domingo, 26 de fevereiro de 2012

Como era gostoso meu francês. Já que a padaria não faz direito só me restou essa opção

Esse pão francês ficou espetacular. Quando saiu quentíssimo do forno direto para a mesa, passei a manteiga que derreteu imediatamente e dei a primeira mordida não contive a minha empolgação. Emiti uma série de grunidos estranhos de felicidade, me sacudi na cadeira com a cabeça de um lado para o outro, quase cantalorando e quase emocionada.

Vê se a padaria faz igual?
Com casquinha quebradiça.

Já havia tentado produzir pães franceses em casa algumas vezes, mas por uma série de fatores não obtive resultados que satisfizessem o meu paladar. E digo isso não apenas por uma questão de ser muito exigente - o que sou, principalmente quando quem vai pra cozinha sou eu - mas porque todos os pães desse estilo tentados anteriormente não superavam o das padarias medianas que existem por aí aos montes, nos vendendo misturas prontas de empresas de caráter duvidoso com água.

Em pensar que nesse dia, quarta feira de cinzas, quase desisti de fazer pão porque eu estava bastante estabanada. Máquina de destruição em massa style. Enquanto fazia os gingersnaps deixei várias paradas caírem, sujei muito mais louça do que o necessário porque ia fazendo tudo meio truncado. Depois que acabei a massa dos biscoitos, pensei em não tentar pão nesse dia e fui estender roupas. O que aconteceu? O varal de chão desmontou todo, porque o pino que segurava as coisas no lugar voou para longe. Eu, bem, eu fiquei lá toda contorcida com uma trouxa de roupa numa mão e o varal quebrado na outra sem saber como equacionar o problema de não deixar a roupa cair no chão segurando todos os arames do varal para que ele não se desfizesse por completo. Cena de pastelão total, porque eu tava tão avoada que não pensei no óbvio: largar o varal, que devido a teimosia enroscou no meu dedo, e colocar a trouxa de roupa em outro lugar. Não fiquei eu lá toda torta tentando sabe lá como salvar todas as coisas juntas.

Dito isso, não porque eu insisti em fazer pão, mas ainda bem que tive coragem. Na verdade acho que estranhamente fui fazer pão francês porque não queri tentar um pão com muitos ingredientes, o que considerei como difícil depois dos acontecimentos do dia. Só que, apesar de levar praticamente apenas farinha, fermento e água, esse é um tipo de pão complicado para se reproduzir em casa [vide as minhas outras tentativas frustradas]. A massa é complicada, a modelagem idem e o forneamento nem se fala. Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi isso, mas de fato, foi uma escolha feliz, já que a quantidade reduzida de ingredientes e uma receita pronta para se seguir à risca [nada de invencionices] tornaram tudo mais fácil.

Receita da Ana Elisa, retirada do Professional Baking não tem como dar errado mesmo. Embora, também posso considerar que o aumento gradativo da minha experiência com pães me ajudou a chegar no ponto correto desse aqui. Primeiro porque a quantidade de líquido da receita já não me assusta mais, tampouco a textura melequenta da massa que faz você duvidar que vai ficar modelável. Se fosse em outras épocas a minha confiança de que aquilo iria ficar homogêneo e se transformar em uma bola lisa e macia era zero e a solução seria tacar farinha na bicha. Motivo pelo qual a panificação doméstica é o lar dos pães pesados, massudos e com gosto de fermento. Fermento é outro ponto importante, já que qualquer receita da Ana Maria Braga e companhia não leva menos do que 50 gramas de levedura fresca - exagero total para a maioria dos pães. É sempre preferível dosar o fermento para menos e aumentar o tempo de fermentação para garantir que o processo seja concluído e não deixe resíduos no gosto do pão.

A receita é essa aqui. Não tão complicada, exceto pela sova, que deu um pouco de trabalho e exigiu uma dose extra de paciência. Não foi problema, porque ainda me divirto sovando pão e trabalhando com as mãos. Mais um perrenguinho na hora de modelar porque a massa ficou mais úmida do que o esperado e grudou um pouco nas mãos, nada que farinha não resolvesse. E, todas as mandigas conhecidas para fazer vapor suficiente no forno de casa. Pão pronto e deliciosamente degustado ainda quente, só faltou mesmo uma assadeira apropriada pra ficar igualzinho ao da padaria.

No dia seguinte ele ainda estava muito macio e leve e mesmo feito tostado na sanduicheira ficou uma beleza.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Nonfat Gingersnaps por uma abordagem minimalista

Estou novamente com uma imensa falta de vontade de escrever neste blog. Mesmo que sentir falta imensa seja um paradoxo linguístico, uma vez que a ausência não é mensurável e, portanto, não pode ser imensa. Licença poética a parte, não tenho andado com inspiração para a escrita e tudo o que eu tento escrever fica parecendo, aos meus olhos, algo que já vi em outro lugar ou, pior, um texto burocrático. Não, assim não dá! Até porque, convenhamos, de textos burocráticos o universo já está cheio.

Acredito que essa falta de inspiração também seja reflexo de um desânimo bem característico que me acomete depois do carnaval, quando de fato o ano começa a tomar contornos seriedade. Já tentei lidar melhor com isso, mas todo ano é a mesma coisa; últimos dias da semana do carnaval e o calafrio na barriga sinalizando que agora não tem mais jeito, acabou a moleza e, consequentemente, a parcimônia do resto do universo que de algum modo tem contratos ou necessidades que envolvem diretamente você - pessoa que até agora foi cozinhando tudo o que pode com a intenção de prolongar, mesmo que indevidamente, a sensação de estar de férias, mesmo que parcialmente. Ah! Deixa pra depois do carnaval...

Agora o depois do carnaval chegou e, trevas, acabaram as doses diárias de consolo proporcionadas pela sensação de que o mundo ainda não começou a girar de fato. Acho que por isso, passei por essa semana como quem espera algo, acordando cedo, dormindo nem tão cedo assim, contando cada um dos dias com a satisfação de que a semana ainda estava no começo [isso até dois dias atrás, é claro]. Parecia que o mundo estava acabando, quando na verdade é sempre o início que me dá certo arrepio. Apesar de tudo, vou me recuperar depois que as não tiver mais jeito e a segunda chegar, simplesmente, porque isso é assim. E este é o pensamento que estou procurando manter comigo para evitar desperdiçar os meus últimos dias de descanso ficando com uma tristeza irremediável.

