador, cerca de 250 gramas de grão-de-bico-cozido, meia cebola picada, dois dentes de alho picados, um punhado de cebolinha picada, pimenta do reino moída na hora, sal, uma quantidade exagerada de tabasco só percebida em sua picância depois que comemos [mas ainda assim ficou bom], um pouco de azeite e um pouco [bem pouco - uma colher de sopa] de caldo de legumes. À massa que se formou juntei farinha integral, zathar e farelo de trigo até dar liga no ponto de modelar, mas sem deixar muito seco. Depois, modelei os bolinhos, no formato de pequenos hamburgueres, e dispus em uma assadeira untada com óleo. Forno, depois que eles tostarem de um lado é só virar e esperar tostar o outro. Enquanto os bolinhos estavam no forno comecei a preparar a salada de couscous marrooquino. Piquei tomates cereja em quatro, queijo provolone em cubos. Hidratei uma xícara do couscous em caldo de legumes. Juntei os picados com o couscous e acrescentei folhas de manjericão, sal, pimenta e azeite.

Quase árabe.
Esqueci de dizer, que enquanto o falafel assava no forno, ainda fiz um bolo pra aproveitar a quentura e o tempo na cozinha. Só deus sabe o quanto de louça e sanidade isso me custou. Espero que minha memória esteja funcionando, pois estou sentido ela falhar e começo a duvidar dessa história do bolo. OMG! Lembrei! Foi isso mesmo que aconteceu, pois na hora em que eu fui virar os bolinhos [não sei escrever falafel no plural] que começaram meio que a querer desmontar, claro, minha outra parte foi ajudar com a batedeira que estava pirando e girando a tigela feito louca sem bater nada. Ele gentilmente, foi até lá e raspou as laterais da tigela com a colher colocando a massa em seu devido lugar.

A combinação dos dois ficou bem saborosa, só que ao contrário das minhas expectativas a salada de couscous alimentou todos satisfatoriamente e ainda sobrou. Pensei: vou fazer uma porção grande, porque a comida vai ser só isso e corro o risco de ter gente com fome depois do almoço. Aconteceu justamente o inverso, depois de duas pequenas rodadas os mais desesperados já estavam cheios e desistiram de acabar com a salada de uma vez. Sobrou aquele pouco indesejado, que não dá pra dois e é muito pra um, mas fazer o quê?

Dito isto, o almoço foi bem bacana e saudável, fazendo eu me sentir bem comigo mesma e satisfeita para uma sessão de bolos, bolinhos e mais algumas rodadas de comida de verdade. Hoje, à propósito, foi dia de polenta coberta com fígado de frango feito espetacularmente na manteiga com alho, cebola, tomate, shoyu e alecrim. simples e delicioso, tão quente quanto confortante, pra não dizer necessário.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Por algum motivo existem tradições: sorvete de uva com karma

Fiz sorvete de uva e choveu.

Ontem, debaixo de um sol [não literalmente] lindo e quentinho fiquei lá batendo e batendo uva com creme de leite batido - porque não - durante todo o dia. Quando o sorvete ficou pronto, finalmente, o céu escureceu, nuvens raivosas começaram a surgir e em menos de uma hora a profecia se cumpriu. Muita chuva, que no meu caso vem junto com um frio anti-sorvete. Não que eu não possa ou não deva tomar sorvete no frio, não tenho nenhum tipo de preconceito culinarístico-climático. Entretato, acho que por causa da baixa temperatura acabo nem lembrando do sorvete no freezer, uma vez que só consigo lembrar de leite e/ou qualquer outra comida quente e confortante.

Conclusão, hoje é segunda, ainda está chovendo de leve com o frio me pondo de casaco enrolada em um lençol enquanto escrevo isso do sofá de casa. O sorvete? Está no freezer sem nenhuma colherada faltando. Ia comê-lo agora a pouco com bolo, mas o leite quentinho com chocolate venceu a briga. Precisava de comida que fizesse eu lembrar que cheguei em casa e que o dia de trabalho acabou. Na verdade precisava de conforto extremo e não podia contar com isso numa versão humana, pois essa outra parte da história está no trabalho e ainda vai levar um bom tempo para chegar.

