terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um aperitivo pra chamar de seu. Esfihas de um carnaval produtivo.

Geleia que funciona [com muito poder geleificante], sorvete de amora com calo na ponta do dedo, quibe de forno com recheio de pasta da grão de bico e esfihas que por enquanto não causaram nenhum acidente. Este vem sendo meu roteiro culinário no famigerado feriado de carnaval.

Pra não dizer que eu estive só na cozinha, já dei dois belos passeios de bicicleta em dois dias - um recorde absoluto! Num deles fui conhecer a fazenda de produtos orgânicos aqui perto e no outro achamos um lugar surpreendente escondido bem perto de casa. Claro que fiquei morta de cansada, mas no saldo final valeu a pena o esforço.

Diário de um domingo de carnaval.

[19/02/2012 - 10:43] - Ricota sorando para o recheio da esfiha.
[19/02/2012 - 11:35] - Sorvete de amora no freezer para a sobremesa.

Vi esse de sorvete [na verdade frozen yogurt] de amora aqui, com a referência de que era uma receita do programa do Jamie Oliver. Tinha muitas amoras congeladas, da última temporada em que as frutinhas dominaram a paisagem na minha rua, e elas não acabaram ainda. Tem mais uns 400 gramas que darão para uma geleia ou uma torta, ou ambos. Comprei um garrafão de iogurte já pensando nisso, porque embora eu tenha me apegado a tarefa de fazer sorvete, esse lance de um litro de creme de leite e gemas e tal não pode ser sempre. Nas minhas regras pessoais, inventadas sem sentido ou critério algum, apenas pela genuína necessidade de delimitar as coisas rotineiras, acho que vou instituir o ciclo do sorvete caseiro em que os sorvetes com creme serão produzidos entre dois sorvetes de iogurte ou de frutas puras [como o de banana] ou tipo sherbet [que ainda não testei]. É a regra "gordura sim, gordura não" colocada em vigor nesse instante.

Já fiz o sorvete e não tem mais volta,  mas tive a impressão que a consistência não será melhor que a do meu último frozen de amoras. Vamos esperar para ver e segundo meu companheiro para usar, finalmente, a colher de sorvete. É comprei uma colher de sorvete de verdade, que suponho - ainda não testei - fazer bolas bonitas e bem acabadas. No mundo paralelo daquele que compartilha este lar comigo, eu só fiz o sorvete para usar a colher, mas não é verdade, pois eu nem lembrava dela quando decidi fazer. Sendo que, caso ele não me lembrasse, era capaz de eu tirar o sorvete com as colheres de mesa comuns aqui de casa, tamanho é a meu nível de avoamento.

[21/02/2012 - 10:42]

Já tomei o sorvete de amora e minhas suspeitas se comprovaram. A minha versão é melhor que a do sujinho do Jamie Oliver. Que pena! Além de tudo, a estreia da colher de sorvete foi vergonhosa, perdendo apenas para as cenas de lasanha desmontando na hora de servir. Quando fomos experimentá-lo, peguei a colher cheia de empolgação, retirei o pote do freezer, abri todos os invólucros com cuidado e no momento de meter a colher... O frozen tava mole demais e, como era de se esperar, nada de bola de sorvete. Mesmo assim, coloquei ele nos potinhos para o comentário dos que apenas observavam a cena: "Tá igual acaí!" Droga! Mas eu não perdi de zero, o gosto ficou satisfatório, mas não gostei da amora dominando o sabor do iogurte.

Esqueci de falar porque o sorvete deu calo na ponta dos dedos. Foi porque a burrinha aqui, congelou um monte de amora, adivinhem, com cabinho. Na hora de usar tive que ficar removendo os cabinhos um a um e quase perdi a sensibilidade dos dedos fazendo isso. Lição: nunca congele amoras com os cabos. Pelo menos agora o restante da amora congelada já está devidamente sem cabos e pronta para o uso. Só na minha cabeça preguiçosa mesmo para congelar a coisa sem estar pronta para usar no momento da necessidade. Se eu parar para pensar meio segundo, vejo que não tem nenhum sentido fazer isso, já que o que era pra facilitar o cotidiano culinário vira um problema com potencial para infernizar o dia.

Voltando as esfihas, que eram para ser o objetivo deste post, elas só foram feitas ontem, porque no domingo decidi em favor de um bolo para atender pedidos clamorosos e aplacar vontades incontroláveis. A receita do bolo fica para outro dia, espero que não muito longe, pois essa receita é umas das favoritas aqui de casa e é sempre muito solicitada. Apesar de que quando eu perguntei ao meu querido companheiro se esse era o bolo favorito dele ele foi taxativo ao afirmar que não sabia. Como ele não sabia, ele sempre pede esse bolo. "É porque tem um monte de bolos que eu ainda não experimentei e não posso dizer isso antes de comer todos os outros."

