sábado, 22 de outubro de 2011

Tudo o que você quer num dia como este... É uma sopa como esta.

A sopa de ervilha é um grande clássico nessa residência [50% da audiência desse site - duas pessoas, tirando eu - sabe disso perfeitamente e já experimentou a dita cuja]. Não há um inverno, ou outra estação qualquer, que não se faça ela algumas vezes. O pacote da ervilha faz parte das compras com naturalidade, como pão, farinha e leite. O fato que é esse é um prato tipo "Chuck Norris approves", ou sucesso garantido no dizer do meu querido companheiro.

E, desde que eu me entendo por gente, culinarísticamente falando, eu reproduzo essa receita que já fazia sucesso na casa de mãe e nas reuniões da minha família. No caso desta sopa, entretanto, acho que superei a geração precedente fui aperfeiçoando o preparo, de modo que hoje consigo fazer versões que considero melhores do que eu comia quando era mais nova, nas casas de minha mãe ou tias.

Esse também é um daqueles pratos que: 1. você faz no famoso olhômetro, sem medir nada; 2. é uma obra totalmente aberta e aceita muitas variações do tipo não tem uma coisa, põe outra; 3. por isso mesmo, nunca leva os mesmos ingredientes; 4. caso leve os mesmos ingredientes, tem algum componente místico [que deve envolver alinhamento de planetas, pressão atmosférica e humor da ervilha utilizada] que faz com que uma sopa nunca fique igual a outra já tomada anteriormente. Ou seja, para mim, é um prato paradoxal por ser um clássico e ao mesmo tempo completamente imprevisível.

Ontem, nesse frio todo com que a primavera nos agraciou nesse outubro, fiz essa sopa com alguns ingredientes nunca antes utilizados na história desse prato. Eu sei que em time que está ganhando não se mexe [na verdade não sei quem inventou esse ditado besta], mas acho que essa máxima não se aplica a uma pessoa que deseja superar o seu conservadorismo culinário no quesito de sopas e caldos. Assim sendo, seguindo a lógica deste blog e também como forma de comprovar cientificamente que esse prato é irrepetível, estou escrevendo essa receita secreta com todas as medidas [depois de ler esse post de novo vi o quão científico é uma pitada disso, um mínimo daquilo, por isso não sai igual] que usei na preparação para testar se é possível reproduzir a receita e ela ficar idêntica em sabor.

Utilizei 250 gramas de ervilha [sim, eu pesei = #insanidade] e deixei elas de molho em água por 6 horas, coloquei de manhã e fiz a sopa no fim da tarde. Bati no processador 3 dentes de alho, 1 pedaço de gengibre de uns 2cm e uma pitada de pimenta calabresa seca powerful [essa pimenta tá bem curtida]. Fogo baixo. Na panela de pressão coloquei cubos de bacon [tá, esse eu não medi] até liberarem a gordura e ficarem bem crocantes; retirei o bacon e coloquei 1/2 linguiça calabresa também em cubos para fritar até ficarem beeeem torradinhas. Depois de fritas eu as retirei e refoguei lentamente 1/2 talo de alho poró [só a parte branca] e essa mistura feita no processador, regando com água aos poucos, até ficar meio caramelizado [marronzinho]. Voltei com o bacon e a linguiça para a panela e depois joguei toda a ervilha escorrida para refogar e agregar bem o gosto dos temperos. Quando começou a dar sinais de que estava grudando no fundo joguei um pouco de água mexi bem para fazer uma espécie de deglacê, juntei 1/2 colher de chá de sal, um mínimo de pimenta do reino e joguei cerca de 2 litros de água quente na panela para cobrir tudo. Quanto começou a levantar fervura, fechei a panela de pressão e aumentei um pouco o fogo. Mais 20 minutos no fogo depois que começou a chiar e pronto. Então, abri a panela e estava um pouco grudado no fundo [acho que com a ervilha mais macia por causa do molho, 15 minutos de fogo eram suficientes], nada que abalasse a estrutura da sopa, mas por precaução troquei de panela, testei o sal, coloquei mais 1/2 colher de chá [acho que também não precisava] e, como ainda estava um pouco cedo para o jantar eu deixei descansando por algumas horas até comer [um verdadeiro gesto heróico].

A outra parte envolvida nessa relação chegou bem na hora da fritura da linguiça [prêmio de timing para a cozinheira, porque é uma grande satisfação quando as pessoas chegam na hora do melhor cheiro na cozinha para atiçar todas as lombrigas #feticheolfativo]. E quando chegou queria café. Toca então a fazer um café mexendo a sopa e bizoiando a água e colocando o pó, afff! Deu tudo certo no fim, mas depois do café, quando ele já ia subir para o banho foi dada a notícia: "Essa sopa hoje é um pouco diferente". "Diferente por quê? O que tem nela?". "Gengibre e alho poró, pra ver como fica". Dessa vez passou - pelo menos era o que parecia - porque não tinha nada que sugerisse algo muito desconhecido dentro desse universo gastronômico do tamanho do armário de rodoviária.

Sopa pronta. Ao ver a sopa na outra panela veio logo o questionamento primeiro com a expressão no rosto e depois verbalizando:

"Uê!???".
E já veio a explicação:
"Pegou um pouco no fundo, ficou bem grossa, aí eu troquei de panela só pra garantir".
E a resposta infame: "Foi o gengibre que sugou toda a água da sopa e levou para uma outra dimensão fora do planeta".
"Pois é,  né? O gengibre é estranho, não pode ser mesmo desse planeta. Isso dá um filme, sabia? Gengibre: o estranho passageiro."
"Conta a história dos gengibres alienígenas que vem para Terra sugar toda nossa água..."
"Para levar para o planeta dos gengibres?".
"É. Até a cozinheira que tem um blog salvar a humanidade."
"Aí não, porque já fica muito verossímil."

FIM

Isso é o que dá a criatura trabalhar no sábado!!

Mas a sopa, ficou muito boa mesmo. Grossa como um creme e quente na medida certa.

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