Só para não perder o hábito, mas também sem grandes reflexões filosóficas vou colocar a minha receita que tentei fazer com base no melhor sorvete de uma do mundo [essa aqui é a fonte], só que acabei usando proporções diferentes pois estava com creme de leite sobrando. As uvas, surpreendentemente estavam congeladas e ficaram super bem depois que eu dei uma aquecida nelas no fogo. Aqueci cerca de 200 gramas de uvas pretas congeladas no fogo a fim de formar uma calda que pudesse ser peneirada com mais facilidade. Calda pronta, coloquei tudo na peneira para separar os caroços e juntei com uma calda rala de um terço de xícara de açúcar com um quarto de xícara de água, tal como mandava a receita consultada. Bati o creme de leite, na quantidade pedida na receita original, até o ponto de chantilly e levei para a geladeira. Pus também o suco de uva para gelar e enquanto esperava fui fazer outras coisas. Na hora de juntar tudo resolvi que por não ter o que fazer e como guardar o resto do creme de leite ele ia virar sorvete também. Bati mais chantilly com tudo o que tinha na garrafa, totalizando cerca de um terço da garrafa de creme de leite batido. Foi então que juntei tudo, com um pouco de açúcar e sal e fiquei naquela  maratona "não deixe seu sorvete cristalizar". Dei cinco batidas em intervalos de 30 minutos nas primeiras três vezes e 1 hora nas duas últimas. Tudo bem que me esqueci dele da terceira para a quarta parada e ele ficou cerca de 1 hora e meia me esperando [meia hora a mais do que o previsto], mas acredito que não tenha interferido negativamente no resultado final. Se eu soubesse o resultado seria melhor, mas não tô no clima do sorvete agora então deve ficar para o fim de semana.

História publicada rapidinho, mas sem os detalhes da trabalheira que foi o fim de semana com várias comidas - Focaccia de Calabresa e Alecrim com fermento de uma semana, Sorvete de Uva, Angel Food Cake, Granola e almoços variados - e mais dois dias de limpeza pesada na casa nova para o qual espero me mudar em breve.

Resumidamente, em dois dias minhas estatísticas de limpeza são dois banheiros lavados, atingindo a incrível média de um por dia, a qual não poderia escapar da maledicência das pessoas que gostam de comentários infames; "Mais do que você já lavou desde que veio morar aqui." Foi o que ainda tive que ouvir. E pra acrescentar a essa impressionante conta ainda tenho uma parede inteira de lambris removida com perda mínima das peças. Estou me superando e o que é pior, gostando de trabalhar na casa nova. Como uma pessoa pode fazer uma dissertação de mestrado assim? Com tanta coisa mais importante, divertida e interessante para se fazer. Quando ela acha que lavar banheiro é melhor que sentar a bunda pra escrever sobre o sexo dos anjos ainda pode ser considerada normal?

domingo, 15 de abril de 2012

Reflexões sobre o tempo e um macarrão impressiona visita

Eu não sou muito partidária de receitas que estão na categoria impressiona-visita, e isso é verdade. Gosto de cozinhar para agradar ou outros, tudo bem. Mas não acho que para isso seja preciso fazer um prato que seja uma obra de engenharia, tampouco ficar me estapeando com comidas que levem uma semana pra ficar pronta e tem ingredientes para dois metros de lista. Não faço o gênero me admirem eu faço comida decorada nem o vejam como eu trabalhei duro para servir a todos os convidados.

Para mim, pessoalmente, agradar com comida significa ter um prato simples e muito gostoso a sua disposição quando se está com fome. Nada de sofisticado, nada de pomposo, ou da moda, mas confortante e confortável - não vou servir ostra, escargot ou lagosta pra visita minha.