Ontem - dia da esfiha - repetimos pela manhã o passeio de bicicleta que fizemos no sábado. E preciso dizer que fico muito feliz de não me deixar levar pela preguiça algumas vezes, especialmente neste feriado, em que conhecemos muitas coisas e lugares apenas passeando de bicicleta. Vou usar a descrição do meu queridinho para definir o lugar e somente uma foto para ilustrar a descrição e comprovar a impressão que ele teve.

"Parece aqueles cenários que você vê em filme. Você nunca esperaria encontrar algo assim."

Em cima. Barragem.

Embaixo. Cachoeira.
Não preciso falar nada.

E é a mais pura verdade. Além da paisagem em si, a surpresa da descoberta e a sensação de estar explorando e quase que desbravando os lugares é muito gratificante. O local fica aqui bem perto de casa e chegamos lá pela primeira vez no sábado, num dos passeios. Infelizmente a câmera estava sem bateria e não fizemos fotos do dia da descoberta. Ontem voltamos lá acompanhados pelo nosso vizinho com seu filho. Todos de bicicleta, porém sem muita disposição. Seguimos algumas trilhas no meio do mato seguindo um riozinho, mas em um dado momento, o mato acabou e para nós restou enfiar os pés na água e seguir "caminhando por dentro do rio". Ótima sensação! Apesar do pé molhado, do tênis cheio de areia e da meia que terei que jogar fora tamanho foi o estrago. E o melhor, sentar na ponta de uma barragem antiga e lavar os pés pra voltar pedalando morro abaixo. Vou repetir uma frase certeira que vi no twitter da Ana Elisa do La Cucinetta, que está num momento offline.

"Toda decisão que você toma tendo como base a preguiça, é uma decisão equivocada."

A frase pode não ser bem desse jeito, mas parece que foi feita para mim, porque deixo muita coisa de lado por causa da preguiça. Até escrever nesse blog é uma iniciativa que está diretamente ligada ao desconforto que me causa saber que a inércia é uma das minhas características mais marcantes e, claro, frustantes.

Quando voltamos do passeio, almoçamos e fui começar a fazer a esfiha. Fiz a massa com: 100 gramas de farinha de trigo, 100 gramas de farinha integral, cerca de 20 gramas de gérmem de trigo e 30 gramas de semolina, 1 colher de chá de açúcar, meia colher de sopa de fermento seco, duas colheres de sopa de iogurte, 100 ml de água, 50 ml de buttermilk, 50 ml de óleo de canola e meia colher de chá de sal. A massa ficou descansando em temperatura ambiente e ficou muito pegajosa. Levei um tempão sovando, mas no fim ela ficou super macia.

Estou aqui falando dela e tive que ir lá pegar uma pra comer, não resisti. No dia seguinte ela ficou até mais gostosa.

Depois foram os recheios: um de espinafre, ricota caseira, alho poró e nozes. Só picar tudo - cru mesmo - misturar com a ricota e usar. Para o outro recheio usei carne de soja, da seguinte maneira: hidratei a carne em cubos com um raminho de alecrim, depois processei ela com meia cebola, um dente de alho, salsinha crespa, sementes de mostarda, pimenta calabresa, zathar, sal e molho shoyo. A carne de soja tem a vantagem de ficar bem sequinha e não precisar cozinhar previamente para servir de recheio. No forno ela vai incorporar melhor os temperos e cozinhar junto com a massa.

Uma coisa que me incomoda na coisa toda de fazer esfiha é o trabalho que dá ficar montando uma a uma, já que para tal tarefa me faltam alguns requisitos como paciência e habilidade. Na terceira esfiha eu já estou amaldiçoando o recheio que não acaba e os salgados começam a assumir formas geométricas estranhas, nada parecidos com triângulos equiláteros. Sinto que meu negócio não é a delicadeza. Contudo, agradeço por ter tido a iluminação que me fez desistir de fazer a receita inteira, com 500 gramas de farinhas. Já que isso ira me render muito mais esfihas que a minha capacidade de manter a calma e o equilíbrio na hora de recheá-las.

Infelizmente, o recheio de espinafre vazou em algumas esfihas, devido a ricota que estava muito fresca e úmida. Tudo bem que ajudou um pouco o fato de eu ter colocado muito recheio em algumas delas - foi a muita falta de paciência falando mais alto. O fato é que, contrariando as espectativas, ou não, a de espinafre teve ótima saída. Até eu que tinha preconceito com o espinafre fiquei feliz com o resultado [não o estético]. De tudo isso, o melhor, como sempre, são os comentários:

"Ficaram muito boas. Você tinha razão [viram, eu tinha razão - eu já sabia] sobre não existir comida ruim e sim mal-feita. Essa de espinafre ficou ótima. [coloquei aqui uma boca cheia de esfiha]."

Só um adendo muito atrasado. Não consegui nenhuma foto da sfiha para postar, o que é uma pena jpa que elas ficaram muito boas. Só que às vezes eu me esqueço das fotos ou a comida não era muito fotogênica, como foi o caso da sfiha de espinafre com ricota. Eu até ia fazer um cenáriozinho para as de carne de soja, mas comemos no almoço e na hora acabei esquecendo.

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