terça-feira, 8 de novembro de 2011

Almoços diferentes não precisam de ocasião especial

Estou almoçando sozinha e em casa nesses últimos dois dias e sempre tive a impressão que a falta de um receptor para a sua comida significava, implicitamente, que pensar na refeição e ir prepará-la não era necessário. Bastava fazer qualquer lanche rápido, sujar o menor número de louças possível e de preferência sem usar o fogão. Tudo isso se resuma a uma única palavra: pão.

Ficou sozinha em casa por algum motivo e tem que comer, tome de pão com todas as variações possíveis imagináveis - que apesar de serem infinitas ainda são bem limitadas em termos de nutrientes, em mais um paradoxo culinário. Se você está seguindo a lei do menor esforço então o resultado é sempre pão com queijo e leite com café, seja qual for o horário.

Claro que com os novos hábitos muitas coisas tem mudado e as minhas refeições estão mais controladas e planejadas. Geralmente já acordo sabendo o que vou comer durante todo o dia. Às vezes funciona, outras, quando você está na casa da mãe, não. E eis que preparar um almoço com variedade de ingredientes e diferente todos os dias não é mais nenhuma ideia absurda de quem não tem o que fazer. Tanto que já começo a pensar em enfrentar o mestre e passar de fase [Gamer style] levando minha comida para o trabalho, mesmo que seja apenas em alguns dias da semana.

E não é só isso...

No tempo em que eu ficava triste, desmotivada e sem vontade de cantar uma linda canção na eminência de uma lonely meal eu também vivia sob a ditadura do feijão com arroz. Essa espécie de karma antropológico que está nas "Raízes do Brasil", sem qualquer demérito de sua eficácia nutritiva ou seu sabor, limita um pouco o universo das possibilidades criativas na cozinha e acaba nos levando a mesmice culinária. Repetindo: não tenho nada contra o feijão com arroz, eu gosto da mistura e tem dias que só isso parece comida. A minha questão é que fomos treinados desde pequenos - e acabamos internalizando essa ideia - a achar que somente ao arroz e feijão compete o título de refeição completa para um almoço, e às vezes até para o jantar.

Não é nenhum tratado sobre o assunto, mas disso decorre que: ficamos com o paladar mal acostumado aos sabores de sempre; perdemos chances de provar coisas novas só porque "isso é assim"; tornamo-nos velhos chatos com manias de "ele/ela não come se não tiver feijão" [embora isso não seja muito culpa do feijão, coitado]; e, no meu caso até pouco tempo atrás, achamos que não há necessidade de fazer um prato de comida decente por ter que comer sozinha. Explico e minha teoria: como na minha cabeça tonta, até bem pouco tempo atrás, comida era sinônimo de arroz com feijão [ou massa, ou sopa]. Preparar feijão com arroz dá um certo trabalho, e, portanto, realmente acredito não ter muito sentido de se fazer quando não terá mais ninguém para dividir o espólio. O que acontecia então, trocava a refeição por um lanche rápido mesmo já que as coisas andavam confusas no meu universo culinário.

Ah, e também nunca fui muito fã dessas soluções prontas de mercado cheias de substâncias estranhas. Nem dos pratos miraculosamente rápidos do Programa da Ana Maria Braga com todos os ingredientes na panela de pressão. Sou confusa mas tenho critério.

O fato é que mudei o meu conceito sobre comida ao ter tanta informação disponível sobre o assunto e a uma variedade tão grande de ideias, novos ingredientes e formas de preparar alimentos. Assim sendo, minhas lonely meals agora estão bem mais legais e nem dão tanto mais trabalho se comparadas ao pão com queijo. Ponto para a mente aberta da cozinheira.

Ontem almocei repolho refogado no azeite e cebola, com maças e iogurte. Não tirei foto, mas fiquei satisfeita por certificar minha intuição de que maça e repolho combinam com perfeição. Na verdade tenho dúvidas se a intuição é de fato minha, pois é possível que eu já tenha visto a combinação em alguma das milhões de referências que uso e essa informação tenha ficado retida nos lugares inóspitos do meu cérebro.

O meu almoço de hoje foi feito rapidinho e tinha vários ingredientes que eu nem sonharia em ver no meu prato nos tempos de outrora. Tudo praticamente no microondas, de modo que esse cardápio está capacitado para figurar no rol da séria "Microondas não é enfeite", que nem nasceu e já tá meio largada.

Almoço diferente servido no prato tradicional
O frango eu já tinha pronto e foi no micro pra requentar. Antes disso, no entanto, cortei em cubos médios 1 mandioquinha com casca e tudo [e para isso nem usei a tábua], coloquei em um recipiente com pimenta branca, sal e um fio de azeite, cobri com plástico filme pra fazer vapor. 4 minutos de microondas e já estava desmanchando. Fui amassando ela com o garfo e juntei pimenta calabresa [poderia ser mais] e uns pedacinhos de ricota. Enquanto isso já estava no forno a travessa com o frango e um potinho com uma colher de manteiga para derreter. Como a manteiga derrete rápido, não dá pra esperar até terminar o tempo do frango, portanto, retirei ela com 30 segundos. Juntei duas folhas de sálvia na manteiga e reservei. Enquanto isso coloquei 1/2 xícara de água pra ferver e pus lá uma mão cheia das ervilhas congeladas que comprei hoje e que nunca havia experimentado. Quando o frango terminou de aquecer [uns 3 minutos], foi juntar no prato com a mandioquinha e as ervilhas devidamente banhadas na manteiga.

Considerações sobre essa almoço: A foto é um lindo almoço servido num "duralux" porque não tenho outro, mas bem que pode ser pensada por seu lado provocativo de servir uma refeição tão diferente em um prato de PF.

A ervilha congelada é isso tudo mesmo que a gente vê nos programas de comida gringos. Pelo menos para mim ela se saiu muito bem.


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