Falei tudo isso pra dizer [ou para me contradizer] outra coisa. Como o blog é uma fonte consulta para minha pessoa saber quais receitas funcionaram e como elas foram feitas, nos meus dias de falta de inspiração e/ou preguiça de escrever eu iria optar por uma abordagem minimalista. Apenas para manter o registro em dia, postaria receita, método, erros e acertos e foto, quando houvesse. Seria uma espécie de post "quick and easy". Eu não perderia a informação e a memória dos fatos, tranquilizando assim a minha alma, mas também não iria precisar escrever uma pequena crônica diária a cada prato preparado, evitando assim o enlouquecimento precoce e algumas crises de ansiedade devido a sensação de "tenho que colocar isso no blog". Mente sã e zen é o que venho precisando.

Deixa só eu falar do que não falei lá em cima e lembrei agora. Como o desânimo "quarta-feira de cinzas" [mesmo que eu não não seja uma pessoa assim tão carnavalesca ultimamente] eu também acho que perco um pouco a minha capacidade de ficar atenta às coisas que acontecem no meu dia a dia. Vivo esses dias como se vivesse em um mundo blasè, em que tudo passa por você e não deixa impressões ou lembranças, nem mesmo as desagradáveis. É uma coisa muito ruim, porque não lembro das piadas e comentários engraçados do meu querido companheiro, nem das sensações que tive ao experimentar determinado prato. Logo em seguida, vai-se embora a minha capacidade de verbalizar aquilo que aconteceu. Perder a habilidade de registrar o mundo observado é o primeiro sintoma da falta de inspiração. Ou seria o primeiro motivo?

Eu ia, juro que ia, neste post, executar a proposta de receita anotada com simplicidade. Estava planejando apenas dar a explicação dos motivos da decisão rapidamente e, então escrever a receita em questão. No entanto já estamos a parágrafos de distância dessa possibilidade por pura e simples incoerência entre teoria e prática. Além do simples fato que na maior parte das vezes superestimo o tamanho ou a dificuldade da empreitada antes dela começar. Como eu já disse, a inércia é uma das minhas piores características [lido com isso e me esforço para não ceder a ela] e, por isso, inclusive, a fonte dos meus pesadelos sempre está nos inícios. Depois que eu começo a me mexer tudo fica muito fluido e normal. Viva o Newton!

Os biscoitinhos dos quais falarei neste post foram realmente um grande achado, fruto de algumas muitas e insistentes pesquisas na internet. Isso porque, já a algum tempo, eu venho procurando por alternativas saudáveis para aqueles famosos lanches fora de hora. Aqui em casa, não consumimos desses salgadinhos de supermercado, tampouco lanches prontos congelados. Entretanto exageramos um pouco na quantidade de biscoito de maisena e cream cracker, os quais, apesar de serem opções menos piores, ainda passam ao largo do quesito alimento saudável devido a quantidade de gordura interesterificada [nome chique de um tipo de gordura que substitui a hidrogenada]. Além, é claro, de todos os químicos que não seriam sequer classificados como comida numa análise das mais superficiais.

Fiz algumas experiências com receitas de cookies e biscoitos caseiros para tentar substituir um pouco da quantidade dos industrializados, mas a maioria das receitas que achei levam quantidades impublicáveis de manteiga. Sou adepta da manteiga como melhor tipo de gordura sólida a ser consumida e até consegui eliminar a margarina desta casa, mas não há quem consiga manter uma produção satisfatória de biscoitos caseiros a base de manteiga. Tanto pelo teor de gordura, quanto pelo preço da manteiga. Nosso orçamento doméstico não nos permite tais extravagâncias.

Não satisfeita com a maior parte das receitas publicadas em português recorri a uma varredura na internet em língua não nativa para ver o que poderia encontrar. Resultado: nesse ponto os gringos estão há anos-luz da gente. Encontrei muita substituição interessante para a manteiga e acho que terei uma gama maior de possibilidades para produzir meus próprios snacks e cookies. Creio que a pouca tradição em produzir cookies caseiros talvez contribua para a falta de opções sobre o tema por essas bandas, mas não sei ao certo se é só isso. É claro e evidente que os cookies amanteigados tem a incrível característica de derreter na boca, especialmente aqueles de são quase 1:1 em relação a farinha, o que é uma das vantagens incontestáveis desse tipo de massa. No entanto, o prazer da gordura pode ficar restrito a ocasiões específicas e esporádicas e ainda assim existir a possibilidade de ficar roendo uns biscoitinhos mais moderados no intervalo entre uma refeição e outra.

O achado está no site do David Lebovitz, para o qual eu só tenho elogios até aqui, já que acima de tudo o homem é um curioso. A receita é muito boa, os biscoitos não tem exatamente a textura de um cookie, mas em compensação não levam nenhuma gordura. A consistência da massa é resultado da mistura de melado com applesauce. Tive que fazer adaptações para substituir o applesauce, o qual seria uma espécie de purê de maça que não existe [pelo menos eu nunca vi] no Brasil. No lugar dele coloquei uma banana prata com aproximadamente o mesmo peso que a receita pedia de applesauce. Como nada é perfeito, num lapso de falta de atenção, eu li corretamente a receita várias vezes e na hora de fazer acabei trocando o bicarbonato de sódio por fermento químico. Coisas de uma mente atrapalhada potencializadas pela receita em língua estrangeira. Ainda consegui retirar um pouco do fermento e colocar bicarbonato no lugar, mas só saberei o quanto isso interferiu no produto final quando repetir a receita.
Fofos, inofensivos...
Fiz a receita na quarta-feira de cinzas [muito propício] e sob fortes pressões contrárias, já que eu estava num dia "máquina de destruição em massa". Tudo caindo da minha mão, gemas de ovo furando, panelas tilintando na cozinha e o estresse "nada tá dando certo" a uma pequena distância de me atingir. Contrariando a todos os indícios que me avisavam que eu devia me manter longe da cozinha eu fui em frente e não sem algumas reclamações e palavrões proferidos mentalmente, fiz essas belezinhas de biscoitos - que já acabaram - e ainda arrumei coragem suficiente para assar um pão. E um pão francês! Surpreendentemente espetacular.
E merecem um close!
Ah! A textura lembra mais um pão de mel, mas eu tenho quase certeza que foi por causa do fermento. Logo depois de assados, quando ainda não é para comer os cookies [mas quem liga para as recomendações de todas as outras pessoas], o gosto da banana [que também estava no limite da madurescência] estava muito pronunciado, o que foi suavizando na medida em que os cookies foram esfriando. Enquanto eu estava preparando só conseguia sentir cheiro de bananada. Um cheiro muito bom, mas também desconfiantemente forte. Felizmente, tudo deu carto no fim.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um aperitivo pra chamar de seu. Esfihas de um carnaval produtivo.

Geleia que funciona [com muito poder geleificante], sorvete de amora com calo na ponta do dedo, quibe de forno com recheio de pasta da grão de bico e esfihas que por enquanto não causaram nenhum acidente. Este vem sendo meu roteiro culinário no famigerado feriado de carnaval.

Pra não dizer que eu estive só na cozinha, já dei dois belos passeios de bicicleta em dois dias - um recorde absoluto! Num deles fui conhecer a fazenda de produtos orgânicos aqui perto e no outro achamos um lugar surpreendente escondido bem perto de casa. Claro que fiquei morta de cansada, mas no saldo final valeu a pena o esforço.

Diário de um domingo de carnaval.

[19/02/2012 - 10:43] - Ricota sorando para o recheio da esfiha.
[19/02/2012 - 11:35] - Sorvete de amora no freezer para a sobremesa.

Vi esse de sorvete [na verdade frozen yogurt] de amora aqui, com a referência de que era uma receita do programa do Jamie Oliver. Tinha muitas amoras congeladas, da última temporada em que as frutinhas dominaram a paisagem na minha rua, e elas não acabaram ainda. Tem mais uns 400 gramas que darão para uma geleia ou uma torta, ou ambos. Comprei um garrafão de iogurte já pensando nisso, porque embora eu tenha me apegado a tarefa de fazer sorvete, esse lance de um litro de creme de leite e gemas e tal não pode ser sempre. Nas minhas regras pessoais, inventadas sem sentido ou critério algum, apenas pela genuína necessidade de delimitar as coisas rotineiras, acho que vou instituir o ciclo do sorvete caseiro em que os sorvetes com creme serão produzidos entre dois sorvetes de iogurte ou de frutas puras [como o de banana] ou tipo sherbet [que ainda não testei]. É a regra "gordura sim, gordura não" colocada em vigor nesse instante.

Já fiz o sorvete e não tem mais volta,  mas tive a impressão que a consistência não será melhor que a do meu último frozen de amoras. Vamos esperar para ver e segundo meu companheiro para usar, finalmente, a colher de sorvete. É comprei uma colher de sorvete de verdade, que suponho - ainda não testei - fazer bolas bonitas e bem acabadas. No mundo paralelo daquele que compartilha este lar comigo, eu só fiz o sorvete para usar a colher, mas não é verdade, pois eu nem lembrava dela quando decidi fazer. Sendo que, caso ele não me lembrasse, era capaz de eu tirar o sorvete com as colheres de mesa comuns aqui de casa, tamanho é a meu nível de avoamento.

[21/02/2012 - 10:42]

Já tomei o sorvete de amora e minhas suspeitas se comprovaram. A minha versão é melhor que a do sujinho do Jamie Oliver. Que pena! Além de tudo, a estreia da colher de sorvete foi vergonhosa, perdendo apenas para as cenas de lasanha desmontando na hora de servir. Quando fomos experimentá-lo, peguei a colher cheia de empolgação, retirei o pote do freezer, abri todos os invólucros com cuidado e no momento de meter a colher... O frozen tava mole demais e, como era de se esperar, nada de bola de sorvete. Mesmo assim, coloquei ele nos potinhos para o comentário dos que apenas observavam a cena: "Tá igual acaí!" Droga! Mas eu não perdi de zero, o gosto ficou satisfatório, mas não gostei da amora dominando o sabor do iogurte.

Esqueci de falar porque o sorvete deu calo na ponta dos dedos. Foi porque a burrinha aqui, congelou um monte de amora, adivinhem, com cabinho. Na hora de usar tive que ficar removendo os cabinhos um a um e quase perdi a sensibilidade dos dedos fazendo isso. Lição: nunca congele amoras com os cabos. Pelo menos agora o restante da amora congelada já está devidamente sem cabos e pronta para o uso. Só na minha cabeça preguiçosa mesmo para congelar a coisa sem estar pronta para usar no momento da necessidade. Se eu parar para pensar meio segundo, vejo que não tem nenhum sentido fazer isso, já que o que era pra facilitar o cotidiano culinário vira um problema com potencial para infernizar o dia.

Voltando as esfihas, que eram para ser o objetivo deste post, elas só foram feitas ontem, porque no domingo decidi em favor de um bolo para atender pedidos clamorosos e aplacar vontades incontroláveis. A receita do bolo fica para outro dia, espero que não muito longe, pois essa receita é umas das favoritas aqui de casa e é sempre muito solicitada. Apesar de que quando eu perguntei ao meu querido companheiro se esse era o bolo favorito dele ele foi taxativo ao afirmar que não sabia. Como ele não sabia, ele sempre pede esse bolo. "É porque tem um monte de bolos que eu ainda não experimentei e não posso dizer isso antes de comer todos os outros."

Ontem - dia da esfiha - repetimos pela manhã o passeio de bicicleta que fizemos no sábado. E preciso dizer que fico muito feliz de não me deixar levar pela preguiça algumas vezes, especialmente neste feriado, em que conhecemos muitas coisas e lugares apenas passeando de bicicleta. Vou usar a descrição do meu queridinho para definir o lugar e somente uma foto para ilustrar a descrição e comprovar a impressão que ele teve.

"Parece aqueles cenários que você vê em filme. Você nunca esperaria encontrar algo assim."

Em cima. Barragem.

Embaixo. Cachoeira.
Não preciso falar nada.

E é a mais pura verdade. Além da paisagem em si, a surpresa da descoberta e a sensação de estar explorando e quase que desbravando os lugares é muito gratificante. O local fica aqui bem perto de casa e chegamos lá pela primeira vez no sábado, num dos passeios. Infelizmente a câmera estava sem bateria e não fizemos fotos do dia da descoberta. Ontem voltamos lá acompanhados pelo nosso vizinho com seu filho. Todos de bicicleta, porém sem muita disposição. Seguimos algumas trilhas no meio do mato seguindo um riozinho, mas em um dado momento, o mato acabou e para nós restou enfiar os pés na água e seguir "caminhando por dentro do rio". Ótima sensação! Apesar do pé molhado, do tênis cheio de areia e da meia que terei que jogar fora tamanho foi o estrago. E o melhor, sentar na ponta de uma barragem antiga e lavar os pés pra voltar pedalando morro abaixo. Vou repetir uma frase certeira que vi no twitter da Ana Elisa do La Cucinetta, que está num momento offline.

"Toda decisão que você toma tendo como base a preguiça, é uma decisão equivocada."

A frase pode não ser bem desse jeito, mas parece que foi feita para mim, porque deixo muita coisa de lado por causa da preguiça. Até escrever nesse blog é uma iniciativa que está diretamente ligada ao desconforto que me causa saber que a inércia é uma das minhas características mais marcantes e, claro, frustantes.

Quando voltamos do passeio, almoçamos e fui começar a fazer a esfiha. Fiz a massa com: 100 gramas de farinha de trigo, 100 gramas de farinha integral, cerca de 20 gramas de gérmem de trigo e 30 gramas de semolina, 1 colher de chá de açúcar, meia colher de sopa de fermento seco, duas colheres de sopa de iogurte, 100 ml de água, 50 ml de buttermilk, 50 ml de óleo de canola e meia colher de chá de sal. A massa ficou descansando em temperatura ambiente e ficou muito pegajosa. Levei um tempão sovando, mas no fim ela ficou super macia.

Estou aqui falando dela e tive que ir lá pegar uma pra comer, não resisti. No dia seguinte ela ficou até mais gostosa.

Depois foram os recheios: um de espinafre, ricota caseira, alho poró e nozes. Só picar tudo - cru mesmo - misturar com a ricota e usar. Para o outro recheio usei carne de soja, da seguinte maneira: hidratei a carne em cubos com um raminho de alecrim, depois processei ela com meia cebola, um dente de alho, salsinha crespa, sementes de mostarda, pimenta calabresa, zathar, sal e molho shoyo. A carne de soja tem a vantagem de ficar bem sequinha e não precisar cozinhar previamente para servir de recheio. No forno ela vai incorporar melhor os temperos e cozinhar junto com a massa.

Uma coisa que me incomoda na coisa toda de fazer esfiha é o trabalho que dá ficar montando uma a uma, já que para tal tarefa me faltam alguns requisitos como paciência e habilidade. Na terceira esfiha eu já estou amaldiçoando o recheio que não acaba e os salgados começam a assumir formas geométricas estranhas, nada parecidos com triângulos equiláteros. Sinto que meu negócio não é a delicadeza. Contudo, agradeço por ter tido a iluminação que me fez desistir de fazer a receita inteira, com 500 gramas de farinhas. Já que isso ira me render muito mais esfihas que a minha capacidade de manter a calma e o equilíbrio na hora de recheá-las.

Infelizmente, o recheio de espinafre vazou em algumas esfihas, devido a ricota que estava muito fresca e úmida. Tudo bem que ajudou um pouco o fato de eu ter colocado muito recheio em algumas delas - foi a muita falta de paciência falando mais alto. O fato é que, contrariando as espectativas, ou não, a de espinafre teve ótima saída. Até eu que tinha preconceito com o espinafre fiquei feliz com o resultado [não o estético]. De tudo isso, o melhor, como sempre, são os comentários:

"Ficaram muito boas. Você tinha razão [viram, eu tinha razão - eu já sabia] sobre não existir comida ruim e sim mal-feita. Essa de espinafre ficou ótima. [coloquei aqui uma boca cheia de esfiha]."

Só um adendo muito atrasado. Não consegui nenhuma foto da sfiha para postar, o que é uma pena jpa que elas ficaram muito boas. Só que às vezes eu me esqueço das fotos ou a comida não era muito fotogênica, como foi o caso da sfiha de espinafre com ricota. Eu até ia fazer um cenáriozinho para as de carne de soja, mas comemos no almoço e na hora acabei esquecendo.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pedal, orgânicos... Quibe, grão de bico e a doce sensação que o feriado ainda nem começou

Mais um quibe de forno? A parte ser esse um dos meus pratos favoritos, esse ficou muito bom e tem o diferencial de ter sido feito com carne de soja. Por isso vou anotá-lo aqui para não esquecer. Ele tem também o mérito de ser muito fácil e rápido de ser preparado, bastando estar com a carne e o trigo hidratados, vai tudo para o processador mistura e pronto.

A minha sexta-feira começou com muita cara de sábado, já que eu não precisei ir trabalhar. Por isso, fiquei durante todo o dia pensando ser sábado, apenas para ter o prazer de, ao fim da tarde, chegar a doce conclusão que ainda era sexta e meu feriado apenas começara. Agora que tenho recomendações médicas para pedalar - a melhor notícia do mundo para o meu companheiro pedalador inveterado - e devo fazer por força aquilo que a preguiça me impede, aproveitamos para dar um passeio de leve pelas redondezas. Passeio com destino certo: a Fazenda Constância, produtora de orgânicos que tem me servido com legumes e verduras quinzenalmente. Sempre fazia pedidos para entrega, mas dessa vez como a lista de produtos que eu precisava eram carregáveis em uma bicicleta e eu queria conhecer o local juntei todas os requisitos e fomos até lá.

Foi legal, porque o pessoal foi atencioso com a gente, explicando todo o processo de plantio e os insumos biológicos utilizados para fertilização e controle de pragas. Eles são muito organizados e fazem um trabalho realmente bacana, principalmente se comparado com a média dos serviços prestados aqui na cidade. A fazenda não é muito longe aqui de casa e ir de bicicleta foi bem agradável, porque todo o caminho vale o passeio. Apesar de que, parte de paisagem de casas belíssimas e de pequenas mansões com cores vibrantes, telhado claro e esquadrias pintadas de branco nos deixou um pouco atordoados, tanto pela vontade de morar ali quanto pelo desgosto de não morar. Fazer o quê? Ces't la vie!

À propósito, trouxemos rúcula e uma couve de nome estranho, o qual eu jamais vou lembrar para poder sequer pronunciar, quanto mais escrever. O nome da couve é chingensai, uma espécie chinesa que é mais tenra que a couve mineira e, pelo que disseram, menos amarga. Ainda não provei, quer dizer, ainda não comi refogada como é pra ser feita, mas já tirei um pedacinho crua pra comer e achei bem boa, com um gosto que lembra a couve que estamos mais acostumadas. Eu trouxe sem saber como ia usar, contrariando um pouco a minha lógica de compras, entretanto, ao mesmo tempo, não posso ver nada novo e desconhecido que tenho que experimentar. Deste modo, a couve sei lá o que veio parar na minha geladeira.

Manhã agradável, passeio agradável e, claro, antes de sair deixei o trigo para o quibe e a carne de soja hidratando. Usei, para hidratar, uma proporção de uma medida de trigo para duas de água e achei que desse jeito fica mais fácil, pois não acumula água e na hora de usar nem precisei escorrer. Quando cheguei fui preparar a refeição dos campeões, cheia de fibras, proteínas do quibe com uma salada verde de alface romana, rúcula, tomate cereja e parmesão.

Antes do quibe, fiz essa pasta de grão de bico, com menos iogurte para dar uma consistência mais firme para o recheio do quibe. Além disso, dispensei o limão e juntei à mistura meia pimenta de cheiro vermelha e bastante gergelim. Pasta na geladeira, comecei o resto da receita.

Para o quibe foi no processador, nessa ordem: meia cebola, um dente de alho, alguns pistaches [não tinha muitos e acho que nessa quantidade não ressaltou seu sabor, mas vou anotar para uma próxima vez porque é promissor], a carne de soja, um pouco de hortelã, alguns ramos de salsinha, raspas de limão, sal, linhaça, azeite e páprica. Acho que foi isso, mas tenho dúvidas. Depois juntei essa mistura ao trigo hidratado, com pimenta síria, zathar, tabasco e pouco menos de um quarto de limão espremido. Acho que o limão deu um up no negócio, porque fica um leve gosto, bem agradável ao paladar. Montei em um refratário: massa, pasta de grão de bico, massa e levei ao forno. Nesse meio tempo fiz a salada e como a fome era grande, retirei do forno antes do tempo. Comemos e ficamos satisfeitos, mas não deu pra cortar ele bonitinho e colocar montado no prato, não. Esse quibe fica melhor para corte se servido morno ou mesmo frio. Também recomendaria fazer a receita de um dia para o outro para intensificar o seu sabor, mas eu não tive essa opção.

Melhor de tudo: ver o companheiro que não gosta de grão de bico, indo umas duas ou três vezes no potinho para passar a pastinha no biscoito enquanto esperava pelo almoço. Eu apenas ri, enquanto lavava a louça. Ele veio reclamar que eu estava rindo dele e tive que dizer:

"Não é de você que eu estou rindo. Estou rindo porque a minha teoria funciona e está sendo comprovada empiricamente [não falei empiricamente, mas teria ficado bonito] por você. Não existe comida que você não goste, apenas elas não foram preparadas de um jeito que você goste."

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Em busca do bolo de limão perdido.

Tudo começou há muito tempo atrás com um bolo de limão bem executado e bonito, mas sem anotação de receita ou fonte. Isso eu já falei aqui. Desde então, ter limão em casa - inda mais os sicilianos - equivale a ter mais uma chance de achar a receita perdida e perfeita de bolo de limão. Este post é um exemplo disso. 

Tinha um último limão siciliano na geladeira e fui insistentemente atrás de outras receitas de bolo para usá-lo. Várias opções e nenhuma certeza, mas algumas conclusões acerca dessa nova pesquisa. De tudo que aparece após uma busca Google sobre o tema, grande parte é irrelevante e outra é parte considerável é de receitas batizadas de bolo de limão, mas que não passam de um bolo simples com cobertura de limão. Ora, pra adjetivar qualquer coisa como "de" alguma outra coisa, essa primeira tem que contar com a segunda na composição, ou seja, um bolo "de limão" tem que levar limão na massa, do contrário é apenas bolo. Bolo com limão, com cobertura de limão, não importa, desde que a nomenclatura não atrapalhe a pesquisa alheie e nem confunda os mecanismos de busca.

Enfim, fiz mais uma receita do Technicolor Kitchen que levava buttermilk e mais farinha do que a primeira. A receita é essa aqui e fiz as seguintes modificações: pus apenas 150 gramas de manteiga, 340 gramas de açúcar, 3 ovos e 60 ml de suco de limão siciliano. Poderia ter colocado mais suco de limão, porque não achei azedo o suficiente.

O bolo ficou muito bom, alto e saboroso, embora tenha perdido um pouco da sua fofura quando esfriou. De todo modo, ainda não era esse o bolo perdido. Essa busca está sendo muito apreciada pelo devorador de bolos que mora comigo, já que os testes sempre resultam em mais e mais bolos para serem comidos ao longo de no máximo dois dias.


Essa casquinha ficou muito crocante.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Hamburguer sim, carne não. E de quebra muitas pequenas almôndegas.

Eu vinha com uma vontade crescente de comer hamburguer. Obviamente, caseiro, temperado na medida certa [nem muito, nem pouco], em um pão também feito em casa, molho e salada de rúcula. Do mesmo modo, tenho estado entusiasmada com a ideia de potencializar o uso da proteína de soja nos nas minhas refeições em casa, além de, claro, testar maneiras saborosas - ou ao menos palatáveis - de consumir esse ingrediente.

A coisa toda de usar soja não é tanto para fazer a substituição da carne nos nossos pratos cotidianos. A minha ideia não é parar de comer proteína animal de uma vez por todas. Entretanto, gosto de ter mais uma opção de proteína que possa virar comida saudável e de melhor digestão. De algum modo a carne vermelha me dá uma certa gastura vez em quando, porque eu como e me sinto lenta, pesada, sem vontade pra quase nada [ou quase tudo, como faria mais sentido].

Já tive algum sucesso fazendo almondegas de carne de soja em mais de uma ocasião, em que todo mundo comeu e nem sentiu. Mas foi só, com a proteína granulada e tempero de creme de cebola. Queri ir um pouco além e também conseguir fazer receitas que levassem a proteína em cubos. Tive experiências frustrantes com proteína feita desse jeito quando tentei parar de comer carne nos idos de minha adolescência. Tentei várias vezes e nunca consegui reproduzir nada com resultado satisfatório, tanto que achei durante anos que carne de soja não era pra mim. A textura me incomodava muito, parecendo uma esponja que nem de longe lembrava carene [na época eu buscava um substituto literal para carne - já faz muito tempo], sem contar o cheiro que me enjoava e não me fazia sentir vontade de comer aquilo. Conclusão: eu joguei a toalha e arquivei o projeto carne de soja.

Mas eu sempre tento não ser preconceituosa com comida e quase todos os alimentos, ao meu modo de ver, são dignos de uma segunda chance de serem amados. Com a carne de soja não foi diferente. Certa feita, meu querido companheiro, na época ainda meu namorado de casas separadas, entrou nessa vibe de parar com a carne vermelha, deixando todos [leia-se a mãe] enlouquecidos. Como parar de comer carne? Isso não pode! Eu bem que me aproveitei da situação e resolvi testar receitas com proteína de soja, porque se ele queria parar de comer carne alguém tinha que fazer alguma coisa para ajudar nos processos. Com a mudança na dieta dele, eu fui procurar informações sobre o modo de preparo da proteína e consegui acertar o preparo de almondegas com creme de cebola. Consegui mesmo, porque o menino comeu um monte até não dar mais. Eu também fiquei muito satisfeita com o resultado e comecei a desconfiar que gostava de carne de soja.

Fizemos essa almondega várias vezes e todas com relativo sucesso, mas duas coisas me incomodavam nisso: o fato de só ter esse prato na manga para usar a carne de soja e o desprezível creme de cebola [hoje eu sei disso]. Até que vi um programa do Claude Troigos em que a receita foi um strogonoff com carne de soja e risoto de quinoa e isso me encorajou a tentar novamente fazer alguma coisa com os cubos de proteína de soja. Comprei e reservei para o momento certo, ou seja, aquele em que eu achasse que um pouco de creme de leite não é assim um pecado capital.

Tudo bem que esse post é sobre hamburguer, que é quase uma almondega chata, e que no fim virou mesmo almondega. Só que foi feito com a carne em cubos e sem creme de cebola, o que já vale o crédito pelo feito. Como a massa original com carne de soja e temperos, a qual serve bem para fazer as duas coisas, ficou muito boa, para o meu, o seu e o nosso paladar, tive que anotar aqui para não esquecer o que usei para fazê-la. Gostei, principalmente, da textura da carne em cubos processada com os temperos que ficou bem modelável, sem, contudo, ficar encharcada de farinha ou outro agente para dar liga. Não fica exatamente firme, como um hamburguer tradicional, mas o gosto compensa certa dificuldade inicial.

Vou por a receita na lista, porque tudo isso vai para o processador, sendo que os mais duros vão primeiro e depois é só modelar conforme o uso. Lá em casa, eu fiz os hamburguers na sexta, sem pão mesmo e com salada. Sobrou uma quantidade razoável da massa e meu adorado devorador de meat balls falou tanto "daquelas almondegas que você faz com molho" que não me deixou muita escolha sobre o destino da sobra de massa.

Segue a lista.

100gramas de carne de soja em cubos hidratada com páprica e zathar.
meia cebola
2 dentes de alho
pimenta branca
pimenta rosa
manjerona
orégano
funghi seco (opcional, mas dá um estilo)
nozes (ou pistache, que preferi não arriscar em nome da concisão)
salsinha
cebolinha francesa
pimenta verde
uma colher de manteiga
sal
uma fatia de pão de forma
provolone ralado (pode ser parmesão)

Da próxima vez não por pimenta rosa, pois ela marcou muito os pedaços em que ficou. Contudo devo tentar usar shoyu, que não tinha no momento, aveia, pra agregar fibras e molho inglês, só pro gosto mesmo. Acho que essa receita se presta bem a fazer não só hamburgueres e almondegas como recheio para pastéis ou esfirras, quibe de forno e outras variações em que a carne de soja possa ser usada.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Empada e doce de abóbora e um post meio alucinado

Se quiser pular os devaneios e ler a receita clique aqui.

O que leva uma pessoa a sentir cheiro de pão pela casa às 22 horas? O fato de ela estar fazendo pão, é claro, pois eu ainda não estou tendo alucinações olfativas e domino parcialmente minhas faculdades mentais. Mas então, o que explica uma pessoa que se diz em sã consciência estar fazendo pão, além de estar escrevendo este texto, às 22 horas em plena quarta-feira? Essa já não é tão fácil, embora explicável. Acabou o pão de forma e isso é quase um risco alimentar aqui em casa, já que sabe lá Deus o que os desavisados vão fazer para substituir o pão. Mas não é só isso ainda, creio que ir fazer pão depois de chegar do trabalho num dia útil deve ser minha tentativa quase desesperada de tomar as rédeas do meu tempo, além de, solenemente, ignorar que: 1. fui para um trabalho que não gosto; 2. perdi quase 7 horas no trânsito para ir e voltar; 3. estou cansada; 4. tudo que eu faço lá longe de casa poderia perfeitamente ser feito através de uma tecnologia um tanto quanto ultrapassada chamada internet; 5. tudo isso parece aos meus olhos uma imensa perda de tempo.

Sem contar, que hoje estou facilmente irritável e por mais que eu tenha vindo do trabalho para casa cantando mantras para manter minha mente zen [cantando mentalmente, que fique registrado], isso não me impediu de ficar tensa, ansiosa para chegar e querendo matar qualquer passageiro que fizesse sinal para subir no ônibus que eu estava, colocando sobre o pobre trabalhador - que só queria chegar em casa, tanto quanto eu - toda a minha raiva acumulada e potencializada pelo cansaço. Nem canções de paz e conforto puderam deixar minha viagem trabalho-casa menos cruel.

Voltando ao trabalho e ainda sem ritmo - que aviso logo que não será retomado antes do término do carnaval - a semana parece que se arrasta. A sensação que eu tinha hoje quando saí era que o fim de semana estava próximo, mas num lampejo de racionalidade infeliz em meio a minha sonolência abobalhada matutina, realizei que ainda era quarta-feira. Deve ser o tal do tempo psicológico, cujos únicos exemplos escolares saiam dos livros da Clarice Linspector, os quais não entendia direito à época: percepção de tempo, exemplos e livros, sem exceção. Devo a Clarice meu ligeiro retardo para entender questões filosóficas sobre o tempo.  Fiz mais coisa em três dias de trabalho do que em muitos de férias, apesar de crer que o motivo principal do meu cansaço seja o deslocamento entre minha casa e o trabalho. Ninguém pode ser feliz pulando de ônibus em ônibus. E, não, eu não moro longe do trabalho. Trabalho longe de casa. Isso faz toda a diferença.

Tudo isso não tem nenhuma relação com comida desse post, e mesmo as duas receitas não tem nada a ver uma com a outra. Isso empurra esse texto para a falta de sentido crônica. Só que até mesmo eu estar escrevendo feito uma louca a essa hora é uma forma de conectar todas as coisas. Empada, doce de abóbora e uma dose de alucinação [física e mental].

O fato objetivo é que tanto empada quanto doce de abóbora foram feitos no último fim de semana, a primeira no sábado e a segunda no domingo. Analisando o conjunto, tenho a nítida impressão de que fui acometida no fim de semana pelas mesmas motivações dessa fúria culinária em que me encontro hoje. Tanto que só agora estou interessada em escrever no blog sobre o fim de semana, porque estou pilhada na ideia de agarrar qualquer vestígio de tempo disponível fazendo trocentas coisas ao mesmo tempo.

Vou começar pelo doce porque estarei atendendo a pedidos. Todos já sabem da minha saga com a abóbora gigante. O que não sabem é que desde quando ela chegou a lâmpadinha "faça doce de abóbora" acendeu no meu cérebro levemente amalucado. Acontece que, prato vai, prato vem e nada deu mobilizar meus esforços sequer para procurar uma receita do tal doce, o qual eu ainda nunca havia tentado fazer. Até que, la estava eu vendo todos os programas de culinária do mundo na casa da Luciana na semana passada e começa um chamado Brasil no Prato, com nada mais nada menos, que Carla Pernambuco e várias quitandas. Dentre as receitas, qual não é a minha surpresa quando ela começa a preparar o quê? Doce de Abóbora. Era um sinal. Era o meu sinal. Era praticamente a Carla Pernambuco dizendo: "Vá lá fazer logo esse doce, menina."

Tá não foi assim, mas poderia.

No domingo, como ótima desculpa para usar todas as mil e uma funções do processador que comprei e foi entregue na sexta, comecei os preparativos para o doce ralando a abóbora em incríveis 30 segundos. O bicho funciona, apesar de ser um trambolhão maior do que eu estava esperando - destaque absoluto na minha cozinha que nem é tão diminuta assim. Óbvio que não me lembrava da receita completa, porque naquele dia a gente não viu TV com muita atenção. Só tinha certeza que um dos requisitos imprescindíveis era que a abóbora fosse ralada e isso foi dito com um "asterisco" pela chef. Certamente, não fossem essas maravilhosas máquinas modernas, o doce teria sido de abóbora em cubo mesmo, já que eu não ia ficar ralando meio quilo de abóbora na mão. Isso já não importa mais, com tudo preparado fui buscar a receita na internet e achei nesse site aqui.

Como não poderia deixar de ser não cumpri a receita a risca e coloquei um pouco menos de açúcar que o indicado. Para 500 gramas de abóbora moranga, 300 gramas de açúcar que ainda poderia ser menos, 100 gramas de coco ralado em flocos grandes, seco e do saquinho [o que fez o doce ficar com muito coco, já que a pessoa aqui não se ligou no momento que o coco seco não pesa o mesmo que o fresco], dois cravos, um pau de canela [que não era tão bonito quanto os do programa de TV] e um anis estrelado. O detalhe do coco não atrapalhou não e até acho que melhorou a qualidade do doce, dando uma textura bacana e meio pedaçuda.

Estou escrevendo isso desde ontem - não ininterruptamente, é claro - e agora preciso parar um pouco. Volto hoje ainda com a empada, e, só pra registrar minha louca noite de impeto culinário de ontem, quando parei de escrever por volta das 23 horas, com pão fresco para hoje pronto, saia do forno cerca de 1 quilo de granola caseira. Da série: evitando a periculosidade alimentar dos desprovidos de habilidade culinária.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Desafio: cozinhando sem recursos em cozinha alheia

Esse post começa com a conversa abaixo [cortei algumas partes menos interessantes]:

9:32 AM Luciana: ei, podiamos ir ao cinema
  o q achas?
9:33 AM me: Pode ser
  o que tem passando de bom
 Luciana: acho q nada...rsrsrs
  vou tentar pesquisar
  ta ocupada ai
9:36 AM não recebi nada seu no talk
9:37 AM me: vc não tinha um troço pra fazer hoje?
9:38 AM Luciana: teho, mas acho q vai ficar só na parte da tarde
9:40 AM me: a gente podia fazer uma coisa gostosa pra jantar e ver filmes
  já volto
9:43 AM voltei
  to no cafe
 Luciana: rsrsrs

22 minutes
10:06 AM Luciana: tomou café???? 
o q vc vai fazer de gostoso lá em casa, então]
10:54 AM me: sei lá
10:55 AM o que vc quer comer e não sabe fazer
10:56 AM e o que você quer ver
 Luciana: VAMOS NOS CONCENTRAR NA COMIDA, ACHO Q É MAIS IMPORTANTE
  rsrsrsrs
 me: blz
10:57 AM Luciana: pq assisitri algo, vai depender da minha frequencia de sono
10:59 AM me: então decidi ae
 Luciana: fala tu
11:00 AM lá em casa só tem...deixa eu me lembrar
  hummm
  nada
 me: ok, então a gente compra uê
  tem mercado não
11:01 AM Luciana: então, por isso q to perguntando qual será o menu
  pra eu passar no mercado antes d eir pra casa
  q tal pizza de pão de forma integral lingt de 100000 grãos
11:02 AM me: po ta me sacaneando
 Luciana: rsrsrsrsrs
  sabia q vc ia adorar
  é facinho de fazer
  e fica bom
11:03 AM então agora vc sugere
11:08 AM Luciana: ai, ai, ai
11:09 AM fala o q tenho q comprar chef
11:10 AM me: sei lás
  a gente se vira então com o que tem
11:11 AM Luciana: hahahahahaha
 me: cozinha de acampamento
 Luciana: ok
11:14 AM me: desafio: cozinhando sem recursos em cozinha alheia
  vai pro blog
11:15 AM Luciana: rsrsrsrs
  palhacita!!!!!
11:16 AM pensei agora num risoto
  o q achas?
11:18 AM me: muito bom
  de que?
  tem arroz na sua casa?
11:20 AM Luciana: tem arroz, alho, uns temperos lá que já me lembro quais são (daqueles de saquinho), cebola
  e...
 me: legumes?
11:21 AM Luciana: tem vagem cozida, q fiz ontem a noite
  e uma cenoura tb
  acho q acabou
 me: podemos fazer risoto de vagem e cenoura
  tem manteiga?
11:22 AM e queijo?
11:23 AM Luciana: tem margarina, serve?
  e azeite
  posso comprar o queijo
  pode ser qlq hum
 me: serve
  parmesão
  ?
  pode ser de saquinho
 Luciana: ok
 me: blz, então fechou
11:24 AM tem ovo?
 Luciana: montado nosso cardapio de jantar especial de sobrevivencia em cozinhas alheias sem recursos
  tem ovo
 me: viu eu to ficando boa nisso
  ótimo, vagem combina com ovo
  ontem jantei o que tinha em casa com apenas alface e batata
11:25 AM Luciana: kkkkkkk
  não tô dizendo q vc ta passando necessidades
 me: não é necessidade é preguiça mesmo
 Luciana: eu sei bem q é isso
11:26 AM então ta pronto mesmo nosso jantar
11:27 AM me: ok, quando sair eu te ligo para saber as coordenadas
 Luciana: kkkk
  ta bom

Depois de todo esse inquérito resolvemos o cardápio e fomos cada uma fazer as atividades chatas de trabalho que antecediam o jantar de quinta-feira. Detalhe que está é a mesma amiga querida para a qual prometi muffins na quarta. Tudo porque ela tava reclamando publicamente que não tinha comida em casa, causando uma grande sensação entre amigos e conhecidos do Facebook. Levei os muffins e ainda descolei uma jantinha muito da boa com os ingredientes que ela dispunha.

O calor estava de matar e a sensação térmica de umidade deixando o nosso humor levemente abalado. Quando cheguei na casa alheia lá estava ela prostrada no sofá seguindo o ventilados com o corpo e olhando vagamente para a televisão. Eu estava um caco, havia trabalhado três dias, mas pareciam 75, acabara de voltar de férias e o trânsito e a temperatura tornaram essa curta semana em um pequeno pesadelo pessoal.

Entretanto, nada como visitar velhos e bons amigos, dar umas gargalhadas de coisas que só fazem sentido para os que te conhecem e cozinhar como uma forma de fazer as coisas ficarem melhor. Acho que realmente estava precisando de um pouco disso, já que o processo de retorno ao trabalho é um grande trauma - e não só pra mim aqui em casa -, fazendo da vida da recém-retornada dos dias felizes de ócio uma grande frustração. A noite foi ótima, vimos uma monte de programas de comida - tudo bem que foi zapeando entre todos os canais, pois a Lu não consegue ver TV concentrada. Fizemos salada de frutas e um risoto de cenoura com vagem com poucos recursos temperísticos e nos movendo nuns 20% do que seria  minha cozinha. [Ela vai ficar brava quando ler isso, mas é a mais pura verdade] Ah! E também teve a mais deliciosa salada de tomates e alface que já comi em toda minha vida! [Foi a Lu quem fez e não quis dar a receita]

Esqueçam o risoto, olha que prato lindo!

Pra não dizer que não falei de comida segue a receita do risoto. Refogamos duas cenouras com alho no azeite. Enquanto isso, coloquei para ferver cerca de um litro de água com alguns dos temperos de saquinho que ela disse que tinha lá na conversa. Tinha um monte de temperos de saquinho, alguns até repetidos, usei apenas o que eu consegui identificar como óregano e cominho. Embora eu possa ter me enganado com isso também. Depois que a cenoura refogou um pouco juntei o arroz [uma xícara e meia pra poder sobrar pro dia seguinte - eu falei que risoto é pra comer na hora, mas alguém não ouviu] e fui colocando água e mexendo como é próprio para um risoto. Hoje eu acho que deveria ter cozinhado um pouco a cenoura antes de colocar o arroz, de modo que ela desmanchasse e deixasse o risoto um pouco mais cremoso. Quando o arroz estava cozido juntei a vagem duas colheres de requeijão e um punhado de queijo parmesão, que poderia ter sido mais generoso. Ficou muito bom e ainda fizemos um pouco de couve refogada e bem torradinha pra acompanhar.

Só tive que ficar ouvindo até o sono ser mais forte que a vontade de conversar que: "Eu nunca vi risoto sem frango! Por que você não falou que era pra comprar frango? Etc, etc, etc... E mais algumas frases com frango no meio." Tenho que responder que eu nunca vi ninguém ter um monte de tempero arquivado em casa e não saber qual é qual na hora de usar. Pois é, é isso mesmo que acontece. "Como você sabe qual é o tempero em cada vidro, Luciana? Eu não sei, vou colocando um pouco de cada um."

Depois do jantar ainda dei uma limpeza no computador dela e pedimos produtos da fazenda de orgânicos aqui perto de casa. Amanhã levarei para a Lu o bouquet de ervas que ela pediu e do qual eu fiquei tomando conta neste fim de semana para que não murchasse.

O jantar e o clima [da conversa, porque a temperatura...] foram muito bons e tenho certeza que foi o desafio culinário mais divertido que eu já fiz, superável apenas pelo próximo nesse mesmo estilo que ainda faremos, de preferência num dia em que o estresse esteja elevado no trabalho. Ou apenas por diversão! As fotos estão com a Lu e vou ficar aguardando ela me enviar para poder atualizar aqui. O tema das fotos ficaram tipo jantar improvisado em cozinha alheia com cara de revista de decoração. Com o povo falando: "Vai cortar o meu prato chic da foto?"