Como diz os mandamentos daquele inglês metido que atende pelo nome de Jamie Oliver: flavour, taste and combination. Essa é a mágica, é aí onde me encaixo e me sinto mais a vontade na cozinha, com um pouco menos de sujice e bagunça, porque o sujeito é meio porquinho.

Embora não pretenda impressionar visitas piro-tecnicamente com meus pratos, sempre penso em menus que sirvam bem para atender amigos ou qualquer outro gênero de pessoas que resolvam aparecem na residência, ligando antes para confirmar, é claro. Isso porque, acho que vale à pena investir seu tempo - não tanto que você fiquei descabelada e descadeirada no momento de desfrutar da comida - para fazer alguma coisa especial e diferente do comum, mesmo que para isso seja necessário apenas um pequeno esforço teórico, ou seja, se dedicar a pensar na concepção da receita e na maneira de deixá-la o mais apetitosa possível na hora de comer.

Esse macarrão com alho poró é um exemplo magistral disso. Uma receita muito boa, que não dá muito trabalho e nem toma muito tempo. Tempo, é o que anda cada vez escasso para mim, moeda valiosa cada vez mais rara de modo que é preciso economizar. Por mais que isso me cause certo pesar é o tempo de cozinha que vem sendo transferido para outras atividades. Portanto, as receitas tem que ser simples - sem grandes questionamentos filosóficos - meio clássicas - porque já deram certo inúmeras vezes - e que possam ser preparadas em menos de uma hora. Parece slogan de programa de culinária desses canais absurdamente fúteis, os quais só me prestam devido aos benditos programas de culinária. Digressão: adoro programa de culinária, principalmente aqueles em que a comida e não um bando de jurados metidos são a atração principal.

Voltando ao macarrão, antes que eu me esqueça de vez da receita, já que este post está stucked a quase um mês, eu cozinhei macarrão fusilli integral para duas pessoas, sendo uma voraz, medindo no prato [coloca o macarrão cru no prato até onde você supõe que a pessoa vá comer e joga na panela quantas vezes forem o número de pessoas ou a fome dos convidados]. Antes de colocar ele para cozinhar, enquanto a água fervia eu fiz cerca de 300ml de molho branco básico com manteiga, farinha e leite. Esse molho branco pode perfeitamente ser substituído por creme de leite fresco, o que eu já fiz em outra ocasião e agiliza mais ainda, mas nesse dia eu não tinha creme de leite fresco e nem tinha meios de comprar - estou falando de tempo e distância do mercado e não meios econômicos. Coloquei então uma tigela funda como um bowl [odeio esse termo] de inox [se não for inox ou vidro a tigela derrete, óbvio] sobre uma panela de água quente e coloquei o molho branco, pimenta do reino, noz moscada e uma gema [dá um sabor legal]. Mexi e deixa lá apurando. Enquanto isso refoguei, sem deixar murchar um talo de alho poró na manteiga, juntei ao molho e ralei bastante queijo parmesão e um pouco de muçarela dentro da tigela. Todo esse queijo vai juntando e derretendo no molho lentamente e quando o macarrão terminar de cozinhar é só jogar ele ali dentro e servir sem nem precisar sujar mais nenhuma louça.

O resultado é sensacional. É, sem dúvida, uma receita para servir para visitas se fartarem [eu falei de receitas para visita em algum lugar, não? Já faz tanto tempo que não lembro.] e por isso está na minha lista de coisas que posso servir para alguém que venha nos visitar. Além do mais não é nada do tipo que obriga o cozinheiro a ficar preso no fogão até os 45 minutos do segundo tempo em plena hora do almoço, fazendo o pobre ou a pobre ter que comer toda descabelada e esbaforida, enquanto o resto da humanidade está feliz e despreocupada.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pepino refogado com calabresa e yakissoba de linguine: welcome to my world

Ser uma pessoa pouco ortodoxa e que pouco se importa com a maior parte das tradições pode ter seu lado bom. Experimentar pratos que não tem absolutamente nenhuma lógica culinária é uma dessas vantagens e poder desvirtuar qualquer receita tradicional sem ficar com culpa na consciência por estar cometendo heresia ou estar blasfemando alguma cultura distante também é uma coisa que vale à pena. Sem pressão, sem medo, nada de purismos e fome, muita fome: talvez essa seja a fórmula da inventividade culinária.

