quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quanto mais férias, mais pão. Mais um de canela e passas

Lembra da história do pão de canela é passas que todo mundo ama? Pois é, testei outra receita na segunda e vou anotar aqui para não esquecer porque ficou bem melhor que o anterior, com muito mais farinha integral [perdi o medo da farinha integral?], sem ficar fermentando de um dia para o outro. Apesar de eu ter encharcado o pão além do que a receita pedia #paomeleca #manianova levando uma verdadeira surra para sová-lo e dele ter ficado mais baixo que um pão de forma convencional. Mas também, quem precisa de convenções quando se tem um devorador de pão de canela em casa e ele fica espetacularmente macio. No fim ele ficou até bonitinho e só ficou mais baixo porque fiz meia receita.

Pena que foto não tem cheiro

Chega de ficar escrevendo por hoje então segue a receita. Mais uma da Ana Elisa do La Cucinetta. E as modificações, além de reduzir todos os ingredientes pela metade.

Usei 150 gramas de farinha integral, 62 gramas de farinha comum, 150 gramas de água [foi aqui que afoguei o pão, fui achando que dava e colocando mais água - por que será que é tão difícil segui receita?], 1 colher de chá de fermento biológico seco,  uma pitada de sal, 1 colher e meia de chá de canela [queria o gosto pronunciado], 15 gramas de manteiga, duas colheres de sopa de mel e cerca de 40 gramas de passas claras e escuras hidratadas em um pouco de vodka, além de 2 míseros damascos perdidos no vidrinho que clamavam por algum uso decente.

Omiti o maple syrup e coloquei mais mel pelo óbvio motivo de não ter isso em casa. Ainda não procurei para comprar, mas parece que minhas desconfianças sobre ter uma árvore de maple aqui na rua, em frente a minha casa, estão sendo confirmadas. Estou bolando uns testes para ver como a planta se comporta, mas hoje, enquanto jardinávamos a frente do condomínio, um vizinho soltou a pista de que uma conhecida havia dito a ele que essa árvore era usada para fazer mel. Esse bairro é só alegria em termo de planta. Além de ter um monte de frutas [hoje comemos as amoras maduras e doces de um pé que na verdade é um pedaço de tronco, plantado a pouco mais de três meses, que estava caído por causa da chuva e não tinha nem raiz ainda], ainda pode ter árvore de maple.

Também deixei passar o lance de molhar leite antes de ir para o forno, porque eu estava um tanto quanto atarantada na cozinha. E a colher de açúcar que estava na receita original pegou gripe e morreu.

Só mais uma coisa: o cheiro desse pão no forno, é uma coisa absurda de boa.

Updated [04/02/2012]: estou fazendo esse pão de novo e dessa vez foi ainda mais água. Cerca de 200g. Também achei muito, mas é preciso anotar que a massa não fica mole como as feitas com farinha comum e por isso acho que acabei colocando mais. Também usei meia colher de sopa de fermento seco pra ver o que acontece.

Comida pós-festas e um novo conceito: desintoxicação preventiva

A cabeça privilegiada que mora comigo criou essa pérola a alguns dias atrás fazendo referência ao almoço que continha uma salada caprese e uns bolinhos de arroz: desintoxicação preventiva. No dia ele queria dizer que aquilo não era comida de gente e ele ia ficar com fome tão logo acabasse a última garfada. Ao que eu respondi, sem perder a compostura, ainda, que era o meu modo de lidar com a comilança de fim de ano, ou seja, sendo comedida e talvez um pouco econômica demais nas refeições cotidianas. Já posso sentir o cheiro do churrasco de fim de ano!

Pois é, então eu resolvi adotar o absurdo conceito de desintoxicação preventiva e estou caprichando na leveza e valor nutricional dos pratos servidos nesta semana de interstício festivo. Sem abandonar os nossos outros mantras culinários de evitar o desperdício e ser prático e rápido de ser feito [tenho notado que sem a carne na refeição e com os vegetais certos qualquer prato passa a ser rápido e fácil].Não posso perder de vista que tenho uma reeducação para manter e tudo fica mais difícil estando de férias - em casa o dia todo -, com o Natal e o Réveillon para eliminar a necessidade de bom senso gastronômico e abrir a porteira da permissividade e do exagero. Eu ando meio radical com essa coisa do exagero na hora de comer. Isso pode soar chato e inconveniente, e de fato até é um pouco dessas duas coisas, mas eu estou oficialmente, e porque não, instintivamente, trocando a quantidade pela qualidade.

Hoje mesmo estava pensando sobre isso depois do almoço. Acho que me sinto bem comendo pouco, e, como eu disse no momento em que pensei, gosto da sensação de acabar de almoçar e estar satisfeita mas ainda com um pouco de fome. O espaço da sobremesa a ser preenchido, apesar de hoje ter dispensado o docinho de depois do almoço para ficar com a boa sensação de quem quem come gengibre em um macarrão feito na medida para manter a saúde e a sanidade - nesses tempos de comilança - em dia.

Mas o macarrão do qual eu ia falar aqui não é exatamente esse com gengibre, mas sim outro feito anteontem com massa integral e um molho de alho poró espetacular. Apesar do molho não ter sido assim tão leve, vamos dar um desconto porque os amantes de creme de leite também merecem um agradinho de vez em quando e eu ainda tinha um restinho de creme de leite fresco na garrafa que eu não podia deixar ver a luz. Pra compensar usei uma massa do tipo fusilli integral muito boa, que acho que será minha marca favorita para macarrão integral. A coisa toda é muito fácil para ser executada.

Essa foto não reflete o sabor desse macarrão.


Básico de toda receita de macarrão: põe a água no fogo pra ferver. Enquanto isso...

Pegue a tigela ou panela que será usada para servir [nesse caso tem que ser de vidro ou inox ou qualquer material que possa ser aquecido] e coloque sobre uma panela de água aquecendo no fogão. Despeje nessa tigela o creme de leite, uma gema, queijo parmesão ralado e noz moscada ralada. Misture bem. No meu caso eu fiz um refogado de cebola e alho poró na manteiga e coloquei no creme também. Quando o macarrão estiver pronto é só escorrer, dispor ele na tigela, mexer para que o molho incorpore e pronto, vai do fogão para a mesa e é certeza de aprovação.

Eu ia parar por aqui, mas agora me deu vontade de falar do macarrão de hoje que também ficou muito saboroso e bem mais leve. Fiz com liguine de trigo durum e muitos vegetais. Dá pra imaginar os comentários? "Nossa, quantos vegetais! Que coisa mais colorida. [coloque aqui um ar de desconfiança]".

Seguindo a lógica do não desperdício, tinha congelado os talos e pedaços de folhas de um maço de brócolis  a bastante tempo. Hoje esse congelado saiu da caverna para dar o ar de sua graça em um prato digno de nota - apesar de não ter sido fotografado. Então em uma frigideira grande em fogo bem baixo coloquei um pouco de azeite e gergelim para que ele liberasse um pouco do sabor e aroma. Depois refoguei um dente de alho em lascas até dourar, um pedaço de gengibre [uma parte em lascas, mas quando a paciência acabou meti ele no ralador mesmo], os talos de brócolis, cenoura cortada em cubículos e tirinhas [os cubos ultra-pequenos de cenoura haviam sobrado crus de uma pasta de atum de ontem e usei eles no macarrão hoje, mas como achei que a composição merecia umas tirinhas piquei mais um tanto de cenoura só pra ficar mais bonito], uma pimentinha vermelha que não arde nada e eu não sei o nome em tirinhas. Depois joguei um pouco de molho de pimenta vermelha, uma pitada de açúcar mascavo, um quase nada de água e esperei o macarrão ficar pronto. Massa cozida al dente, ou até um pouco mais dura pois o cozimento não será interrompido, e escorrida - não sem antes queimar a mão com água quente que pulou da panela quando eu soltei abruptamente um dos cabos que estava quente. Depois de tudo isso, uns pulinhos de dor e uma bronca carinhosa, consegui jogar o macarrão na panela com os legumes, dar um banho leve de azeite em tudo e acrescentar molho shoyu. Deixei o macarrão dar uma fritada de leve na panela, sem grudar muito e finalizei com cebolinha, castanha do pará em lascas [o dia da lasca e da tirinha] e um pouco de sementes de chia [odeio o fato de elas estarem na moda e odeio mais ainda o fato de descobrí-las somente por causa da moda, mas parece que tem um valor nutricional muito bom]. Já nas nossas cambuquinhas o macarrão ainda ganhou algum parmesão como adereço, porque resolvemos que seria batizado como yakisoba de inspiração italiana.

