domingo, 6 de novembro de 2011

Frango e forno ou como resolver problemas usando uma combinação tão dominical

Frango assado com as mandioquinhas saltando

Eu ando com certa implicância com frangos em geral. Não com a ave em si, mas com o fato de comê-la nas minhas refeições. Já faz algum tempo que não vejo um filé de frango grelhado com os mesmos olhos, nem mesmo os feitos à milanesa têm me causado algum impacto. Primeiro porque faço associações doidas quando estou muito determinada a fazer alguma coisa, o que, nesse caso, é comer direito. Então acho que ao invés de ver o filé de frango grelhado vejo as pobres galinhas sofrendo e/ou um pedaço de hormônio concentrado em estado sólido. Segundo porque ao forçar minha parca concentração no gosto real dos alimentos, cada vez estou mais convencida que o frango é aquilo que a querida pessoa que vive comigo chama de ingrediente "QSP" [ele gosta mesmo de usar essa expressão para tudo aquilo que ele considera sem gosto, ontem mesmo falou isso da pobre ricota].

Pausa para explicação científica: elemento QSP é o nome que se dá nos remédios - e talvez em outras coisas, não sei - ao composto que serve apenas de veículo para o princípio ativo. Assim, um comprimido é composto pela substância que trata determinado sintoma e de outros elementos que fazem com que tal substância chegue ao seu destino no corpo do sujeito que ingere o comprimido. Acho que é isso.

No mundo dos alimentos e na interpretação dada aqui em casa, ingrediente QSP pode ser qualquer coisa quue só serve para dar uma consistência mastigável a outros ingredientes. Particularmente, acho isso uma maldade com os alimentos menos favorecidos, mas no caso do frango tenho a nítida impressão que só sinto o gosto dos temperos que vão nele. Tanto que quando como, quase sempre no restaurante perto do trabalho, fico listando - mentalmente para não parecer maluca perante meus colegas - o que pode ter sido usado para conferir sabor àquela carne. E eu sempre sei quando tem o diabólico glutamato monossódico, personificação alimentícia do mal na minha ideia de degeneração da comida saudável.

Toda essa conversa para dizer que eu tinha dois pedaços de coxa e sobrecoxa de frango no freezer, os quais precisavam ser consumidos. Estou eliminando minhas carnes congeladas desde quando decidi começar a mudar de hábitos, mas tá difícil fazer isso com moderação, comendo carne apenas de vez em quando. Quero zerar esse estoque, comprado na época em que eu achava que tinha que comprar coisas "porque podia precisar", e começar de novo com carnes que de fato servirão para alguma preparação em quantidades bem menos exageradas. Solução para meu problema 1: fazer frango assado no domingo com salada tipo tabule com folhas verdes.

No entanto, nem tudo saiu como o planejado e sobrou feijão temperado do almoço de ontem e jogar ele fora é que eu não ia. No entanto, de novo, eu não queria comer arroz e feijão tal como comera ontem [também para acabar com o último potinho de feijão congelado]. Arroz e feijão sempre acaba em muita comida no prato e ontem acabei na mesa com meu "prato de pião" cheio e fazendo montinho. Tudo bem que, no máximo, esse pião seria uma pessoa comedida ou no início de carreira, mas para mim foi muito. Solução para esse segundo problema: no lugar do tabule fazer um feijão tipo "tutu nem tanto à mineira assim" e comer com o frango e a salada de folhas verdes. Daí temos a proteína + o grão + as folhas, faltou do carbô, mas eu já vou dar um jeito nisso.

Antes de resolver o problema do carboidrato preciso anotar o tempero para o frango assado. Processei três dentes de alho, duas folhas de sálvia, folhas de alho poró, 1 pedaço de gengibre, 1 colher de chá de sal grosso, pimenta rosa, 1 colher de chá de páprica picante e 1 colher de sopa de mel [a dica da páprica com mel veio daqui]. Separei a coxa da sobrecoxa e fiz uns cortes nos pedaços para que o tempero entrasse bem. Reguei com um pouco de azeite. Passei a mistura do processador na carne, preenchendo bem os cortes com o tempero. Coloquei tudo em um saco plástico, juntei u talo de cebolinha picada, mais azeite e ramos de tomilho. Deixei temperando por cerca de 1 hora e depois mais uma hora no forno.

