Pra começar um post como esse, que mais parece um triste samba canção para um fim de semana chuvoso, nada melhor que uma pequena felicidade, já que ainda "é melhor ser alegre que ser triste". E, nada melhor para trazer pequenas felicidades sinceras do que o seu pé de morango dar morangos. Nunca acreditei ser possível plantar e colher qualquer coisa, embora nunca tenha me faltado vontade desde os tempos imemoriais em que se plantava feijão no algodão molhado para trabalho de escola.
Lembrando de feijões, a outra "plantação" da qual também tenho lembrança - quando ainda era um girino - é de uma cebola esquecida na geladeira que se agarrou em um pedaço de esponja [usada na época para retar a umidade da gaveta de vegetais] e brotou. A bicha fez uma raiz gigante e só não me lembro se conseguimos utilizar a esponja depois disso novamente.
Mas não é que a minúscula muda de morango comprada em uma lojinha de plantas só de brincadeira é um verdadeiro Gremilin das frutinhas. Multiplica rapidamente e já está espalhando por toda a horta, sem utilização de nenhum produto além de água. E isso é uma grande satisfação.
Pé de Morango |
Morango Antes |
Morango Depois |
Mas esse ano, com a criação de uma floreira e de uma horta no condomínio, já colhi tomates, couve, sálvia, rúcula e outras modalidades de vegetais nunca antes imaginados. De sujeito urbano que não conhecia nem o básico das espécies comestíveis que não vendem no mercado, passei a plantadora compulsiva; tudo o que brota da terra é plantado pra ver se pega.
O morango orgânico e caseiro estava realmente muito saboroso, do jeito como a fruta deve ser. Macio e azedo na medida certa, livre de contaminação e com gosto de quem não come morango há um século. Pelo menos desde quando se alarmou toda a população do nível de substâncias perigosas utilizadas nas plantações e presentes residualmente nos morangos de supermercado.
Então depois de um malfadado pão que levou um dia todo fermentando e não forneou bem. O pão parecia que ia mas não foi, ficou cascudo tipo quebra dente e machuca boca e com a massa muito densa. Era pra ser uma massa meio sourdough, que foi executada com muita paciência e parcimônia por quase 12 horas e que desandou na hora de ir para o forno. Primeiro porque foi um parto tirar o pão do pano em que ficou descansando para a superfície onde ia assar, pois a massa era delicada e mole demais para ser manuseada sem deformar. Uma vez no forno, o pão se comportou bem no início, demovendo minhas expectativas frustadas com a saga anterior ele deu uma crescida e começou a tomar forma. Depois o cheiro da derrota: o gás acabou [merda, merda, merda] e nem sei quanto tempo o forno ficou apagado. Não sei se foi falta de vapor ou de gás, mas o troço desandou; demorou um tempão para ficar no ponto, muito além dos 30 minutos sugeridos na receita, e quando fomos comer: decepção. Nem tão sour assim, parecia mais uma overfermentação e com a casca dura demais. Ontem o miolo ainda estava macio, mas hoje me foi sugerido que usasse uma Makita pra cortá-lo. Bom nem só de sucessos vive uma cozinha.
Consequência: hoje a minha disposição para cozinha estava no nível zero. Eu já tava achando que pães artesanais não eram para mim e que de agora em diante só faria pães simples, com fermentação direta e já testados com sucesso por mim mesma. Esses pensamentos nefastos estavam contrariando toda empolgação panificadora que ontem me animou até a pensar em produzir meu primeiro fermento natural nas férias. Tentando colocar as coisas em perspectiva, tendo a optar pelo meio termo no qual os pães artesanais só serão feitos em dias de muita inspiração culinária e de sol [dias de chuva não me fazem muito bem], não sendo eles nunca uma opção para substituir o pão do dia a dia. Isso porque depois dessa experiência, como iremos comer o pão durinho assim mesmo, fiquei com peninha daqueles que terão que aturar a massa pesada pelo resto da semana, mesmo ele não tendo falado nada sobre esse assunto.
Mas aí veio o morango. Ah! O morango! O que ele tem haver com isso? Deixou meu dia bem melhor logo cedo e até o sol saiu [isso não é uma metáfora]. Meus pensamentos anti-panificadores foram sendo dissipados e acho que com o próximo pão bem sucedido, provavelmente uma foccacia tiro certo, e as férias se aproximando minha regulagem vai voltar ao normal e vou até arriscar um panettone. Afinal, eu até comprei um livro só de pães!!
Restabelecida a normalidade culinária nesta cozinha até o pobre pão ruim teve seu acesso ao estrelato. Virou ingrediente numa bela salada com manjericão, azeite, alho frito, pimenta cambuci, cebola e sardinha. Que recebeu um único comentário após ser comida no almoço: "E agora, o que tem pro prato principal?".
"Rá."
De todo o modo, esse fim de semana não foi lá essas coisas em termos culinarísticos, mesmo com a recuperação pós-morango. Tenho que fazer compras, porque estou adiando isso há exatas duas semanas, colocar algumas coisas para funcionar, de modo que mantenha meu espírito de comer melhor, e ainda tenho que superar o episódio da frigideira amaldiçoada que fez minha omelete de atum grudar no almoço de ontem. Tenho que dizer, apesar disso beirar a humilhação, que a frigideira é antiaderente. Por isso, acredito piamente que ela estava ou está amaldiçoada pelos deuses do ovo grudado.
Adoro morangos...
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