"A minha tia faz um feijão muito grosso e não usa nada para amassar ele. Fica muito bom. E eu não sei como ela faz. Ela não quer me dar a receita. Como é que faz?"
Como essa história já ocorreu a algum tempo, pode ser que não tenha sido exatamente como o relatado, mas está valendo assim mesmo. Também não sei se esse problema de feijão já foi resolvido pela maior interessada, mas se não aqui vai o passo a passo à prova de falhas. Quem disse que um bom caldo de feijão não pode ser uma questão existencial? Ou pelo menos ter a importância que o feijão, esse estranho ingrediente comum, merece?
Então, esse post de hoje tem nome e endereço certos, vai para aqueles [ou aquela] que tem problemas em cozinhar feijão com propriedade. Na verdade eu já vinha pensando em escrever sobre como fazer um feijão mais saboroso a mais tempo, pelo menos desde que eu mesma fiz um apanhando de dicas para a preparação sair do jeito que eu acho que deve ser: com os carolos desmanchando e o caldo bem grosso. Entretanto estava esperando a oportunidade de refrescar minha memória colocando em prática os métodos culinário-místicos do bom cozimento do feijão, já que não cozinho o dito grão com tanta frequência assim - meio quilo de feijão aqui em casa dura décadas. Seguem então o registro, para nunca mais esquecer e ajudar os menos hábeis, das minhas impressões sobre o tema.
O que é preciso para ter um caldo de feijão decente na sua mesa? Um plano infalível! Aí vai ele.
Primeiro de tudo, é preciso, sim, escolher o feijão. Eu mesmo achava que essa regra podia ser pulada até morder alguma coisa não tão macia assim que fez até meu cérebro trincar. Era uma pedra!! Escolha os melhores grãos e descarte sem dó:
os muito velhos. Sim, você vai sentir que ele tá velho.
os meio podres. Quase sempre esses desprivilegiados são também deformados.
as pedras. Você não vai querer trincar o cérebro.
os que parecerem estranhos. Esse método científico consiste em olhar bem para o grão e pensar: "Eu comeria isso?"
Nessa parte ainda estaremos a 1 dia inteiro, ou pelo menos uma noite, de comer o feijão então é preciso planejar o cozimento com antecedência e claro fazer mais do que o necessário para uma refeição e congelar o resto. Não há cristão que possa sobreviver tendo que cozinhar feijão todos os dias só porque alguém é tão absurdamente chato que dê importância a isso.
Ah! Todos métodos foram testados meticulosamente com meio quilo de feijão. Para quantidades maiores ou menores - não não valem a pena e o gás - utilize essa poderosa ferramente chamada matemática.
Então, depois de escolher os grãos vencedores coloque-os de molho em cerca de 2 litros de água fervente. Esse molho deve durar 12 horas. Deste modo, o ideal é fazer isso na noite anterior ao preparo para que o banho do feijão não seja alvo de brigas, inquéritos ou fome extremada.
No dia seguinte o feijão deverá estar mais macio e com um resto de água preta e meio nojenta. Essa água deve ser jogada fora e os grãos lavados algumas vezes. Feito isso, coloque em uma panela de pressão cerca de 3 litros de água e algumas folhas de louro. Não coloque sal! Quando a água estiver fervendo, jogue o feijão dentro da panela e espere até que o caldo volte a ferver. Nessa hora, tampe a panela, abaixe o fogo [importante] e deixe cozinhar de 15 a 20 minutos.
Passado esse tempo, faça todos os procedimentos para abrir a panela corretamente e verifique se os grãoes estão macios mordendo alguns deles. Se tudo estiver certo é porque funcionou e na hora de temperar o feijão o caldo engrossará com certeza.
Se acabou de cozinhar o feijão, tudo deu certo e sua paciência ainda não se esgotou, faça como eu e não perca a oportunidade de tomar um caldinho de feijão grosso, puro, como nos mais renomados e|ou decadentes botecos. Para isso basta ter feijão com mais caldo que caroço [no meu caso umas três conchas], um pedaço de linguiça calabresa cortada em cubos, meia cebola cortada em cubos, 1 talinho de salsão picado, um pedaço de alho poró picado e o seguinte tempero feito no pilão novo [na falta de pilão utilize o processador]: 3 dentes de alho, dois ou três grãos de pimenta branca, três folhas de sálvia, um pouco de pimenta rosa, uma pitada de sal. Refogue todos os temperos em uma panela, que não é a do feijão. Quando o tempero estiver bem moreno, sem queimar, junte uma concha de feijão, misture um pouco para apurar e despeja a mistura na panela em que está o restante do feijão. Deixe no fogo até engrossar e depois coma prazerosamente com um fio de azeite, um pouco de alho frito e se possível uma montinho de couve quase torrada na mesma panela em que os temperos foram refogados.
Conforto em caldo |
Refeição magnífica que não precisa de acompanhamentos.
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