Lembrando que às vezes pode não dar certo! Por isso, inclusive, me arrisco mais quando estou sozinha e não terei que alimentar ninguém. Se ficar horrível eu como sozinha e não preciso ficar me sentindo a pior das piores criaturas por estar servindo algo tão ruim. Sozinha, nessa situação, eu me sinto apenas a pior das criaturas por estar comendo mal e/ou ter que jogar comida fora [é, teve uma vez que nem eu mesma aguentei um radicchio velho].

Ontem fui para casa com yakissoba na cabeça [não literalmente - o que seria estranho]. Na verdade, esse pensamento me ocorreu no meio do caminho, quando já havia desistido de pensar pensamentos sérios e necessários. Diga-se de passagem, os pensamentos sérios são sempre necessários. Ocorre que eu sabia que o macarrão para yakissoba não era item disponível no meu armário, sabia da mesma maneira que ter pego ele da prateleira do mercado - duas vezes - e ter desistido de levar me traria arrependimentos, agora devidamente comprovados com o arrependimento de não ter o macarrão apropriado chateando meus pensamentos que não eram para ser aborrecidos. Como tudo que ocorre no meio do caminho para casa, a chateação passou e a clareza das ideias loucas transformou os momentos de exitação em inventividade culinária. Ah! Passar no mercado e comprar o dito ingrediente não era opção nesse dia.

Cheguei em casa, cansada e faminta, mas fui tomar um banho antes de abrir os trabalhos porque também estava precisada de um pouco de água quente para melhorar o espírito. Depois de tudo isso, fui para cozinha e, mesmo tendo a pia com um pouco de louça, olhei para o outro lado e comecei a criar a refeição imaginada. 

O negócio era para ser yakissoba like, já que eu não tinha como fazer o original. Era também para usar o meio pepino que já era quase um picles na geladeira. Mas os processos criativos são muito misteriosos e sem mais nem menos você lembra de algo que pode colocar ou tirar na receita para ter no final alguma coisa comível e com o mínimo de coerência. Porque não é porque o troço é inventado, esquisito e experimental que não tem que ter o mínimo de elaboração teórica. Tanto que desisti da cenoura porque achei que não ia combinar. Não sei qual seria o resultado, mas preferi simplificar a coisa e não me arrependi no final. Lembrei de um restinho de calabresa que sobrara, já cortada, de um dia de pizza e usei sem querer muito um pouco de muçarela proveniente da mesma ocasião.

Então foi água no fogo para cozinhar um pouco de linguine, na falta de macarrão apropriado. Frigideira com um punhado de gergelim para tostar. Depois que os gergelins começam a pular da frigideira, um pouco de óleo de canola, linguiça calabresa cortada em cubos, pepino cortado em cubos, pimenta calabresa, pimenta do reino. Refoga, treina o balanço da frigideira, deixa pular umas linguiças e uns pepinos pra fora. Um pouco de farinha e água do macarrão. Macarrão que testa sua paciência pronto [teoria a ser estudada - a fome desacelera o tempo], escorre deixando um pouco da água, joga na frigideira e despeja uma quantidade boa de molho shoyu. Deixa o líquido reduzir um pouco e o macarrão dar uma fritada de leve. Prato ou tigela, muçarela por cima meio a contragosto, e surprise. Um sabor diferente, confortante e muito bom. Boa pedida para comer sozinha e ficar feliz e não só porque eu tava com fome, mas porque o yakissoba nada ortodoxo ficou realmente saboroso. 

Foto não tenho, fica pra próxima.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ficaram feios? A batalha dos bolinhos.

