Acredito que essa falta de inspiração também seja reflexo de um desânimo bem característico que me acomete depois do carnaval, quando de fato o ano começa a tomar contornos seriedade. Já tentei lidar melhor com isso, mas todo ano é a mesma coisa; últimos dias da semana do carnaval e o calafrio na barriga sinalizando que agora não tem mais jeito, acabou a moleza e, consequentemente, a parcimônia do resto do universo que de algum modo tem contratos ou necessidades que envolvem diretamente você - pessoa que até agora foi cozinhando tudo o que pode com a intenção de prolongar, mesmo que indevidamente, a sensação de estar de férias, mesmo que parcialmente. Ah! Deixa pra depois do carnaval...
Agora o depois do carnaval chegou e, trevas, acabaram as doses diárias de consolo proporcionadas pela sensação de que o mundo ainda não começou a girar de fato. Acho que por isso, passei por essa semana como quem espera algo, acordando cedo, dormindo nem tão cedo assim, contando cada um dos dias com a satisfação de que a semana ainda estava no começo [isso até dois dias atrás, é claro]. Parecia que o mundo estava acabando, quando na verdade é sempre o início que me dá certo arrepio. Apesar de tudo, vou me recuperar depois que as não tiver mais jeito e a segunda chegar, simplesmente, porque isso é assim. E este é o pensamento que estou procurando manter comigo para evitar desperdiçar os meus últimos dias de descanso ficando com uma tristeza irremediável.
Falei tudo isso pra dizer [ou para me contradizer] outra coisa. Como o blog é uma fonte consulta para minha pessoa saber quais receitas funcionaram e como elas foram feitas, nos meus dias de falta de inspiração e/ou preguiça de escrever eu iria optar por uma abordagem minimalista. Apenas para manter o registro em dia, postaria receita, método, erros e acertos e foto, quando houvesse. Seria uma espécie de post "quick and easy". Eu não perderia a informação e a memória dos fatos, tranquilizando assim a minha alma, mas também não iria precisar escrever uma pequena crônica diária a cada prato preparado, evitando assim o enlouquecimento precoce e algumas crises de ansiedade devido a sensação de "tenho que colocar isso no blog". Mente sã e zen é o que venho precisando.
Deixa só eu falar do que não falei lá em cima e lembrei agora. Como o desânimo "quarta-feira de cinzas" [mesmo que eu não não seja uma pessoa assim tão carnavalesca ultimamente] eu também acho que perco um pouco a minha capacidade de ficar atenta às coisas que acontecem no meu dia a dia. Vivo esses dias como se vivesse em um mundo blasè, em que tudo passa por você e não deixa impressões ou lembranças, nem mesmo as desagradáveis. É uma coisa muito ruim, porque não lembro das piadas e comentários engraçados do meu querido companheiro, nem das sensações que tive ao experimentar determinado prato. Logo em seguida, vai-se embora a minha capacidade de verbalizar aquilo que aconteceu. Perder a habilidade de registrar o mundo observado é o primeiro sintoma da falta de inspiração. Ou seria o primeiro motivo?
Eu ia, juro que ia, neste post, executar a proposta de receita anotada com simplicidade. Estava planejando apenas dar a explicação dos motivos da decisão rapidamente e, então escrever a receita em questão. No entanto já estamos a parágrafos de distância dessa possibilidade por pura e simples incoerência entre teoria e prática. Além do simples fato que na maior parte das vezes superestimo o tamanho ou a dificuldade da empreitada antes dela começar. Como eu já disse, a inércia é uma das minhas piores características [lido com isso e me esforço para não ceder a ela] e, por isso, inclusive, a fonte dos meus pesadelos sempre está nos inícios. Depois que eu começo a me mexer tudo fica muito fluido e normal. Viva o Newton!
Os biscoitinhos dos quais falarei neste post foram realmente um grande achado, fruto de algumas muitas e insistentes pesquisas na internet. Isso porque, já a algum tempo, eu venho procurando por alternativas saudáveis para aqueles famosos lanches fora de hora. Aqui em casa, não consumimos desses salgadinhos de supermercado, tampouco lanches prontos congelados. Entretanto exageramos um pouco na quantidade de biscoito de maisena e cream cracker, os quais, apesar de serem opções menos piores, ainda passam ao largo do quesito alimento saudável devido a quantidade de gordura interesterificada [nome chique de um tipo de gordura que substitui a hidrogenada]. Além, é claro, de todos os químicos que não seriam sequer classificados como comida numa análise das mais superficiais.
Fiz algumas experiências com receitas de cookies e biscoitos caseiros para tentar substituir um pouco da quantidade dos industrializados, mas a maioria das receitas que achei levam quantidades impublicáveis de manteiga. Sou adepta da manteiga como melhor tipo de gordura sólida a ser consumida e até consegui eliminar a margarina desta casa, mas não há quem consiga manter uma produção satisfatória de biscoitos caseiros a base de manteiga. Tanto pelo teor de gordura, quanto pelo preço da manteiga. Nosso orçamento doméstico não nos permite tais extravagâncias.
Não satisfeita com a maior parte das receitas publicadas em português recorri a uma varredura na internet em língua não nativa para ver o que poderia encontrar. Resultado: nesse ponto os gringos estão há anos-luz da gente. Encontrei muita substituição interessante para a manteiga e acho que terei uma gama maior de possibilidades para produzir meus próprios snacks e cookies. Creio que a pouca tradição em produzir cookies caseiros talvez contribua para a falta de opções sobre o tema por essas bandas, mas não sei ao certo se é só isso. É claro e evidente que os cookies amanteigados tem a incrível característica de derreter na boca, especialmente aqueles de são quase 1:1 em relação a farinha, o que é uma das vantagens incontestáveis desse tipo de massa. No entanto, o prazer da gordura pode ficar restrito a ocasiões específicas e esporádicas e ainda assim existir a possibilidade de ficar roendo uns biscoitinhos mais moderados no intervalo entre uma refeição e outra.
O achado está no site do David Lebovitz, para o qual eu só tenho elogios até aqui, já que acima de tudo o homem é um curioso. A receita é muito boa, os biscoitos não tem exatamente a textura de um cookie, mas em compensação não levam nenhuma gordura. A consistência da massa é resultado da mistura de melado com applesauce. Tive que fazer adaptações para substituir o applesauce, o qual seria uma espécie de purê de maça que não existe [pelo menos eu nunca vi] no Brasil. No lugar dele coloquei uma banana prata com aproximadamente o mesmo peso que a receita pedia de applesauce. Como nada é perfeito, num lapso de falta de atenção, eu li corretamente a receita várias vezes e na hora de fazer acabei trocando o bicarbonato de sódio por fermento químico. Coisas de uma mente atrapalhada potencializadas pela receita em língua estrangeira. Ainda consegui retirar um pouco do fermento e colocar bicarbonato no lugar, mas só saberei o quanto isso interferiu no produto final quando repetir a receita.
Fofos, inofensivos... |
E merecem um close! |
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