Agora chega. As duas massas são ótimas é muito fáceis de fazer. Como dizem por aí #ficaadica

O que você faz

O que você faz quando está na sala vendo novela da tarde - coisas que só as férias proporcionam - e aparece um sujeito na porta que dá para a cozinha abraçado em um pote de tampa verde, sorrindo com cara de carrocho pidão e esse sujeito fica te olhando com essa cara e, sem falar uma palavra, vem até você no sofá, coloca o pote de tampa verde do seu lado e sai?

Resposta: Granola.

My First Perfect Angel Food Cake

No dia de Natal eu tinha todos os itens necessários para fazer um bolo clássico: o Angel Food Cake. Tinha, já pela manhã, claras de ovos descongeladas, receita marcada nos favoritos, curiosidade acerca da receita desconhecida até bem pouco temo atrás e, sobretudo, uma voz atrás de mim respondendo retoricamente "Porque você não faz um bolo?" a cada pergunta que eu fazia sobre o que comer. Só me faltava a disposição para a coisa, porque neste dia eu acordei levemente adoecida. Garganta doendo, corpo mole, a cabeça que parecia que ia explodir de tanta pressão, ao que eu só podia pensar em ficar prostrada em um canto da casa reclamando do meu infortúnio, apesar de ficar tentando me convencer de que era preciso tocar o dia como se aquilo não estivesse me afetando. O pensamento inútil!

Bolo perfeito!!!

Não havia, nenhum motivo aparente para eu ter ficado daquele jeito, além de eu poder contar nos dedos as vezes que fico doente - exceção aqui aos dias de indisposição pura e preguiçosa. O que me leva a única explicação [completamente lógica] plausível para isso ter acontecido comigo: uma punição. As forças natalinas ocultas [e conservadoras] estavam me castigando porque eu blasfemei e comi pizza na noite de Natal.

Sem ter o que fazer e com as ideias "zuadas" pela falta de discernimento que só um congestionamento nasal pode provocar, fui deitar um pouco no início da tarde e acabei caindo no sono. Foi o que bastou para melhorar um pouco a minha disposição e, principalmente o meu humor, que eram praticamente nulos até então. Entretanto, nada que me levasse cheia de entusiasmo a planos culinários radicais - nem sempre tão bons assim - ou sequer a "bater um simples bolinho". O que dizer então de um que eu nunca havia feito e que tem um milhão de fatores que podem fazê-lo desandar? Coragem, mulher, coragem! E um pequeno incentivo...

"Tá com fome?"
"Um pouco. Quer café?"
"Pode ser. Com torrada?"
"Você não tá afim de fazer um bolo, não?"

Não resisti. Venho protelando o bolo daqui de casa a algumas semanas, por pura falta de vontade de fazer um. Entretanto, bolo é uma coisa muito séria para o ser que divide esta casa comigo. Tanto, que é se alguém perguntar qual é a comida que ele mais gosta é bem capaz dele responder: bolo. Ele não dispensa nem bolo solado - tipo biscoitão - come de todos os tipos e sabores, preferencialmente os fofos e bem areados. A cobrança pelo bolo estava intensa, mas eu estava, estrategicamente, esperando que a visita a casa da mãe na semana passada aplacasse a abstinência temporária do menino. Nada feito! Só pra contrariar toda a lógica de visitas maternas, o bolo não aconteceu e nem um pote gigante cheio de quadradinhos fofos de fubá veio parar aqui em casa como costuma a acontecer.

Deste modo, o sujeito estava, como a Briget Jones, no limite da razão e proferiu estas belas palavras: "Nada do que meu estômago queria eu consegui comer hoje". Diante de tamanha frustração gástrica eu não tive muita escolha, embora tenha deixado claro que ele tem que parar que ficar me obrigando a fazer bolo. Ao que ele respondeu: "Eu não obrigo, eu só peço... Insistentemente."

Fui então para a cozinha, já no fim da tarde para preparar esse Angel Food Cake que a minha curiosidade culinária descobriu recentemente. Nada como acesso a internet para ampliar os horizontes da cozinha, pois eu nem sabia que essa receita existia, apesar dela ser um clássico. Mesmo sem ter pesquisado, desconfio que esse bolo tenha sido inventado por alguém que tinha claras sobrando, já que nada justifica você usar nove claras para assar um bolo [que se consegue com farinha, leite, ovos, açúcar e manteiga] se as gemas já não tiverem sido usadas em outra coisa. No meu caso não foi diferente, eu tinha todo o espólio do sorvete de baunilha e mais algumas que sobraram de um molho de macarrão. Daí que eu só pensava em usá-las nesse bolo e fui atrás da informação completa. Usei a receita que achei no La Cucinetta, substituindo apenas o cremor tártaro por vinagre, já que não tinha esse ingrediente em casa.

Foram muitos os preparativos, porque como parecia ter muita coisa pra dar errado eu não arrisquei ir pegando os ingredientes e fazendo tudo ao mesmo tempo. Ainda assim esqueci de separar a manteiga e fui pegá-la já com as claras na batedeira, toda enrolada pra pesar e colocar pra derreter, por sorte, no microondas. Peneirei os secos; pesei as claras e, desnecessariamente, acrescentei mais uma [me confundi com as quantidades da receita e fiquei pensando que eram 292 gramas quando na verdade eram 252]; cortei - igual a minha cara - o papel manteiga para forrar o fundo da forma e comecei a fazer o bolo propriamente dito. Massa - se é que uma coisa tão leve pode ser chamada assim - na forma, forma no forno e muita expectativa pra ver se ia dar tudo certo, até porque depois de tanta insistência fazer um bolo que desse errado não era opção. Mas sente o drama: o bolo é feito praticamente todo de clara de ovo, com apenas meia colher de chá de fermento, vai na forma sem untar para poder crescer e tem que esfriar de cabeça pra baixo. Nem nos meus mais absurdos sonhos culinários eu bolaria uma coisa assim.

Dressing Angel com calda caseira de cerejas.

Meia hora depois, o bolo estava esfriando com a forma virada sobre a grade ou como foi carinhosamente denominado aqui em casa, estava na caminha do bolo. Uma hora depois fui retirar ele da forma e estava perfeito, cheirando a baunilha e bastante uniforme na cor e no formato. Uma fatia depois e uma grata surpresa, pois o bolo era muito leve e fofo, que não nos permite fazer outra imagem a não ser a de estar comendo uma nuvem levemente esponjosa. Obviamente, descobri que ele tem um péssimo custo-benefício, sobretudo com um bolo-maníaco em casa, pois é uma delícia e você come e nem sente, logo, não durou 24 horas para acabar. Donde se conclui: fiquei só um dia sem a voz que pede bolos no meu ouvido.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal = verde, vermelho e "dourado" = pizza

Eu vou ia me limitar a anotar o processo para nem ousar tentar outra massa da próxima vez que for fazer pizza aqui em casa. Tanto que comecei a escrever apenas uma atualização da receita de pizza no post sobre a ex-melhor pizza desta casa, mas a minha capacidade de concisão é mais limitada do que os limites de um post e comecei a tagarelar demais, tendo que transferir para cá o resultado dessa verborragia.

O que o Natal tem a ver com isso?  A nova melhor pizza foi feita para o Natal na casa das pessoas pouco ortodoxas.

Olha ela no forno com a fumacinha saindo.

Resultado final: nunca mais peça pizza.