Para a próxima vez acho que preciso colocar mais páprica e mais sal. Deixar marinando de um dia para o outro [dessa vez não deu porque se eu deixar a carne na geladeira um dia inteiro ela não descongela, raios]. Irei assar o frango sem a pele - porque eu não como pele de frango e também porque fica mais sequinho - e tentar providenciar um tabuleiro de assar frango com aquela gradinha.

Liguei o forno 20 minutos antes de colocar meu assado para pré-aquecer e enquanto isso fui fazer cascas de laranja cristalizadas. Pois é, como problema pouco é bobagem lá fui eu começar uma receita tendo outra para para tomar conta. Mas tudo correu sem problemas pois a coisa de cristalizar a casca da laranja é bem fácil. Vi a receita no blog Pecado da Gula, o qual acompanho pelo feed, e fiquei com isso na cabeça esperando uma oportunidade. A falta de um hábito - de guardar cascas de laranja - ou a existência de outro - o de sempre jogar as cascas do suco de laranja fora - fez com que eu ficasse algum tempo sem a matéria-prima básica para a preparação: cascas de laranja.

Na semana passada consegui lembrar de não jogar as cascas fora, piquei as tirinhas e coloquei-as de molho na água por três dias, trocando diariamente [ficou esse tempo todo, porque não pude fazer antes mesmo, mas acho que se fizer de um dia para o outro já dá]. Hoje consegui juntar a ideia com a oportunidade e lá fui eu colocar tudo na panela para fazer o doce. No início, parece que não vai, mas vai e após ter resistido a tentação de tirar as cascas do fogo antes da hora [lembrou o que aconteceu com a geleia de amora fatídica?] a coisa cristaliza mesmo. A receita é ótima, fácil, dá pra cristalizar um monte de coisas e seria perfeita se o seu resultado final não fosse viciante. Usei apenas cascas de 5 laranjas e produzi 400g de tirinhas lindamente cristalizadas, o que, convenhamos, é um problema numa casa onde moram apenas duas pessoas potencialmente viciáveis [embora eu já tenha melhorado bastante, palmas pra mim!]. Solução do problema 3: dar casquinhas de laranja cristalizadas para a vizinhança.

Voltando ao frango e ao carboidrato, com o forno quente e a panela de doce no fogão eu resolvo ter a brilhante ideia de colocar uma batatinha pra assar junto. Então vai eu pra geladeira atrás de uma batata doce, inicialmente. Trinta segundos de análise da gaveta de legumes depois decidi usar uma mandioquinha como vegetal [eu amo mandioquinha, mesmo sendo este um amor recente eu já estou completamente falling], pois acho que combina com assado. E lá fui eu pro lava e corta, toda sem jeito e sem tábua, correndo o risco de fazer um corte, porque eu sempre me corto quando tento não usar a tábua. Não me cortei, mas também não tirei a casca, porque eu ando numa fase culinarística um tanto quanto rústica. [Jamie Oliver Style]. Considero isso a solução do problema 4: carboidrato na refeição que não ia levar arroz.

Pus mais uns dentes de alho esmagados no refratário, duas folhinhas de sálvia por cima pra ficar crisp, frango no forno e casquinhas de laranja esfriando. Fui resolver o feijão já sabendo que pretendia fazer um quase tutu sem farinha de mandioca em casa e nenhuma possibilidade à menos de 5km de conseguir. Então apelei para a inventividade culinária, não sem um certo temor da coisa desandar, tendo assim a solução do meu último problema: se não tens farinha para engrossar o feijão use um pouco de gérmen de trigo e ganhe um tutu bastante respeitável. Nesse feijão já tinha ido linhaça, talos de beterraba, pimenta "não sei o nome" e abóbora em cubos. O gérmen de trigo deu uma inchada em contato com o feijão, porque talvez tenha hidratado. Em compensação fez um tutu mais molinho e com uma textura mais leve aprovada com louvor.

Resultado final: foi uma refeição dos campeões. Tudo ficou muito saboroso. Frango beeem úmido e bem temperado, embora tenha a impressão que perdi parte do tempero na pele e que o miolo mais perto do osso não tenha sido tão atingido pela mistura. Entretanto, para um frango que ficou apenas uma hora no banho de sais, estava muito decente.

E ainda teve uma sobremesa muito inovadora. Uma experiência acertada, precisando apenas de alguns ajustes.

Isso ficará para o próximo post, porque tenho louça pra lavar agora!

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