Eu me peguei sendo uma boa cozinheira de muffins. Pior, eu tenho andado empolgada com a ideia de fazer muffins de vários tipos, com destaque para os com cara de comida natureba. Tenho recebido até pedidos de sabores!!! O fato é que as formas de silicone, outrora abandonadas na escuridão das gavetas de utensílios inúteis, estão sendo usadas como nunca imaginei que fossem. Confesso que sempre achei essa coisa de comida diminuta - vulgo finger food - um troço meio ridículo, fresco demais. Sem contar o aspecto moda culinária besta de gente que acha tudo fofo e colorido demais. Eu tenho uma certa repulsa - infundada, é bem verdade - em relação a sofisticação, elegância e estilo - me soa falso e pretensioso -, apesar de eu controlar minhas idiossincrasias e esquisitices.

Mas agora eu faço muffins. Bolinhos, cupcakes, como queiram, eles ficam bons e fazem bastante sucesso entre meus comensais. Os muffins são a única comida que eu espalho pelo mundo, ou seja, além de serem devorados em casa eu os levo pro trabalho, dou pros amigos e conhecidos e de alguma maneira é a minha face externa no que diz respeito á culinária. Através deles, pessoas que nem imaginavam que eu podia cozinhar descobrem mais esta faceta. Não que eu tenha muitas facetas, mas as que eu consegui desenvolver ao longo de todos esses anos não combinam muito entre si. De um jeito estranho as minhas escolhas não são muito ortodoxas e, apesar de eu achar que lido bem com isso, às vezes tenho a nítida impressão que sou movida a novidade. Começo projetos radicalmente novos muito empolgada e depois eles me entediam profundamente.
Os muffins que faço, mas esses não são de banana. Subi a foto errada.
Depois dessa ponta de reflexões pessoais, os muffins ainda esperam para ser assunto neste post. Mesmo sendo a mais nova entusiasta dos bolinhos, eu confesso não ter sido muito eclética quanto aos sabores - conto três sabores diferentes até agora. É quase o mesmo dilema que me acomete com as sopas, que tem uma versão consagrada que nos impele a não correr riscos desnecessários. Depois que eu fiz o segundo tipo de muffin de toda a minha existência, o de canela, que também foi a segunda vez que eu fiz muffins, eu meio que inventei um clássico doméstico com jeito e forma de insubstituível. Então eu tive que repetir a receita algumas vezes - duas para ser mais exata - quando a matéria era fazer muffins, pois muffins tornaram-se sinônimo de muffins de canela para os mais conservadores. [Só uma observação: uma das vantagem das experiência que estão no início é que você consegue saber quantas vezes elas aconteceram e contá-las com muito mais detalhes e isso vale para quase tudo o que é novidade]

Acontece que um belo dia, você está no clima de fazer muffins - o que não é muito incomum, só fica meio que em estado latente devido a falta de tempo - e já está se preparando para fazer o integral de cenoura que a sua amiga pediu para que você tentasse. O passo para arriscar um novo sabor já está dado pela necessidade de atender a um pedido que na verdade é a melhor maneira de provar que você realmente entende do negócio, mas aí você olha pro lado e vê as bananas. Bananas orgânicas, madurissímas, que, até mesmo por serem completamente agrotóxico free já estão com más intenções no que diz respeito ao excesso de maturação. Sinais do tempo atingem as bananas que não podem passar para o outro lado assim tão facilmente, não sob a minha vigilância. Solução: ir atrás de uma receita [de preferência integral] de muffins de banana, ou com banana.

Não procurei muito, porque tenho andado com o tempo quase contado e não estou me dando ao luxo de fazer grandes exigências exploratórias em buscas infindáveis. Só para se ter uma ideia, eu não leio meu feed a mais de uma semana e dessa vez nem fui nas minhas fontes favoritas de receitas procurar meticulosamente por aquela que me parecesse mais coerentemente [lembrando que o meu conceito de coerência pode não ser dos mais confiáveis] perfeita para meus propósitos. Mas às vezes o universo pode conspirar a seu favor - mesmo quando você não está nos seus dias de maior empenho - e é de onde menos você espera que sai uma grata surpresa.