Usei 200 gramas de farinha, 50 gramas de semolina [dessa vez comprei semolina a granel na casa de produtos naturais e achei bem melhor do que a industrializada - parece mais grossa e a massa ficou com uma textura melhor], 1 colher de chá de fermento seco, 1 colher de sopa de açúcar, 6 a 7 colheres de sopa de azeite [não contei, joguei direto da garrafa], e, pasmem, 150 gramas de água gelada. A massa ficou uma meleca para sovar, mas usei aquele método bacaninha do Bertinet que funciona que é uma beleza para massas melequentas. Sem contar que é completamente válida a máxima de que quanto mais água, mais leve fica a massa, produzindo uma pizza que você come e nem sente.

Outro ponto importante é a quantidade de fermento, tenho percebido que quanto menos fermento melhor fica o sabor e a leveza. Claro que com isso o tempo de descanso aumenta em muito, mas é tudo uma questão de planejamento e boa vontade. Caso o planejamento não funcione, mais fermento e muito queijo também resolvem e fazem uma boa pizza em duas horas. Neste caso foram 8 horas de fermentação em duas partes. Depois das primeiras duas horas eu fiz o que se chama "foldar" a massa, que significa retirar o seu ar, pressionar até ficar chata e boleá-la novamente puxando as pontas para o centro. Fiz uma bola e foi novamente para a tigela para a segunda fermentação. Como deixei na temperatura ambiente, sem colocar a massa no forno desligado, ela ficou mais umas 5 ou 6 horas descansando até a hora de fazer a pizza.

Antes de abrir a pizza no entanto a massa precisa relaxar por uns 15 minutos para ganhar elasticidade novamente. O eu fiz nessa hora foi parar o filme que estávamos assistindo [que nem foi tão bom assim] e ir dividir a a massa em duas ou três partes, formando pequenas bolas que ficaram relaxando sobre a bancada beeeem enfarinhada.

O filme acabou com um dos piores finais que eu já vi e um pouco frustrada pela perda de tempo fui fazer as pizzas, que foram, de fato, a melhor coisa do dia. Abri a massa e para assar tenho usado um truque que melhora em muito a pizza feita no forno à gás, deixando o resultado muito parecido com uma pizza feita no forno a lenha. Utilizo uma forma de pizza de vidro que fica dentro do forno aquecendo o tempo todo. Monto as pizzas em outra superfície bem enfarinhada e deixo a massa escorregar para dentro do forno sobre o vidro bem quente. Isso garante a casquinha de baixo, mas também algumas queimaduras nas mãos, algumas pizzas em formatos esquisitos e/ou alguns desastres com cheiro de queimado. Ainda estou aperfeiçoando a técnica de jogar coisas no forno quente sem equipamento necessário, mas, como eu sempre digo, se você sabe fazer a coisa do jeito mais difícil com ferramentas mais simples, você sabe realmente fazer a coisa. O que significa, que quando o forno à lenha ficar pronto, já estarei bastante treinada para a tarefa de colocar a pizza lá dentro.

Como já se pode notar, o resultado ficou muito além do esperado. Massa extremamente leve e crocante, deliciosa e com todos os itens que eu espero em uma pizza. Comentários da noite:

Eu: "Agora sim, só falta o cheiro de mar mediterrâneo!"

O autor da ideia de fazer pizza no Natal: "Por isso que não dá nem vontade de comer fora!"

sábado, 24 de dezembro de 2011

Um post de emergência de uma receita que não foi ou salvando o Natal alheio

Esse é o primeiro post de uma receita que não fiz ainda, mas a intenção é nobre. Salvar o frango de Natal da amiga com dotes culinários ainda não desenvolvidos. Veja bem, eu disse ainda. É a minha boa ação desse ano.

Vou direto ao frango, porque não temos tempo a perder já que estamos a apenas 15 horas de comê-lo. Mais um desafio para essa receita? Não faço ideia dos ingredientes que a pessoa tem em casa - exceto o frango, é claro - então terei que apostar no óbvio para passar a receita.

Pela primeira vez também vou passar ela assim igual a programa de TV. Você vai precisar de:

Força, coragem, determinação, e

1 cabeça de alho
1 cebola cortada em rodelas
1 colher de chá de mostarda
1 colher de sopa de mel
1 limão ou 1 cálice de vinho branco
Bacon em fatias
molho shoyu [se tiver fica muito bom]
azeite
pimenta do reino
sal

"Pré-parativos"

Lave o frango para retirar todo o "temperado" que a embalagem diz que ele tem [o mundo seria um lugar perfeito se as embalagens não mentissem pra nós] e reserve. Corte a cabeça de alho ao meio, sem descascar, no sentido contrário ao dos dentes. Agora descasque uma banda do alho e reserve a outra. Em um processador [pode ser aquele pequeno que você não costuma usar] bata os alho descascado, a mostarda, o mel, o shoyu e um pouco de sal. Se ficar muito grossa a mistura pode colocar um pouquinho de água na solução. Depois de processada junte uma espremida de limão ou o vinho [esses são os veículos da solução] e azeite a gosto. Pegue o frango reservado, tempere ele com sal e pimenta, inclusive a cavidade entre o peito e as costas, faça alguns cortes superficiais nas coxas e besunte o bicho com essa mistura. Lembre-se de passar um pouco da mistura por baixo da pele com cuidado para não rasgar. Recomendo nessa parte, colocar o frango dentro de um ou dois sacos para que o tempero se espalhe nele como um todo. Guarde esse frango na geladeira por 6 horas [ainda temos 9 horas para o final do prazo].

Preparativos

Depois do descanso no banho de sais, retire o frango da geladeira e disponha ele na assadeira forrada com as rodelas de cebola. Coloque a cabeça de alho cortada ao meio na cavidade do frango. Delicadamente, levante a pele do peito com o dedo e introduza as fatias de bacon entre a pele e a carne. Feche as pernas do bicho com barbante e ele já está pronto para o forno. Guarde a mistura que ficou no saco ou no pote em que ele descansou. Agora você já pode ir tomar banho.

Forno

Cerca de 4 horas antes de o frango ter que servido [só pra garantir] asse o frango da seguinte maneira. Pré-aqueça o forno, coloque o frango lá dentro e deixe assar em com o forno baixo [cerca de 200º se ele tiver termostato]. De tempo em tempo abra o forno e regue o frango com a mistura que sobrou. Você deverá fazer isso umas duas vezes de meia em meia hora. O tempo de cozimento varia, mas deve levar cerca de 1 hora ou 1 hora e meia para estar pronto. Nos últimos 15 minutos aumente a temperatura do forno para o máximo para dourar bem a ave.

"Pós-parativos"

Eu sei, estamos adiantados, mas é melhor do que estar em cima da hora com o frango no forno e cheia de incertezas. Depois de pronto, retire ele da assadeira coloque no local em que será servido e cubra com papel alumínio e um pano de prato para mantê-lo quentinho. O líquido da assadeira pode ser usado para fazer um molho, assim.

Retire a gordura que fica na superfície [ninguém quer frango com gosto de entupimento coronariano], coe o líquido em uma panela e leve ela ao fogo médio com mais uma colher de sopa rasa de mostarda. Deixe reduzir. O que significa que o líquido ira evaporar e o molho ficará com menor volume. Se já estive muito reduzido e ainda muito ralo, coloque uma colher de chá de farinha de trigo e mexa.

Agora acabou é só enfeitar e servir.

Depois eu publico a história por trás desse frango.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Guia da autossuficiência doméstica: Episódio Sorvete de baunilha e a licença para uma sorveteira

Antes que eu me esqueça - lá se vai uma semana desde que esse sorvete foi feito - preciso dizer a imensa satisfação de fazer meu próprio sorvete. Pode ainda não ser o melhor sorvete de baunilha do mundo, mas aqui em casa - veja bem, eu disse em casa, o que significa que não poderei ter controle sobre escolhas alheias - o potão de 2 litros do mercado não entra mais. Pode ficar melhor? Pode. Essa opinião não é só minha, pois meu querido companheiro, paladar em treinamento, já soube bem a diferença brutal para o sorvete de "creme" comprado pronto. Acho que é por isso, essa diferença tão grande, que eles não põe baunilha na embalagem já que seria um grande desaforo.

