sábado, 29 de outubro de 2011

De volta aos pães: pão de canela e passas

Feriado na sexta-feira é um bom motivo para fazer pão, até porque já tem um tempinho que não amasso nada. Um pão que começa na quinta, mas que apesar do tempo necessário para as criaturinhas agirem sobre a massa não dá muito trabalho para ser feito. É mais uma questão de planejar as tarefas, coisa que tenho feito com mais frequência e habilidade ultimamente.

De certo modo, a minha mudança nos hábitos alimentares está diretamente relacionada, nesse momento inicial de incorporar o novo estilo, a uma disciplina - um tanto quanto rígida - que inclui comer de três em três horas porções pequenas de alimentos variados, contabilizando as propriedades de cada uma, inclusive; beber quantidades absurdas de água ao longo de um dia, e, claro, sofrer as consequências de não ter uma bexiga tamanho XG; mastigar tão bem a ponto de doer o maxilar, prestando atenção no gosto e na textura de cada coisa; e, tentar não me privar demais de coisas gostosas, o que pode parecer um paradoxo, mas na verdade fica fácil quando você presta atenção no que come e procura uma cozinha mais ligada a coisas simples e caseiras, com temperos diferentes, abolindo conservantes, corantes, acidulantes, flavorizantes e todos essas coisas que não pertencem a nenhum dos reinos que você estudou em biologia [dos quais é claro eu não me lembro].

E, justamente por causa dessa disciplina toda, tenho exercitado o meu lado estrategista mais frequentemente. Ao invés de deixar para decidir o que comer na hora da fome, já traço mais ou menos, de acordo com os passos do meu dia, aquilo que irei precisar dentro dos intervalos definidos. Parece desgastante, mas gostar de cozinhar me motiva a pensar no que comer - meio óbvio - e saber que estou no início do processo de reeducação também faz com que isso pareça apenas uma etapa. Espero, sinceramente, que com o passar do tempo, tudo isso meio que se automatize e que os bons hábitos perdurem até que não precise mais pensar sobre eles. tenho me sentido bem com a nova fase, fisicamente sobretudo, e acredito que uma certa rigidez no início ajude a sedimentar as coisas. Mesmo que para isso tenha que recorrer a mecanismos bizarros como o programinha no celular que avisa quando você tem que beber água. É engraçado e meio bizarro você ir marcando o quanto já bebeu recebendo frases de incentivo em troca de cada copo d'água. Entretanto, só o fato de saber que o programa existe no telefone já faz com que a quantidade de líquido passe a ser uma preocupação a mais no seu dia [pelo menos nesse início], já que acho que chegava a passar um dia inteiro sem beber água.

Então, assim vai indo, sem nenhum investimento mirabolante em gadgets milagrosos, sem nenhum plano de ação de 12 passos que promete ser "a solução de seus problemas", e principalmente, apelando para a simplicidade daquilo que você faz por acreditar na ideia. E, não, não estou no programa de dieta Verão 2012, vou apenas tentando atacar os problemas que de fato me incomodam no que diz respeito a ter uma vida mais saudável. Não apenas como uma fase com começo, meio e fim - por isso tenho certa implicância com a ideia de estar de dieta - mas como um estilo novo de encarar as coisas, criando novos conceitos ou atualizando, ou apenas, praticando os antigos.

E, sim, eu não me abalo mais pelo empadão e a batata do mal [corada] do restaurante em que eu almoço. Como minha beterraba felizona! Nunca fui tentada pela batata frita dos infernos, mas sempre que tinha a corada maligna eu pegava, o mesmo para o empadão. Também cortei relações com o doce de abóbora radioativo [se é que aquilo leva abóbora]. Agora me sinto uma pessoa um pouco mais evoluída. 

Mas é o pão? De canela com passas levemente inspirado pelo tal do pão de forma da Nutrella que agora parece que virou moda e é o preferido de 11 entre 10 pessoas que escrevem pela internet a fora. Eu comi esse pão pela primeira vez pouco tempo atrás na cada de minha tia, que, diga-se de passagem, também aaaamaaa o tal do pão - não sei se influenciada por alguém ou por escolha própria - e me fez comer um monte deles - até eu ter certeza que também aaamooo ele - quando fui visitá-la noutro dia. Além de todas as outras milhares de comidas preparadas com muita antecedência e a com precaução excessiva de quem não recebe muita visita e quer mostrar que é boa anfitriã. Fico imaginando a angústia que deve ter sido todo esse planejamento, fora o trabalho que deve ter dado. Mas que fique claro, foi ela que convidou.

O pão é bem gostoso mesmo e por acaso achei uma versão dele na internet para a máquina de fazer pão. O pão industrializado é bem macio e leve, como todo pão de forma, e tem um gosto adocicado que combina bem com manteiga ou requeijão. Acho que ainda não aaamooo o pão, mas quis experimentar uma versão caseira para ver se ficaria parecido. Não tenho máquina de pão, pois vivo bem sem ela e procuro manter a minha sanidade em dia comprando apenas as coisas que me fazem falta de verdade na cozinha, evito promessas de facilidades extremas bem como coisas monotarefas [aposto que o dono da fábrica da máquina de pão quer que todos os seus pobres trabalhadores sejam flexíveis e adaptáveis e vai querer me vender um treco que só faz uma coisa]. Já fiquei tentada a comprar uma, mas nem cheguei a ficar muito empolgada já que a ideia morreu três ou quatro sites de pesquisa sobre o assunto depois. Então, foi na mão mesmo que tive que resolver as coisas. Old school style.

Achei mais de uma receita desse pão, mas a que mais me interessou foi essa aqui. Não sei se porque sou atraída pelas coisas mais difíceis ou porque toda aquela história de soaker e hidratação da farinha parecia muito científico e crível [acho que tenho uma queda por explicações lógicas que fazem as receitas parecerem ter sentido, tipo, How stuffs works]. Sei, porém, que a receita era de um pão 100% integral, ou seja, sem farinha de trigo branca, e como eu não pretendia estragar um monte de ingredientes - incluindo meu iogurte caseiro - em um tijolo de canela e passas liguei o botão da prudência, que só tem quem já passou pelo fracasso culinário, e resolvi fazer o pão 50% integral. Levando em conta que nunca tinha feito essa receita antes, foi até um certo avanço, porque só tinha feito pães com no máximo 30% de farinha integral.

Fiz a preparação do soaker e da biga na quinta-feira a noite antes de dormir. A massa da biga ficou com uma textura muito boa para sovar [daquelas que dá até gosto de ficar amassando], fiz toda com farinha comum e usei um pouco de leite para completar o volume do iogurte porque ele foi quase todo no soaker. No dia seguinte retirei as preparações da geladeira e amassei tudo junto com o restante dos ingredientes utilizando apenas 5 colheres de sopa da farinha comum, porque acho que pães ficam mais leves e macios se o ponto for dado na sova e não com o acréscimo de farinha. Ficou bem grudenta, mas consegui chegar ao ponto que eu queria, não sem antes ter que ficar lutando para as passas ficarem na massa. Foi meio hilário, mas na medida em que eu ia sovando as passas iam pulando da massa - e davam altos vôos. E eu igual uma louca de tentáculos amassando o pão, tentando bloquear as bolinhas pretas saltitantes que iam em direção ao abismo do fim da bancada e catando as que rolavam para a pia para colocar numa tigela. E aqui entram duas ressalvas em relação a receita original:

1. colocar as passas no início só não dá problema para quem vai enfiar tudo na máquina de pão, que é quem vai trabalhar, e com uma tampa por cima;
2. se você vai usar as próprias mãos para amassar o pão, coloque as passas no fim, antes de modelar.
3. é melhor utilizar menos passas do que a quantidade pedida porque não devolvi todas que catei para o pão, justamente por ser um excesso.
4. conclusão, sacrifiquei minha batata ao curry à toa, porque não precisava ter gastado todas as passas na receita do pão.

Resultado final: ficou gostoso, mas ainda um pouco denso demais se você comparar com o pão de supermercado. O sabor ficou muito bom e o pão, apesar de denso, ficou macio para o meu paladar.

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