A muito tempo, desde que eu comecei a me julgar uma cozinheira um pouco mais exigente [sem ser esnobe], eu não fazia uma receita do Cybercook. Enquanto no início o site é quase bibliografia de referência, com o tempo o posto de fonte incontestável vai caindo por terra, porque as receitas começam a parecer simples demais e com um apelo incômodo à facilidade demasiada. Mas isso não é nenhuma exclusividade de minha mente insana, pois percebo em outros  foodblogs que essa rota é quase única nesse universo. Muitos começam a cozinhar com base em sites toscos e com receitas de gosto duvidoso [aquelas com panela de pressão] e depois cruzam a linha que as leva a livros e pesquisas mais teóricas e conceituais sobre comida. Tudo bem que muitos ficam com suas coisas que "sempre foram feitas em um jeito que funciona e que nem é tão complicado", mas são adaptadas sem pudores para a pretensa facilidade do "liquidificador" - é como nascem as aberrações culinárias.

Entretanto esses muffins, que são muito acima da média, diga-se de passagem, são filhos do Cybercook, um site que sem dúvida não perde em quantidade - zilhões de receitas - mas no qual é preciso ter um pouco de discernimento para separar o que é cozinhável daquilo que é receita de tia ou ainda daquilo que se vende pela praticidade extrema [isso sempre vem com o espólio da comida esquisita]. O link para a receita é esse: http://cybercook.terra.com.br/receita-de-muffin-integral-de-banana.html?codigo=11099 e o Cybercook me trouxe boas recordações do tempo em que eu achava que tudo o que eu precisava estava ali. Esse tempo foi embora depois de um fiasco com um bolo de beterraba, o que eu nem sei se é culpa do pobre site de culinária.

Enquanto os muffins estavam no forno, já quase prontos, apareceu na cozinha o meu partner nas histórias de cozinha. Olhou um pouco para dentro do forno e "pensou" alto: "Ficaram feios? Porque assim você deixa eles aqui em casa e eu posso comer mais." E este é o fim - literalmente - meu companheiro torcendo por bolinhos feios para que ele não precise disputá-los a tapa com o pessoal do trabalho. Resoluções de fim de post:
  • Preciso investir em mais forminhas de muffins - tagged as urgente. Done!
  • Tenho que arrumar forças para fazer duas receitas, depois de cumprir a primeira exigência.
  • Talvez me esforce um pouquinho para fazer muffins tortinhos e levemente desfigurados, de modo a tornar a olhada no forno das gentes mais feliz.
[Updated em 23/04/2012]: Este espaço vem perdendo a função de ser um guia pessoal para receitas repetíveis, pois tenho entrado aqui atrás das anotações das receitas e... Não tem anotação, fico com dúvidas a respeito de várias coisas. Então vou fazer essa pequena atualização: 
  • a xícara utilizada foi a grande com capacidade para 250ml
  • utilizei um pouco de melado para dar um sabor
  • utilizei apenas um quarto de xícara de óleo e acho até que pode ser menos
  • as bananas estavam dulcíssimas, fiz bem em guardá-las até o último momento
  • 1 xícara e 1/3 de banana são aproximadamente 2 bananas e meia [ou seja a receita pede para ser dobrada.]
  • fiz uma pequena substituição acrescentando um pouco de fibra de trigo na medida da aveia, menos de um quarto de xícara
Outras notas amenas e descontraídas que não tem nada a ver com a receita, mas me trará uma boa lembrança desse dia no futuro:
  • tive que buscar o comedor de bolinhos compenetrado que estava no trabalho pra experimentar
  • quando ele chegou na cozinha já perguntou se tinha algum feio
  • esses bolinhos me foram encomendados por uma amiga
  • mas só disse isso a ele depois que tinha comido o quanto queria
  • porque já tava parecendo que ele era o preterido dos bolinhos
  • a encomenda, ainda bem, está a salvo
  • até porque eram de apenas dois bolinhos
  • amanhã levarei para o destinatário