Soverte de baunilha de verdade, um grande clássico, produzido em casa, de maneira meio rudimentar, batendo na mão de tempo em tempo e, ainda assim, infinitamente superior a qualquer outra coisa que a Nestlé e companhia insistem em chamar de sorvete. E depois disso, definitivamente, posso me considerar uma pessoa que gosta de fazer sorvete - mesmo considerando o suposto trabalho que venha embutido -, por isso completamente habilitada a ganhar minha sorveteira sem que ela se torne uma quinquilharia inútil do "Museu das Grandes Novidades".

Orgulho intenso!


Vejamos outro ponto: quando digo sorvete de baunilha de verdade estão envolvidas diversas questões para serem processadas pelos mais desavisdados. Primeiro foi feito de quê? De baunilha. E por mais que isso parece óbvio, não é. Na maioria dos casos, nós, simples mortais antes desprovidos de conhecimentos culinários, supomos ignobilmente que aqueles vidrinhos com líquido preto vendido no mercado como essência seja de fato alguma coisa feita de baunilha. Muitos inclusive não reconheceriam uma fava de baunilha de visse uma [até porque elas são difíceis de achar]. Entretanto, aquele líquido do vidrinho não é feito de baunilha, provavelmente todo produto de supermercado que se proclame "de baunilha" não o será e o sabor das pequenas sementinhas pretas retiradas da fava é verdadeiramente uma perdição.

Tudo bem que a fava de baunilha é cara para os padrões normais de qualquer outro alimento [paguei 8 pratas em umazinha só], já que precisa de um milhão de fatores pra ser produzida, além de um monte de gente pra fazer o trabalho da natureza e polinizar manualmente as flores. Apesar disso, compensa em muito o custo, tanto pelo sabor incomparável quanto pelo rendimento. Exceto pelo fato de se você, como eu, estiver muito empolgado com o cheiro inebriante da fava aberta colocar todas as sementes da fava no sorvete, que apesar de delicioso, ficou baunilhosíssimo. Uma solução meio termo, a qual já estou providenciando, é fazer o extrato de baunilha por conta própria, com algumas favas e um veículo alcoólico que extraia o sabor das sementes.

Um outro problema é que, além de cara, a baunilha é difícil de ser encontrada para vender. Tenho a impressão de que não é muito procurada pelas pessoas em geral, a não ser os muito aficionados. Procurei durante um bom tempo até encontrar a venda em uma lojinha de produtos naturais, surpreendentemente, aqui mesmo na minha cidade. O engraçado foi que quando eu perguntei para a atendente na loja se ela tinha baunilha ela respondeu "Ih, mas eu só vou ter assim, quer ver? Em fava", trazendo um saquinho de baixo do balcão com um monte delas. "Mas era exatamente assim que eu estava procurando". Nem pensei muito e comprei uma, só pra experimentar, já sabendo que a cobaia seria um sorvete clássico.

Entretanto, eu tenho um karma-pessoal-climático com sorvete. Como já disse, é só eu fazer sorvete que o tempo vira e chove durante longos dias. Nesse caso, o produto nem precisou ficar pronto. Foi por eu achar o ingrediente mais difícil do sorvete de baunilha que o verão de 2012 está sendo chuvoso e mais frio que o normal. E todos pensando no aquecimento global. "Rá!"

Na semana passada, uma nesga de sol - como diria meu querido companheiro - apareceu e eu já tava no embalo culinário [com direito a faxina e tudo - acho que essa faxina me traumatizou porque eu tô repetindo isso de novo] propício para toda a tarefa de fazer o sorvete. Creme de leite comprado, ovos caipiras bem bonitos e todas as músicas do Queen no playlist. Não sei porque, mas meu espírito levemente amalucado de sábado passado achou que Don't Stop Me Now combinava perfeitamente com ir fazer sorvete. Perdoem-me a sandice, mas ainda acho que combina, incentiva o sujeito a continuar mesmo sabendo que vai demorar a poder comer o resultado do esforço e, quiçá, ajuda a receita a não desandar. Então, toca o Queen que não tem erro.

Utilizei a receita, não sem antes fazer inúmeras consultas [baunilha é cara e eu precisava ter certeza], que todo o universo de food bloggers usa: a do David Lebovitz, que consta no livro do moço e aqui ó. Fiz a versão francesa e não a "philadelphia style", pois como já disse, eu tenho um certo apego a clássicos da culinária e a França já era França antes de a Filadélfia sequer sonhar a existir como tal. Então vamos por ordem cronológica de tradições, contrariando todas os historiadores mais moderninhos. Até porque acho que variações, apesar de bem-vindas, por devaneio ou necessidade, só devem ser feitas em coisas que se conhece com um mínimo de propriedade e descobri que baunilha e seu sorvete não faziam parte do meu repertório de experiências gustativas ainda.

A receita foi seguida quase a risca mas coloquei um pouco menos de creme de leite, cerca de 360 ml ou uma xícara e meia, e um pouco menos de açúcar, cerca de 130 gramas. Não usei o extrato de baunilha, mas coloquei a mesma quantidade em vodka, porque o álcool ajuda nos processos, segundo os entendidos.

Depois deixei gelando por umas 6 horas e foi tudo pro freezer. O sorvete feito sem sorveteira teve que ser batido manualmente de tempo em tempo para evitar a formação de cristais de gelo. Duas vezes na primeira hora e mais duas vezes de hora em hora. Vale totalmente a paciência e ficar tomando conta do sorvete.

Como era previsto meu karma climático não falhou mais uma vez. No domingo, dia em que o sorvete poderia enfim ser comido o dia amanheceu cinza, frio e chuvoso. Clima zero para sorvetes e em mim a preguiça descomunal que me acomete no pré-férias [eu fico profundamente preguiçosa, mal-humorada, e ao mesmo tempo negligente e preocupada com o acúmulo de trabalho devido a preguiça anteriormente citada pouco antes do início das férias - e todo ano again and again]. Então, por incrível que pareça, não comemos o sorvete no domingo. Pior, tinha comprado um panettone pra comer junto e ele também resistiu bravamente fechadinho na embalagem.

O fim da história que já tá meio longo? Na segunda, mesmo o tempo ainda estando lusco-fusco, eu cheguei doida pelo sorvete, menos pela sobremesa em si e mais pela curiosidade de saber como ficou o resultado. Pote na mesa depois do jantar e ao colocar a colher [que não era de sorvete - ainda não tenho - eu sei, podem me bater agora] muito duro. Espera um pouco até dar aquela derretida e serve sem nada par acompanha, afinal era um teste. O sabor ficou indescritível. Muita baunilha, um creme lindíssimo pontilhado de preto, sem gosto de gordura hidrogenada, emulsificantes e petróleo, e, principalmente, sem aquela sensação de estar com gordura velha na boca depois que você come. Macio na medida certa, com uma ótima textura que derrete na boca e os veredictos:

Sorvete do mercado never more.
Sorveteira coming soon

E o comentário do crítico de culinária mais sagaz de todos:

"Acho que podia ter menos açúcar, você não acha?" Apesar de inconveniente o comentário me deixa orgulhosa, pois o programas "Como treinar [o paladar do] seu marido" está funcionando.

Algumas notas:

O problema do sorvete duro demais foi resolvido diminuindo um pouco o termostato do freezer, jpa que por essas terras a temperatura é amena.

O problema do açúcar, por incrível que pareca, já havia sido detectado pelo meu querido companheiro antes mesmo do sorvete ir para o congelamento. Logo, "it's works"!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Legado do pão que não deu certo: a melhor pizza nunca antes feita na história... dessa casa

Sábado foi dia de pizza. Tudo porque eu tinha - eu precisava - experimentar fazer a minha massa de pizza tradicional com o fermento que sobrou do pão que não deu certo na semana passada só para ver como uma pizza iria se comportar. Além disso, estava no fim de semana de experiências culinárias [em todos os sentidos], que incluiu fazer um clássico sorvete de baunilha "de verdade", usar um fermento vivo guardado a uma semana, tudo isso com uma faxina no meio.

