Já pensando em colocar a mistura novamente no fogo para reduzir mais um pouquinho comecei minha busca frenetica e secretamente a vários sites e posts de outros blogs sobre geleias e suas técnicas obscuras. Procurei durante um bom tempo uma maldita foto do ponto da geleia. Já que a perseguição do meu trauma passado fez eu desligar o fogo antecipadamente por duas vezes. Cheguei a jurar, para mim mesmo, é claro, numa espécie de neurose do endurecimento precoce [estranho isso], que o tal ponto havia chegado da segunda vez. E deixei ela lá descansando por incontáveis horas para assistir a mágica e falar: "Aha! Eu sabia que ia funcionar dessa vez". #fail.
Fui dissuadida a reduzir mais um pouco a mistura, uma vez que um pote já virara meio pote com a primeira tentativa e a chance de não haver nada no fim era grande. E, como as amoreiras são as #melhoresarvoresdo mundo ever, tinha um montão de amoras lá fora para uma próxima tentativa. Decidi ir catar amora na rua mais tarde para a nova empreitada. Dessa fez colhemos numa vasilha bem maior e ficamos um bom tempo de pé em pé pegando as frutinhas pretas. O melhor é que ainda tem bastante para pegar.
Por dentro do pé de amora |
O pote resultado da colheita. [Detalhe para os dedos roxos combinando com a blusa, com o pote e as amoras - trash!] |
Entretanto, ainda havia a "geleia Clownberry" (a única que você pode molhar no pão) que não podia ser jogada fora. A partir disso, eis que sem querer acabei fazendo uma deliciosa calda de amoras no ponto exato para jogar por sobre alguma coisa. E com aquele doce|azedo característico da fruta muito intensificado depois das duas idas ao fogão. E o pretexto utilizado para jogar a calda de amora por cima foi uma escolha bastante acertada, que, de certo modo, eu já vinha mirando em alguns sites por conta da minha missão de acabar com a gelatina sem sabor comprada no ímpeto do "eu posso precisar disso para alguma receita". Aí, encaixou com um Lego: nós tínhamos uma receita carente de calda e uma calda precisando de algo em que ela pudesse escorrer.
Esse achado foi a panna cotta uma receita de origem italiana que nunca havia experimentado - na verdade, sequer conhecia - até começar a ser mais [muito mais, às vezes irresponsavelmente mais] assídua nas publicações, sites e blogs sobre comida. [Agora eu entro na livraria e fico ali espremida na minúscula prateleira de gastronomia, a qual ainda tem disputar espaço com os vinhos, olhando os livros e causando certa estranheza nos meus amigos] O termo significa creme cozido e a sobremesa é tão deliciosa quanto simples, como tudo de comer cuja origem é a Itália. Além do mais, por ser de comer de colher, acaba com a derrota total que vinha satisfazendo a nossa vontade de um docinho depois do almoço. Um dia, o nem tão bom assim doce de leite de lata e, no outro, o mais famigerado ainda "leite ninho com açúcar". Isso quando eu não achava uma lata de leite condensado aberta com uma colherada faltando no fundo da geladeira, nos dias em que eu não estava em casa na hora do almoço.
Devido a uma baixa no armário de mantimentos e também dotada de um pouco de autoconfiança culinária fiz uma modificação nessa receita que nunca havia feito antes e nem sabia como era. No blog em que peguei a receita foi também onde eu descobri que a panna cotta existia. Depois comecei a procurar em outros lugares, mas essa ainda me parecia a melhor receita, já que era a que levava a menor quantidade de ingredientes, o que lhe conferia um quê de originalidade, no sentido de estar mais próximo da origem de sua execução. Meu problema era, no entanto, que só havia um creme de leite de 200g de caixinha no meu armário e a receita pedia 300g de creme de leite fresco. Embora, naquele momento, eu pudesse abstrair a enorme distância de sabor que existe entre o creme de leite fresco e o "de caixinha", a diferença de peso não era algo a ser ignorado.
Primeiro pensei em reduzir a quantidade da receita para adequá-la, mas eram muitos os cálculos para os outros ingredientes. Também fui procurar variações em outros sites que pudessem utilizar menos creme de leite, mas ainda tinha a impressão que devia começar pelo começo com uma receita desse tipo, assim, tradicional. Outro ponto a favor da minha primeira escolha era o fato dessa receita ser a mesma do Professional Baking, "o" livro do "Le Cordon Bleu". O que eu fiz então foi completar as 100 gramas que faltavam de creme de leite com iogurte natural, com base nessa combinação aqui. No fim, ficou perfeito! Uma combinação incrível da panna cotta não muito firme, não muito doce e com leve toque de iogurte mais a calda de amora doce|azeda no ponto correto. Uma sobremesa ideal, que concorre muitos pontos na frente, ao título de favorita por essas bandas de cá. Chega a ser ridículo de tão básico e tão gostoso.
A incursão pela culinária tradicional continua e para o próximo fim de semana estou com uma ideia fixa, como as do Brás Cubas: Apfelstrudel.
Tenho que comprar maçãs!
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