Aviso importante: esse post contém lamúrias, portanto pense bem antes de continuar.
Nesse fim de semana mais longuinho devido a um feriado na sexta-feira tentei manter meu cardápio enxuto para não abusar do tanto de tempo livre em casa. Às vezes, quando fico em casa dá vontade de comer toda hora e não sei ao certo o que motiva essa ansiedade, já que não é sempre que estou assim. Nesses dias de fome descontrolada é mais difícil manter a sincronia do intervalo de três horas entre cada refeição, sem contar que ter mais tempo para cozinhar dá margem a ficar inventado ainda mais coisas para comer.
Embora tenha ficado naturalmente moderada - o que significada sem vontade de comer toda hora, mas com o comichão inquietante de ficar cozinhando - nos últimos fins de semana, tenho desenvolvido algumas estratégias para quando não estou numa relação tão zen assim com a comida. Uma delas é desmistificar a equivalência entre comida gostosa e junk food. Eu adoro pizza, principalmente a que fazemos aqui em casa, mas procuro não pensar nela como a única opção saborosa que posso consumir. Em uma oportunidade, troquei a massa de pizza por pão sírio e acho que resolvi o problema de matar a vontade, sem exagero. Explico: quando faço pizza em casa a massa rende, no mínimo, duas das grandes e acabo comendo demais, o que não acontece quando temos apenas uma pequena pizza do tamanho de um pão sírio. Sem contar que um dia antes esse pão rendeu um saudável sanduíche frio com alface, tomate, beterraba, ricota temperada e carne assada desfiada.
Mas nesse final de semana em particular a vizinhança teve a brilhante ideia de fazer um churrasco, o que já me deu culpa só em aceitar. Gosto da ideia de me reunir com pessoas para comer e conversar, e também gosto de churrasco, e também não quero ser a chata que leva legume para a churrasqueira, mas tem alguma coisa que me aborrece, gastronomicamente falando, nesse tipo de comida que eu não tenho certeza do que é. Talvez seja a sensação de que exagero que você sente ao comer demais ou o desconforto de ficar embatumado tantas carnes depois. Não sinto culpa de gordinho - pela comida em si - mas sempre me parece que comer desse jeito é uma agressão contra si próprio. Espero que essa história de comer melhor não se torne um problema toda vez que os eventos sociais envolverem comida, mas não me sinto mais tão à vontade assim para ficar me empanturrando de carne defumada e farofa.
E o pior, fico tentada a fazer umas experimentações culinárias nos temperos, preparações e tipos de carne que serão assadas [para dar um toque gourmet no churrasco], e sinto que isso não terá boa recepção na confraria do carvão composta pelos machos sem frescura. Embora eles tenham aceitado usar sal aromatizado, ainda que com reticências das primeiras vezes, somente os homens comandam a grelha, dotados de todo o seu instinto primitivo de assar à moda das cavernas. Cuidado você deve ter, já dizia o mestre Yoda. É muito fácil parecer esnobe quando você curte culinária, presta mais atenção no paladar dos alimentos e começa a pensar onde estava com a cabeça quando achou que sorvete do supermercado era uma coisa gostosa.
À propósito, passei pela experiência traumática do sorvete hoje. Enquanto estava comendo um sorvete em sua versão de creme [pelo menos era o que dizia a embalagem] com a famosa banana assada na churrasqueira [a banana, e só ela, foi ponto alto do almoço para mim] só conseguia pensar em gordura hidrogenada. Tenho ficado mais exigente e menos tolerante com produtos antes incontestáveis - e que muita gente ainda acha muito bom - e isso me obriga a exercitar meu bom senso para não falar demais e acabar chateando ou ofendendo alguém. Pra completar, acho que não fui só eu quem passou pelo trauma do sorvete, pois o meu querido companheiro se ofereceu para me dar uma sorveteira no Natal [uêba]!! O que é ótimo porque talvez ganhe uma sorveteira e não me sinto tão freak com minhas chatices gustativas.
Parêntesis: percebam como esses posts de hoje vêm se encaixando.
Conclusão: não quero ser a saudável chata, muito menos a metida a chef mais chata ainda, mas preciso pensar sobre esse negócio de churrasco para tentar me encontrar dentro dessa ode à comilança. E lá vou eu de novo atrás do equilíbrio.
Como a proposta para "queimar uma carninha" surgiu no ontem de manhã, já comecei a pisar no freio desde a hora do almoço. Desisti de fazer carne com batata [óbvio], arquivei as panna cottas para comer outro dia e tirei fatias finas do pão de canela e passas para fazer um sanduíche. No jantar fiz umas batatas, mais ou menos como as do vídeo aí em baixo, com repolho [tentei dizer que o repolho era alface pra fazer "as pessoa" comer, mas não deu certo porque não sei mentir nem por uma boa causa] e tomate. Fiz as batatas puras com azeite, sem nenhum tempero e com o primeiro cozimento no microondas.
Cheguei a fazer um outro sorvete com o que sobrou do creme de leite da panna cotta, mas foi um projeto experimental e nem cheguei a comê-lo direito para definir se está ou não satisfatório.
O churrasco foi hoje no almoço e ainda estou com a estanha sensação de ter comido um boi inteiro. Para não ficar apenas me lamentando nessa ladainha toda de culpa e coisa e tal, fiz uma farofa da qual realmente eu gostei.
Nunca tinha me dado muito bem com farofas. Pelo menos nunca tinha experimentado nenhuma parecida com a farofa sabor ponte de safena que o pessoal lá de casa fazia nas festinhas e encontros familiares - que foram muitos. E, sempre pode ficar pior, mesmo achando que o problema da minha farofa era mão leve na manteiga ela ficava uma papa gordurenta quando eu ultrapassava a linha do entupimento coronariano. A farofa de hoje, pelo contrário, levou apenas a gordura dos cubos de bacon que eu coloquei e ficou boa, apesar de eu achar que a proporção entre a farinha e os outros trecos ainda pode ser ajustada. Coloquei bacon, cebola, alho, ovo, farinha com gérmen de trigo tostados previamente, sal e passas. Carreguei um pouco a mão no sal e acho que ficou mais seca do que eu gostaria, mas creio que seja esse o caminho em busca da farofa perfeita.
P.S.: Estou desistindo de comer qualquer coisa até o fim do dia de hoje.
Update de mesmo dia: voltei porque esqueci de falar da calda de açúcar e canela que fiz para cobrir a panna cotta. Foi uma calda que deu errado e depois deu certo. Fiz com 1/3 de xícara de açúcar cristal, 5 colheres de água e uma espremidinha de limão. Tudo muito bom se a bicha não tivesse endurecido quando esfriou. Como não ia perder para uma calda de açúcar, eu voltei ela para o fogo e coloquei mais 1/4 de xícara de água, deixei ferver um pouco reduzindo o mínimo e pronto. A consistência ficou perfeita para uma calda mole.
Existem 1.475.876 sites sobre gastronomia, culinária, receitas e afins... Desses, eu frequento com certa regularidade pelo menos uns 598.009... Mas, nem sempre, para não dizer quase nunca, as receitas que vejo são seguidas à risca... Às vezes, mudo um ingrediente, às vezes, pego um pouco de umas três ou quatro receitas... Criei esse blog de mim para mim mesma como uma forma de ter sempre um lugar para lembrar quais receitas funcionaram, de quais eu gostei e como foram feitas por mim.
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