A história do fermento é a seguinte: na semana passada estava com vontade de tentar um pão mais complexo e fui atrás essa receita que já estava marcada para ser feita a bastante tempo. Como a vontade de fazer o pão era grande, mas alguma coisa deve ter desandado no meu dia, o pão não ficou bom, não passou nem perto do que experimentou a autora da fonte consultada com o seu pão quase sourdough. Pior que levei o dia inteiro fazendo o fermento e o pão. Comecei pela manhã e fui assá-lo já eram umas sete da noite.

Nem tudo se perdeu nessa história, porque um pão ruim pode virar várias coisas além de peso de papel e lixo orgânico. Ainda mais que no meu caso, comida alguma feita deliberadamente vira lixo orgânico impunemente, salvo casos em que a coisa queima ou estraga [o que nem me lembro a última vez que aconteceu]. O pão foi comido como tal, em seu estado acabou de vir ao mundo na forma de pão, mas também como torrada, crouton de salada e brusqueta. A parte isso tudo, a melhor sobra do pão foi o fermento que não foi usado por completo na receita. Ficaram lá indefesos e solitários exatos 100 gramas de fermento feitos, tudo bem, a partir do fermento biológico industrializado, mas certamente evoluído pelas longas 6 horas que ficou levedando.

Essa pequena parte de massa ficou na geladeira esperando sua oportunidade de virar alguma coisa de comer. Como um fermento como esse trabalha lentamente na tarefa de fazer a massa crescer, o tempo que só dispomos com propriedade nos fins de semana foi crucial para que "aquilo" que estava na minha geladeira pudesse se transformar na melhor pizza já feita em todo esse tempo vivendo neste lar que, convenhamos, foi sempre de muita pizza caseira.

Primeiro tinha que saber se a cultura de seres que habitavam o fermento ainda estavam vivos e na impossibilidade de perguntar isso a eles tive que misturar a massa disponível 1 colher de sopa de farinha e duas colheres de sopa de água. Isso ainda era quinta-feira à noite. Depois de uma noite descansando e se alimentando - temperatura ambiente - meus fungos começaram a manifestar seu contentamento por estarem bem vivos e pude prosseguir com preparativos necessários para torná-lo incorporável a massa da pizza. O pequeno pote em que ele estava acomodado "acordou" com a massa toda cheia de bolhas e com a tampa levemente suspensa devido a intensa atividade.

Já com os sinais vitais restabelecidos o fermento voltou para a geladeira até a noite de sexta, quando então misturei metade dele [+ ou - 50 gramas] com o seu mesmo peso em água [50 gramas] e o dobro do seu peso em farinha [100 gramas]. Essa espécie de regra de ouro dos fermentos eu retirei do livro Crust do Richard Bertinet e já adianto que haja férias para eu colocar a leitura culinária em dia. 5 livros de papel e mais um monte de textos em PDF.

Tudo isso para chegarmos ao sábado, o dia da pizza. Mesmo parecendo meio insano levar três dias para se fazer uma pizza eu tenho que confessar que o sanatório me espera, já que acho o caminho percorrido tão divertido quanto o destino para onde ele nos leva. Argh! que coisa mais brega!

No sábado de manhã, totalmente disposta a passar o dia na cozinha [mesmo não sabendo que boa parte desse tempo eu ia ficar limpando ela], lá fui eu fazer sorvete e pizza. Não vou me estender sobre o sorvete nesse post, embora a façanha mereça ser contada em outra ocasião. Já a pizza foi amassada com 150g do fermento [as 50 gramas que sobraram eu descartei porque não tenho pretensões panificadoras até depois do natal],  200 gramas de farinha [pesei 250 gramas, mas ficaram 50 gramas na balança], cerca de 125 gramas de água, mas pode ser menos, porque não conferi o que ficou no copo. Além do básico, um pouco de azeite, colocado diretamente sobre a farinha no início, um pouco de açúcar e sal, todos medidos no olho.

Uma vez amassada a futura pizza foi para o descanso de algumas horas, devidamente besuntada de azeite. Devia ser mais ou menos meio dia quando acabei de sovar a massa e por volta das duas da tarde retirei ela do descanso e dei mais uma amaciada, dobrando bem as pontas sobre a massa e fazendo novamente uma bola. Então ficou descansando por toda a tarde até ser moldada e assada por volta das oito horas da noite. Sem dúvida, essa massa foi a melhor que eu já fiz, com o sabor levemente azedo e muito aerada - como é próprio das massas de fermentação longa. A pizza ficou macia, muito macia e foi belamente agraciada com um molho de tomate caseiro, manjericão da horta e mussarela de búfala. Mereceu o comentário, dessa vez proferido por mim mesma: "Pra Itália, só falta o cheiro de mar!". Espero que não pareça pretensioso de minha parte, mas de fato dei até voltas felizes e eufóricas pela cozinha quando mordi o primeiro pedaço. E, como nunca fui à Itália, posso dizer que criei em casa a minha própria versão idealizada que que seria estar lá. Se vai corresponder ou não, é outra história.

Eu confesso, roubei na foto.
Além de tudo a massa ficou elástica na medida certa, uma vez que pode ser esticada sem rasgar.

Update [26/12/2011]:

Esse vai ser um update longo...

A foto acima é uma trapaça. Não é a mesma pizza que vem descrita no post. Tudo porque no dia em que a ex-melhor pizza desta casa foi feita a câmera - que já não é lá essas coisas - estava com a bateria a carregar e as fotos que consegui com o celular são impublicáveis, sob o risco de arruinar minha parca reputação culinária.

Só que a pizza que aparece na foto deste post também foi feita por mim, o que ameniza um pouco o grau do delito - eu não peguei a foto de nenhum outro lugar. Ela é, nada mais nada menos, que a nova melhor pizza já produzida nesta casa, com a diferença de apenas uma semana entre uma e outra. É praticamente um recorde. Sem contar que a nova melhor pizza foi feita para o jantar de Natal nesta casa de pessoas pouco ortodoxas.

Comecei a escrever aqui, mas resolvi passar as anotações para um outro post, porque, como sempre, eu não tenho limites quando começo a escrever neste blog. Queria ser assim com meus trabalhos para o mestrado e a dissertação. Como a coisa flui quando o objetivo é a falta de necessidade .

sábado, 17 de dezembro de 2011

Couscous marroquino e faxina, uma combinação quase perfeita

Eu hoje acordei virada do avesso. Não literalmente é claro, mas, digamos, em termos de espírito. Normalmente meus fins de semana são de cozinha e preguiça. Cozinha para cozinhar, apenas. E preguiça por todos os poros que só me permite fazer - além de cozinhar é claro - o extremamente necessário que tenha que ser terminado antes de a segunda chegar, ou seja, obrigações de todo o tipo - trabalho ou estudo. Surpreendentemente, meus fins de semana também tem sido ocupados por outra tarefa quase viciante, até então bem pouco explorada, que é ficar escrevendo sobre comida neste blog que vos fala.

Mesmo as tarefas que faço obrigada nos fins de semana são de cunho absolutamente intelectual, feitas sentadinha na frente do computador e que beiram a monotonia de uma alma preguiçosa. Mas hoje, não! Hoje minha alma acordou com uma "Maria" embutida. Estava muito mais disposta para tarefas hard, em que cujas habilidades braçais do ser humano sejam exploradas em proporções maiores que o intelecto. Tanto que essa frase saiu da minha boca, apesar de agora, escrevendo sobre isso, nem eu mesma acredite [taí a vantagem de escrever um blog]:

"Amor, vamô lavar o chão da cozinha?"

O espanto não foi só meu, mas de fato lavamos não só o chão da cozinha como os armários, fogão e geladeira, num espasmo faxineiro de uma vez só. O faxinão do Natal, tal como minha mãe costumava a fazer mais ou menos nessa época do ano, em que todo um ritual era executado como que preparando o lar para a data festiva. Pelo menos confio que a minha sanidade mental está em dia por saber que não cheguei no nível de pendurar 2000 pisca-piscas em volta de todas a fachada da casa como um letreiro de estabelecimentos comerciais [ou não] de mal gosto.

