Neste último fim de semana, que ainda não acabou, testei minha habilidade culinária em duas receitas que eu nunca tinha feito antes, pelo menos não com sucesso. Uma, da série quero fazer em casa tudo que posso comprar no mercado, foi a geleia de amora. Na verdade, na safra de amoras do ano passado eu já havia tentado fazer geleia com elas, entretanto por um erro de cálculo no dia seguinte eu tinha um quebra-queixo de amora que nem saiu do vidro de jeito nenhum. Obviamente não arriscamos comer essa geleia que poderia colar nossos órgãos internos para sempre. Foi pro lixo com vidro e tudo, porque ela se apegou profundamente a ele e achei que não seria justo separá-los. A outra, da recente empreitada de consumir tudo que tenho no armário e geladeira antes de comprar produtos exóticos de novo, foi tapioca para acabar com o polvilho azedo que comprei há milênios para fazer pão de queijo e não fiz porque a disposição para encarar a receita nunca batia com os momentos em que havia queijo disponível na geladeira.
A geleia de amora começa com uma das coisas que mais gosto do lugar onde moro, desde que eu vim morar aqui: ter pés de amora lotados na rua de casa. A rua não é movimentada e acho que os pés de amora viraram atração turística da rua, porque vive cheio de gente pendurada neles catando frutinhas. A árvore é bastante sem-vergonha, já que qualquer galhinho plantado já sai dando fruta e as árvores tem amoras em quantidades absurdas, dignas de dores de barriga homéricas.
Pés de amora da minha rua |
Galho de um pé de amora recém plantado. |
Amoras nascendo no dito galho [árvore sem-vergonha] |
Para mim, pessoa criada na cidade grande com danoninho e toddynho, morar em um lugar que tem fruta em árvore ao alcance das mãos foi uma grata surpresa e toda vez que a estação começa fico empolgada com o fato de pegar meu potinho e ficar lá catando frutas na rua. Na rua. Sem contar que a sem-vergonhice da árvore é tamanha que os galhos são baixos e praticamente vêm até você dizendo "me escolhe, me escolhe". Burro do Shrek Style. Trabalho zero.
Amoras no pote, comecei os processos para fazer a geleia. Tirei todos os cabinhos, fiquei com as mãos pintadas de roxo um tempão [todas as coisas onde a amora encosta ficam roxas], lavei bem as frutinhas e preparei uma panela com um dedo de água e meia maça cortada em cubos. Pus a panela no fogo e quando a água esquentou um pouco joguei as amoras [acho que tinha duas xícara mais ou menos]. Com as amoras na panela fui apertando elas com a colher para ficarem esmagadas. Depois disso passei o líquido pela peneira e amassei bastante para pegar toda a polpa da fruta deixando cair uns pedacinhos. Com base nessas instruções aqui, medi o suco - 1 xícara e meia - voltei com ele para a panela e acrescentei metade da quantidade de suco de açúcar - 3/4 de xícara, coloquei apenas algumas gotas de limão e deixei ferver testando com o pires no freezer neuroticamente quase que de cinco em cinco minutos.
Quando eu achei que a geleia estivesse pronta, já estava com o vidro pronto para recebê-la, coloquei todo o belo líquido roxo lá dentro, tampei e fervi o pote achando que tudo estaria resolvido no dia seguinte. Devido ao trauma da experiência anterior, acho que deixei ferver tempo de menos com medo de tudo virar outro grande grude e hoje pela manha a minha geleia de amora era um belo suco concentrado de frutas. E essa constatação veio acompanhada de uma bela frase de incentivo do engraçadinho que mora comigo. "É pra molhar o pão aqui dentro, é?" #fail. Paciência, pois nem tudo está perdido. Hoje, abri o vidro eu mesma sem ajuda de ninguém, coloquei tudo na panela de novo para dar uma reduzida e fui fazendo o teste. Achei mais uma vez que já estava bom e agora o vidro tá lá, em cima da pia, esperando a reação dos componentes mágicos que modificarão sua consistência. Espero que desta vez esteja bom, porque nessa segunda redução já foi metade com vidro embora.
Tenho boas recordações de tapioca recheada com queijo e frango desfiado. E também foi uma surpresa para mim descobrir que ela era feita de polvilho. Li nesse post do Panelinha essa informação besta que eu nem sequer tinha pensado sobre. Tenho a impressão de que em algum momento achei que existia um tipo de farinha especial para isso, mas na verdade isso foi uma daquelas coisas que você não parou para pensar sobre até que tropeça nela por algum motivo [no meu caso acompanhar foodblogs pelo feed].
Minha ideia original para a tapioca deste fim de semana era usar a sua massa fininha como uma base para molho e queijo como uma pizza. Já que estou com um pedido de pizza pendente e tentando burlá-lo para ficar mais saudável e com os ingredientes que precisam ser utilizados. Fiz todos os procedimentos como indicado no blog para os principiantes, com polvilho azedo. Hidratei 250 gramas de polvilho azedo com 500ml de água e deixei lá. Como tudo que faço assim pela primeira vez me deixa um pouco ansiosa e também porque coloquei o polvilho de molho de manhã para usar a noite - o que não fez o tempo de espera ser preenchido com uma dormida - de tempo em tempo ia eu lá mexer no troço e conferir o que estava acontecendo. Apesar de toda minha desconfiança de que aquilo ia virar farinha eu persisti e deixei a coisa lá.
A noite chegou e eu ainda não estava convencida que aquilo ia funcionar, então o pobre polvilho passou a noite toda afogado na água esperando o café da manhã do dia seguinte. Hoje quando acordei fui direto encarar minha tigela cheia de uma coisa melequenta, na qual eu não conseguia enxergar aquela farinha da tia da banca na rua. Ficou muito úmida e com uma pesquisa na internet descobri que eu podia colocar a coisa em um pano de prato suspenso para terminar de escorrer o líquido. Montei uma arapuca rústica com panos peneiras e bacias para "suspender" a "massa". E depois de algum tempo, incrivelmente a coisa virou farinha, passando os pedaços da massa pela peneira. Não contive os impulsos de preparar uma naquele momento, apesar de estar na hora do almoço.
Aqueci a frigideira, sob olhares atentos e curiosos. Coloquei umas três colheres de farinha na panela e esperei tudo grudar - não na panela - depois recheei com doce de leite e dobrei. Deu tudo certo, exceto pela geometria. Ficou uma tapioca formato ameba e não redondinha, mas eu já sabia que ia precisar de um pouco de treino e tem bastante farinha ainda pra isso.
Tapioca ameba: a primeira a gente nunca esquece. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário