quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Empada e doce de abóbora e um post meio alucinado

Se quiser pular os devaneios e ler a receita clique aqui.

O que leva uma pessoa a sentir cheiro de pão pela casa às 22 horas? O fato de ela estar fazendo pão, é claro, pois eu ainda não estou tendo alucinações olfativas e domino parcialmente minhas faculdades mentais. Mas então, o que explica uma pessoa que se diz em sã consciência estar fazendo pão, além de estar escrevendo este texto, às 22 horas em plena quarta-feira? Essa já não é tão fácil, embora explicável. Acabou o pão de forma e isso é quase um risco alimentar aqui em casa, já que sabe lá Deus o que os desavisados vão fazer para substituir o pão. Mas não é só isso ainda, creio que ir fazer pão depois de chegar do trabalho num dia útil deve ser minha tentativa quase desesperada de tomar as rédeas do meu tempo, além de, solenemente, ignorar que: 1. fui para um trabalho que não gosto; 2. perdi quase 7 horas no trânsito para ir e voltar; 3. estou cansada; 4. tudo que eu faço lá longe de casa poderia perfeitamente ser feito através de uma tecnologia um tanto quanto ultrapassada chamada internet; 5. tudo isso parece aos meus olhos uma imensa perda de tempo.

Sem contar, que hoje estou facilmente irritável e por mais que eu tenha vindo do trabalho para casa cantando mantras para manter minha mente zen [cantando mentalmente, que fique registrado], isso não me impediu de ficar tensa, ansiosa para chegar e querendo matar qualquer passageiro que fizesse sinal para subir no ônibus que eu estava, colocando sobre o pobre trabalhador - que só queria chegar em casa, tanto quanto eu - toda a minha raiva acumulada e potencializada pelo cansaço. Nem canções de paz e conforto puderam deixar minha viagem trabalho-casa menos cruel.

Voltando ao trabalho e ainda sem ritmo - que aviso logo que não será retomado antes do término do carnaval - a semana parece que se arrasta. A sensação que eu tinha hoje quando saí era que o fim de semana estava próximo, mas num lampejo de racionalidade infeliz em meio a minha sonolência abobalhada matutina, realizei que ainda era quarta-feira. Deve ser o tal do tempo psicológico, cujos únicos exemplos escolares saiam dos livros da Clarice Linspector, os quais não entendia direito à época: percepção de tempo, exemplos e livros, sem exceção. Devo a Clarice meu ligeiro retardo para entender questões filosóficas sobre o tempo.  Fiz mais coisa em três dias de trabalho do que em muitos de férias, apesar de crer que o motivo principal do meu cansaço seja o deslocamento entre minha casa e o trabalho. Ninguém pode ser feliz pulando de ônibus em ônibus. E, não, eu não moro longe do trabalho. Trabalho longe de casa. Isso faz toda a diferença.

Tudo isso não tem nenhuma relação com comida desse post, e mesmo as duas receitas não tem nada a ver uma com a outra. Isso empurra esse texto para a falta de sentido crônica. Só que até mesmo eu estar escrevendo feito uma louca a essa hora é uma forma de conectar todas as coisas. Empada, doce de abóbora e uma dose de alucinação [física e mental].

O fato objetivo é que tanto empada quanto doce de abóbora foram feitos no último fim de semana, a primeira no sábado e a segunda no domingo. Analisando o conjunto, tenho a nítida impressão de que fui acometida no fim de semana pelas mesmas motivações dessa fúria culinária em que me encontro hoje. Tanto que só agora estou interessada em escrever no blog sobre o fim de semana, porque estou pilhada na ideia de agarrar qualquer vestígio de tempo disponível fazendo trocentas coisas ao mesmo tempo.

Vou começar pelo doce porque estarei atendendo a pedidos. Todos já sabem da minha saga com a abóbora gigante. O que não sabem é que desde quando ela chegou a lâmpadinha "faça doce de abóbora" acendeu no meu cérebro levemente amalucado. Acontece que, prato vai, prato vem e nada deu mobilizar meus esforços sequer para procurar uma receita do tal doce, o qual eu ainda nunca havia tentado fazer. Até que, la estava eu vendo todos os programas de culinária do mundo na casa da Luciana na semana passada e começa um chamado Brasil no Prato, com nada mais nada menos, que Carla Pernambuco e várias quitandas. Dentre as receitas, qual não é a minha surpresa quando ela começa a preparar o quê? Doce de Abóbora. Era um sinal. Era o meu sinal. Era praticamente a Carla Pernambuco dizendo: "Vá lá fazer logo esse doce, menina."

Tá não foi assim, mas poderia.

No domingo, como ótima desculpa para usar todas as mil e uma funções do processador que comprei e foi entregue na sexta, comecei os preparativos para o doce ralando a abóbora em incríveis 30 segundos. O bicho funciona, apesar de ser um trambolhão maior do que eu estava esperando - destaque absoluto na minha cozinha que nem é tão diminuta assim. Óbvio que não me lembrava da receita completa, porque naquele dia a gente não viu TV com muita atenção. Só tinha certeza que um dos requisitos imprescindíveis era que a abóbora fosse ralada e isso foi dito com um "asterisco" pela chef. Certamente, não fossem essas maravilhosas máquinas modernas, o doce teria sido de abóbora em cubo mesmo, já que eu não ia ficar ralando meio quilo de abóbora na mão. Isso já não importa mais, com tudo preparado fui buscar a receita na internet e achei nesse site aqui.

Como não poderia deixar de ser não cumpri a receita a risca e coloquei um pouco menos de açúcar que o indicado. Para 500 gramas de abóbora moranga, 300 gramas de açúcar que ainda poderia ser menos, 100 gramas de coco ralado em flocos grandes, seco e do saquinho [o que fez o doce ficar com muito coco, já que a pessoa aqui não se ligou no momento que o coco seco não pesa o mesmo que o fresco], dois cravos, um pau de canela [que não era tão bonito quanto os do programa de TV] e um anis estrelado. O detalhe do coco não atrapalhou não e até acho que melhorou a qualidade do doce, dando uma textura bacana e meio pedaçuda.

Estou escrevendo isso desde ontem - não ininterruptamente, é claro - e agora preciso parar um pouco. Volto hoje ainda com a empada, e, só pra registrar minha louca noite de impeto culinário de ontem, quando parei de escrever por volta das 23 horas, com pão fresco para hoje pronto, saia do forno cerca de 1 quilo de granola caseira. Da série: evitando a periculosidade alimentar dos desprovidos de habilidade culinária.

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