O resultado comestível dessa história do faxinão, que achei que nem fosse postar, dado ao meu espírito virado de hoje, foi uma salada completamente nutritiva e fácil de fazer com couscous marroquino, esse ilustre desconhecido. Veja bem, estávamos na maior batalha contra as sujeiras e gorduras, cansados e famintos e ainda assim, esse prato foi tão "Quick and Easy", que mesmo com a cozinha toda virada não apelamos para o sanduíche de pão com ovo. A preparação dele me habilitou completamente para a função de cozinheira em lugares inóspitos, visto que foi feito em um dois palmos de pia, com pouquíssimos utensílios e montado nas mesmas tigelas em que comemos, ou seja, quase nada de louça no final.

Conheci o couscous nas andanças pelos blogs e sites de comida na internet e hoje reverencio-o completamente. O troço fica pronto em 5 minutos assim: coloca-se o couscous em uma tigela [com certeza a mesma em que irá comer], deixa ele hidratar com água quente por 5 minutos e pronto. No meu caso eu misturei com tomates cerejas cortados em quatro [eram tomates quase laranja de tão grandes], aipo, queijo minas em cubinhos, passas pretas e uvas cortadas ao meio. Depois é só temperar com azeite, sal e pimenta síria e se alimentar com uma refeição saudável e nutritiva. Quanta mudança nesses hábitos!!

A combinação é quase perfeita que esse negócio de caboclo limpador não se cria comigo, não e já cantou pra subir tão logo a faxina começou. E vem vindo a vontade de se jogar no sofá e ficar por lá mesmo.

Respostas Objetivas para Questões Existenciais: como fazer um caldo grosso de feijão sem amassar os grãos

Não, eu não sei porque alguém faria uma pergunta como essa, já que é perfeitamente sabido que amassando os caroços de feijão o caldo fica mais grosso. Mas, sim, essa pergunta me foi feita mais ou menos assim.

"A minha tia faz um feijão muito grosso e não usa nada para amassar ele. Fica muito bom. E eu não sei como ela faz. Ela não quer me dar a receita. Como é que faz?"

Como essa história já ocorreu a algum tempo, pode ser que não tenha sido exatamente como o relatado, mas está valendo assim mesmo. Também não sei se esse problema de feijão já foi resolvido pela maior interessada, mas se não aqui vai o passo a passo à prova de falhas. Quem disse que um bom caldo de feijão não pode ser uma questão existencial? Ou pelo menos ter a importância que o feijão, esse estranho ingrediente comum, merece?

Então, esse post de hoje tem nome e endereço certos, vai para aqueles [ou aquela] que tem problemas em cozinhar feijão com propriedade. Na verdade eu já vinha pensando em escrever sobre como fazer um feijão mais saboroso a mais tempo, pelo menos desde que eu mesma fiz um apanhando de dicas para a preparação sair do jeito que eu acho que deve ser: com os carolos desmanchando e o caldo bem grosso. Entretanto estava esperando a oportunidade de refrescar minha memória colocando em prática os métodos culinário-místicos do bom cozimento do feijão, já que não cozinho o dito grão com tanta frequência assim - meio quilo de feijão aqui em casa dura décadas. Seguem então o registro, para nunca mais esquecer e ajudar os menos hábeis, das minhas impressões sobre o tema.

O que é preciso para ter um caldo de feijão decente na sua mesa? Um plano infalível! Aí vai ele.

Primeiro de tudo, é preciso, sim, escolher o feijão. Eu mesmo achava que essa regra podia ser pulada até morder alguma coisa não tão macia assim que fez até meu cérebro trincar. Era uma pedra!! Escolha os melhores grãos e descarte sem dó:

os muito velhos. Sim, você vai sentir que ele tá velho.
os meio podres. Quase sempre esses desprivilegiados são também deformados.
as pedras. Você não vai querer trincar o cérebro.
os que parecerem estranhos. Esse método científico consiste em olhar bem para o grão e pensar: "Eu comeria isso?"

Nessa parte ainda estaremos a 1 dia inteiro, ou pelo menos uma noite, de comer o feijão então é preciso planejar o cozimento com antecedência e claro fazer mais do que o necessário para uma refeição e congelar o resto. Não há cristão que possa sobreviver tendo que cozinhar feijão todos os dias só porque alguém é tão absurdamente chato que dê importância a isso.

Ah! Todos métodos foram testados meticulosamente com meio quilo de feijão. Para quantidades maiores ou menores - não não valem a pena e o gás - utilize essa poderosa ferramente chamada matemática.

Então, depois de escolher os grãos vencedores coloque-os de molho em cerca de 2 litros de água fervente. Esse molho deve durar 12 horas. Deste modo, o ideal é fazer isso na noite anterior ao preparo para que o banho do feijão não seja alvo de brigas, inquéritos ou fome extremada.

No dia seguinte o feijão deverá estar mais macio e com um resto de água preta e meio nojenta. Essa água deve ser jogada fora e os grãos lavados algumas vezes. Feito isso, coloque em uma panela de pressão cerca de 3 litros de água e algumas folhas de louro. Não coloque sal! Quando a água estiver fervendo, jogue o feijão dentro da panela e espere até que o caldo volte a ferver. Nessa hora, tampe a panela, abaixe o fogo [importante] e deixe cozinhar de 15 a 20 minutos.

Passado esse tempo, faça todos os procedimentos para abrir a panela corretamente e verifique se os grãoes estão macios mordendo alguns deles. Se tudo estiver certo é porque funcionou e na hora de temperar o feijão o caldo engrossará com certeza.

Se acabou de cozinhar o feijão, tudo deu certo e sua paciência ainda não se esgotou, faça como eu e não perca a oportunidade de tomar um caldinho de feijão grosso, puro, como nos mais renomados e|ou decadentes botecos. Para isso basta ter feijão com mais caldo que caroço [no meu caso umas três conchas], um pedaço de linguiça calabresa cortada em cubos, meia cebola cortada em cubos, 1 talinho de salsão picado, um pedaço de alho poró picado e o seguinte tempero feito no pilão novo [na falta de pilão utilize o processador]: 3 dentes de alho, dois ou três grãos de pimenta branca, três folhas de sálvia, um pouco de pimenta rosa, uma pitada de sal. Refogue todos os temperos em uma panela, que não é a do feijão. Quando o tempero estiver bem moreno, sem queimar, junte uma concha de feijão, misture um pouco para apurar e despeja a mistura na panela em que está o restante do feijão. Deixe no fogo até engrossar e depois coma prazerosamente com um fio de azeite, um pouco de alho frito e se possível uma montinho de couve quase torrada na mesma panela em que os temperos foram refogados.

Conforto em caldo

Refeição magnífica que não precisa de acompanhamentos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Auspícios da vida no campo: ou surpresas agradáveis mesmo contrariando toda a lógica

Aviso: Este não é um conteúdo sobre comida. Pode até ser um conteúdo anticomida.

Tudo começou com uma bucólica, embora cinza, manhã de sexta-feira em que todos os moradores daquela casa estavam felizes por estar em casa e não no trabalho. Já bem alimentados, após um café da manhã tomado em ritmo lento, sem pressa alguma de ter que sair para fazer qualquer coisa desagradável fora dos 80 m² que os cercam. Satisfeitos em poder desfrutar de todo ócio de um dia como este emoldurado pela bela paisagem verde que ornamenta suas janelas todos os dias. Definitivamente, um dia para ser saboreado.

Nem mesmo a rotina doméstica seria capaz macular esse bem-estar de poder fazer ou não a faxina, de ter uma cama a alguns degraus de distância e todo o tempo do mundo para as pequenas coisas simples como cozinhar e planejar o que cozinhar.

Eis que a moça começa os afazeres de limpeza na cozinha. Lava a pouca louça do café, já que estivera tão contente, ao saber que iria acordar devagar e num horário humanamente aceitável, que já havia lavado boa parte do que estava sujo na pia na noite anterior. Então começa a organizar todo o entorno, colocando os mantimentos em seus devidos lugares, secando e guardando a louça limpa e limpando a mesa em que haviam tomado café. Por fim foi passar um pano sobre a bancada da pia, de modo a remover todos os farelos e sujeiras que encontrasse, abrindo caminho para a preparação do almoço.

