terça-feira, 10 de abril de 2012

Pepino refogado com calabresa e yakissoba de linguine: welcome to my world

Ser uma pessoa pouco ortodoxa e que pouco se importa com a maior parte das tradições pode ter seu lado bom. Experimentar pratos que não tem absolutamente nenhuma lógica culinária é uma dessas vantagens e poder desvirtuar qualquer receita tradicional sem ficar com culpa na consciência por estar cometendo heresia ou estar blasfemando alguma cultura distante também é uma coisa que vale à pena. Sem pressão, sem medo, nada de purismos e fome, muita fome: talvez essa seja a fórmula da inventividade culinária.

Lembrando que às vezes pode não dar certo! Por isso, inclusive, me arrisco mais quando estou sozinha e não terei que alimentar ninguém. Se ficar horrível eu como sozinha e não preciso ficar me sentindo a pior das piores criaturas por estar servindo algo tão ruim. Sozinha, nessa situação, eu me sinto apenas a pior das criaturas por estar comendo mal e/ou ter que jogar comida fora [é, teve uma vez que nem eu mesma aguentei um radicchio velho].

Ontem fui para casa com yakissoba na cabeça [não literalmente - o que seria estranho]. Na verdade, esse pensamento me ocorreu no meio do caminho, quando já havia desistido de pensar pensamentos sérios e necessários. Diga-se de passagem, os pensamentos sérios são sempre necessários. Ocorre que eu sabia que o macarrão para yakissoba não era item disponível no meu armário, sabia da mesma maneira que ter pego ele da prateleira do mercado - duas vezes - e ter desistido de levar me traria arrependimentos, agora devidamente comprovados com o arrependimento de não ter o macarrão apropriado chateando meus pensamentos que não eram para ser aborrecidos. Como tudo que ocorre no meio do caminho para casa, a chateação passou e a clareza das ideias loucas transformou os momentos de exitação em inventividade culinária. Ah! Passar no mercado e comprar o dito ingrediente não era opção nesse dia.

Cheguei em casa, cansada e faminta, mas fui tomar um banho antes de abrir os trabalhos porque também estava precisada de um pouco de água quente para melhorar o espírito. Depois de tudo isso, fui para cozinha e, mesmo tendo a pia com um pouco de louça, olhei para o outro lado e comecei a criar a refeição imaginada. 

O negócio era para ser yakissoba like, já que eu não tinha como fazer o original. Era também para usar o meio pepino que já era quase um picles na geladeira. Mas os processos criativos são muito misteriosos e sem mais nem menos você lembra de algo que pode colocar ou tirar na receita para ter no final alguma coisa comível e com o mínimo de coerência. Porque não é porque o troço é inventado, esquisito e experimental que não tem que ter o mínimo de elaboração teórica. Tanto que desisti da cenoura porque achei que não ia combinar. Não sei qual seria o resultado, mas preferi simplificar a coisa e não me arrependi no final. Lembrei de um restinho de calabresa que sobrara, já cortada, de um dia de pizza e usei sem querer muito um pouco de muçarela proveniente da mesma ocasião.

Então foi água no fogo para cozinhar um pouco de linguine, na falta de macarrão apropriado. Frigideira com um punhado de gergelim para tostar. Depois que os gergelins começam a pular da frigideira, um pouco de óleo de canola, linguiça calabresa cortada em cubos, pepino cortado em cubos, pimenta calabresa, pimenta do reino. Refoga, treina o balanço da frigideira, deixa pular umas linguiças e uns pepinos pra fora. Um pouco de farinha e água do macarrão. Macarrão que testa sua paciência pronto [teoria a ser estudada - a fome desacelera o tempo], escorre deixando um pouco da água, joga na frigideira e despeja uma quantidade boa de molho shoyu. Deixa o líquido reduzir um pouco e o macarrão dar uma fritada de leve. Prato ou tigela, muçarela por cima meio a contragosto, e surprise. Um sabor diferente, confortante e muito bom. Boa pedida para comer sozinha e ficar feliz e não só porque eu tava com fome, mas porque o yakissoba nada ortodoxo ficou realmente saboroso. 

Foto não tenho, fica pra próxima.

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