Guarda a máquina que serve para tostar pão, muito utilizada em caso de emergência culinária, delicadamente e com cuidado leva a fruteira - finalmente cheia tanto que pesada - para cima da mesa limpa, leva para pia o copo padrão usado para facilitar o consumo de água, pega um termômetro, desses para mediar a temperatura ambiente, que estava indevidamente escorado entre a parede e a bancada da pia. E quando vai ao encontro de um cacho de bananas para enfim ver a bancada livre de qualquer coisa que pudesse atrapalhar a sua limpeza se depara com uma forma estranha, meio amarronzada, encostada no vértice formado pelo final da bancada junto a parede.

Inicialmente ela pensa, já espraguejando os menos organizados, que no caso poderia até ser ela mesma. Como esse filtro de café usado foi parar aí?

Ao que se aproxima do suposto filtro de café e chama o companheiro, que no momento estava a varrer as escadas, em um tom de voz um pouco acima do normal e pouco abaixo de um grito.

"Vem cá, rápido! Anda! Olha isso!?"

Ele olha e seu gesto de por uma mão sobre a outra e as duas sobre o peito, inclinando levemente o corpo para trás, denuncia a mistura de susto e admiração que sentiu naquele momento.

"Vou lá chamar o vizinho para ver!"

"Entra aí, chega aqui na cozinha pra ver uma coisa." É o convite sendo feito.

O vizinho também chega para ver a atração do dia e tentar confabular com o "homem da casa" um jeito de tirar aquilo dali. Seguem-se momentos de tensão e várias explicações de técnicas mirabolantes de como executar um resgate sem erro.

Eis que um dia normal vira um acontecimento simplesmente porque enquanto você está arrumando a sua cozinha encontra isto dormindo nela.

Note a calma e preguiça da bichinha


Apesar de parecer um contra-senso eu fico feliz de encontrar um bicho pegajoso como este na pia da minha cozinha só para dizer: "Ah! A perereca já morava aqui antes da gente chegar". Isso me coloca em contato com coisas que valorizo como o simples fato de vir um monte de gente tentando resgatar o bichinho e colocá-lo de volta no mato ou na água.

Aqui ela após o resgate,  livre para saltitar pelos campos


Depois de ser encontrada a perereca foi retirada da cozinha e colocada perto do portão do condomínio com um monte de crianças curiosas em volta pra poder ver "o sapo, o sapo". A bichinha deu um pulo do chão ao muro e voltou a dormir, que acho que era o que ela havia ido procurar fazer toda encolhida e quietinha sobre a minha pia atrás do termômetro escorado na parede.

PS.: Toda essa pequena confusão matinal foi filmada e documentada para consultas futuras ou apenas para divertimento dos que nos visitam. O filme "O Resgate da Perereca" conta com cenas de ação, tensão, hesitação, emoção, natureza selvagem e doméstica, estrelando "os salvadores de perereca".

Prelúdio de férias é café com panquecas.

Esse post está completamente fora de ordem. Era para ter sido escrito na terça-feira, dia em que tudo o que será contado aconteceu de fato, o que também deixaria o relato com mais sentido. Mas entre comer e escrever as coisas não saem lá muito como planejo, Na terça-feira, o final do meu dia foi muito corrido e meu fôlego [inspiração] para as letras não estava lá essas coisas.

Enfim, tudo que eu sei é que ficar em casa em um dia de semana é muito bom e foi exatamente o que me ocorreu nesse dia [não perca a conta, estamos falando de terça]. Devido a milhares de combinações cósmicas de eventos únicos [parece conversa de físico] eu pude me abster de trabalhar e aproveitar um dia inteiro em casa. Por isso que chamo esse dia de prelúdio de férias, já que nelas ficamos em casa vários dias úteis como o melhor dos bon vivants, pelo menos até onde seus rendimentos alcançam. E... Cafés da manhã em dias de ócio podem e devem ser feitos com menos pressa e mais novidades, tal como panquecas.

Agora que já deu pra entender a lógica do título do post, passemos a história das panquecas. Não exatamente toda a história da relação entre a panqueca e a humanidade, mas apenas uma breve ideia de como esse café da manhã surgiu. Como já sabia que ia ficar em casa pensei em "porque não fazer panquecas para o café amanhã". Até aí tudo bem, mas a parte estranha dessa história é que quando tive o pensamento, imediatamente, este post que agora escrevo foi sendo desenhado pelos meus pobres neurônios não muito ortodoxos. a começar pelo título que surgui tão logo eu imaginei a cominação panquecas + férias.

O que me leva a uma conclusão meio sinistra, pelo menos pra mim. Será que vou começar a comer o que escrevo? No lugar de escrever o que como? Trata-se de uma questão profundamente filosófica sobre o quanto  a sua cabeça pode ser esquisita e trocar os papéis das coisas. No mínimo é coisa de um lunático que só não é mais insana do que escrever tudo isso. Apesar de tudo só o futuro poderá dizer se ficarei viciada em escrever sobre comida e se isso vai atrapalhar a comida que faço. Por hora, acho que tenho que parar de ler Orson Welles.

Terra chamando.

As panquecas ficaram ótimas, "by the way". Usei uma receita clássica de café da manhã estadunidense [o povo da história mais radical e mais latina adora essa palavra] substituindo 30g da farinha comum por fibra de trigo por causa daquele lance dos alimentos com mais teor de fibras e tal. [Heidi Swanson Style]. A receita original está no livro do "Le Cordon Bleu", Todas as Técnicas Culinárias, mas fiz algumas modificações nas proporções pra deixar a panqueca mais molinha. Nesse momento, estou me sentido uma esnobe feliz, que além de agora citar receitas de "livros" de instituições ultra clássicas [e um tanto conservadoras, é verdade], modifica as "proporções". Oh! As proporções modificadas! Então, foram 120 gramas de farinha, 30 gramas de fibra de fibra de trigo, 150 ml de leite, o único ovo que tinha na geladeira, 1 colher de chá de fermento químico, 1 colher de chá de açúcar, 1 colher de chá de manteiga e uma pitada de sal. Bati tudo no mixer, que é um equipamento de cozinha super cool [isso quer dizer útil], e depois fui fazendo as panquecas na frigideira quente, não sem ter um imprevisto. A massa ficou muito líquida e depois que a primeira ameba saiu da frigideira eu achei por bem colocar mais uma colher de farinha na massa e bater bem.

Essa massa não pode esparramar na frigideira como aquela para rechear e enrolar, que conhecemos desde a mais tenra infância como panquecas mas na verdade se chamam crepe. Ela tem que ficar mais firme e fazer um disco gordinho que fica assado e se come com cobertura. Eu gosto delas com um mínimo de massa crua por dentro, não me perguntem porque. Então tento não deixar tempo demais na frigideira. Pra não dar problema eu despejo uma porção da massa - não que não tenha tentado colocar duas porções, mas elas insistiram em se unir, literalmente, contra mim - espero que umas bolhinhas pequenas apareça e viro o mais rápido que posso. Com discos menores também fica mais fácil virar sem fazer nenhum formato esquisito de coisa esparramada.

Comemos as panquecas com uma cobertura não muito clássica, mas nem por isso ruim, que foi geleia de jabuticaba caseira. Em algumas eu passei manteiga. Estava ótimo, além de ter nos livrado do pão que não deu certo logo pela manhã, o que poderia colocar nosso humor em estado letárgico por um bom período de tempo. Essa receita também quebra um galho quando não se tem nada em casa, pois leva poucos ingredientes e uma pequena quantidade de cada coisa faz um montão de panquecas. Acho que deram umas oito ou dez pequenas.

Não tirei foto das mesmas, porque quando acabei de fazer já estávamos com fome e ainda com a mesa da cozinha toda bagunçada. Só que a audiência vem cobrando pelas fotos no blog. Então como nada nesse posta faz muito sentido mesmo,  tornando-o quase uma versão literária de uma pintura surrealista de fundo esquizofrênico coloco uma foto da brusqueta que comemos de noite com o resto do pão que não deu certo. Pelo menos assado e cheio de molho ele ficou mais palatável. Jogar fora é que eu não vou! Zero wasting!

Belas brusquetas para um pão meia boca

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Para um jantar quente! Creme de lentilha picante com fubá

Eu tava afim de uma comidinha quente para jantar hoje. Apesar do título do post, não é o que aparenta, pois esse jantarzinho quente foi solo. Minha pretensão era comer alguma coisa quente não na temperatura mas em ardido, menos confort, mais up.

A foto não ajuda, mas é o que se pode fazer tarde de noite e com fome

Também parece ser uma sandice querer comida quente em pleno dezembro, mas estamos sendo agraciados por meses de tempo feio e chuvoso nesse verão e isso pode ser multiplicado por 10 quando o local em questão é minha residência. Aff! Fazer o quê! São os fenômenos climáticos que colocam por terra toda a espera pelas comidas de verão, justo no ano em que você decide fazer cardápio sazonal e se empolga toda com as possibilidades de comidas frias e refrescantes. La niña, I hate u!

De tudo isso, uma coisa é fato: eu adoro pimenta! E isso independe da estação, embora desconfie [ainda não é uma certeza] que no verão a mostarda seja a melhor opção para o efeito desejado. Não qualquer uma como já expliquei certas vezes para alguns interlocutores mais próximos. A minha preferência em termos "ardentes" são os tipos de pimenta ou tempero que quando você come a sua cara fica quente e parece que está saindo aquela fumacinha da sua cabeça igual desenho animado. Não gosto muito de pimenta que deixa apenas a boca ardida ou dormente, prefiro sentir calor e poder diferenciar o gosto da pimenta. Ultimamente, por isso, tenho me permitido experimentar diversos temperos que proporcionam essa "caliência", desde os asiáticos e árabes até as pimentas nacionais mesmo que vou tendo acesso aos poucos [algumas das quais nem sei o nome].

Voltando ao jantar quente de uma quinta-feira chuvosa, mas véspera de fim de semana, visto que estou dispensada de trabalhar amanhã [uêba, pensamentos felizes, risos soltos e acalorados nesse momento - será que pimenta da onda? que estou levemente embebedada pela quantidade de pimenta ingerida?] resolvi dar uma inventada com um prato que me veio por "insight" [eu não chego a sonhar com os pratos que preparo, até porque nunca lembro do que sonho, mas ultimamente tenho tido pequenas ausências momentâneas em que estou pensando em combinações de ingredientes e refeições possíveis - será normal?], assim, do nada. Eu nunca vi ninguém misturar fubá com lentilha em lugar nenhum, mas o momento era de livre criação, já que se ficasse uma porcaria eu ia ter que comer sozinha mesmo.

De uma completa incógnita a magnífica descoberta culinária foram exatas meia hora, ou seja, o tempo que esse prato levou para ficar pronto, o que também o habilita para figurar na série "Quick and Easy". Na verdade, antes mesmo de comer as minhas lentilhas picantes elas já podiam ser classificadas como deliciosa promessa olfativa. O cheiro na cozinha estava ótimo, a mistura dos temperos fervendo na panela parecia uma versão sofisticada das "Casas Pedro" [minha loja de temperos favorita, apesar de sua localização não muito prática em relação aos meus caminhos].

Tudo foi feito da seguinte forma: quando cheguei em casa, cerca de 2 horas antes de ir preparar a lentilha, coloquei de molho 1/4 de xícara de lentilha. Essa quantidade serve generosamente 1 pessoa que gosta de pimenta ou duas bastante comedidas [eu comi tudo sozinha, mas estava sustância porque hoje o dia foi meio escasso]. Na hora de preparar aqueci um pouco de manteiga e coloquei para refogar 1 dente pequeno de alho, na verdade meio dente grande que sobrara de outra comida qualquer; um pouco de cebola picada; um pedaço bem pequeno de gengibre também picado; um pedaço de folha tenra de alho poró; e um talinho de salsão picado. Triturei no pilão [brinquedo novo sobre o qual falarei melhor em outro post] três grãozinhos de pimenta branca, 1 cravo da índia com um pouco de canela em pó. No refogado juntei as lentilhas, deixei apurar um pouco e foi só juntar os temperos triturados, um pouco de água e meia colher de chá de curry. Só pra deixar claro, pus água no pilão para pegar todo o tempero triturado e depois joguei essa mistura na panela. A lentilha foi cozinhando e eu pondo mais água quando necessário. No final, com a lentilha já bem macia, misturei em um recipiente a parte uma colher de sopa de fubá e um pouco de água fria [acho que 1/2 xícara], o que foi pra panela também. Aumentei o fogo e mexi até engrossar como um creme. Uma vez engrossado o caldo está pronto pra comer e ficar passando calor a cada colherada.

Muito bom mesmo! Vou tentar em uma outra oportunidade essa mesma receita com menos curry ou gengibre, para os menos fanáticos por pratos apimentados. O fubá transformou o que seria uma sopa de lentilha em creme, uma consistência que apreciamos muito aqui em casa. Além de tudo isso, combinou bem com a lentilha.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Um fim de semana sem inspiração, um pão que não deu certo e morango. Ah os morangos!

Yes, nós temos morangos!

Pra começar um post como esse, que mais parece um triste samba canção para um fim de semana chuvoso, nada melhor que uma pequena felicidade, já que ainda "é melhor ser alegre que ser triste". E, nada melhor para trazer pequenas felicidades sinceras do que o seu pé de morango dar morangos. Nunca acreditei ser possível plantar e colher qualquer coisa, embora nunca tenha me faltado vontade desde os tempos imemoriais em que se plantava feijão no algodão molhado para trabalho de escola.

Lembrando de feijões, a outra "plantação" da qual também tenho lembrança - quando ainda era um girino - é de uma cebola esquecida na geladeira que se agarrou em um pedaço de esponja [usada na época  para retar a umidade da gaveta de vegetais] e brotou. A bicha fez uma raiz gigante e só não me lembro se conseguimos utilizar a esponja depois disso novamente.

Mas não é que a minúscula muda de morango comprada em uma lojinha de plantas só de brincadeira é um verdadeiro Gremilin das frutinhas. Multiplica rapidamente e já está espalhando por toda a horta, sem utilização de nenhum produto além de água. E isso é uma grande satisfação.

Pé de Morango

Morango Antes

Morango Depois
Para quem nunca teve pretensão de ter alimentos plantados em casa esse ano até que foi bem frutífero e não posso me queixar. Desde que me mudei procuro manter uma pequena hortinha em vasos que já produzem os temperos que mais gosto. Manjericão [se a gente não comê-lo é capaz dele comer a gente], tomilho, hortelã, manjerona, orégano [que está florindo], todos em vasos.

Mas esse ano, com a criação de uma floreira e de uma horta no condomínio, já colhi tomates, couve, sálvia, rúcula e outras modalidades de vegetais nunca antes imaginados. De sujeito urbano que não conhecia nem o básico das espécies comestíveis que não vendem no mercado, passei a plantadora compulsiva; tudo o que brota da terra é plantado pra ver se pega.

O morango orgânico e caseiro estava realmente muito saboroso, do jeito como a fruta deve ser. Macio e azedo na medida certa, livre de contaminação e com gosto de quem não come morango há um século. Pelo menos desde quando se alarmou toda a população do nível de substâncias perigosas utilizadas nas plantações e presentes residualmente nos morangos de supermercado.

Então depois de um malfadado pão que levou um dia todo fermentando e não forneou bem. O pão parecia que ia mas não foi, ficou cascudo tipo quebra dente e machuca boca e com a massa muito densa. Era pra ser uma massa meio sourdough, que foi executada com muita paciência e parcimônia por quase 12 horas e que desandou na hora de ir para o forno. Primeiro porque foi um parto tirar o pão do pano em que ficou descansando para a superfície onde ia assar, pois a massa era delicada e mole demais para ser manuseada sem deformar. Uma vez no forno, o pão se comportou bem no início, demovendo minhas expectativas frustadas com a saga anterior ele deu uma crescida e começou a tomar forma. Depois o cheiro da derrota: o gás acabou [merda, merda, merda] e nem sei quanto tempo o forno ficou apagado.  Não sei se foi falta de vapor ou de gás, mas o troço desandou; demorou um tempão para ficar no ponto, muito além dos 30 minutos sugeridos na receita, e quando fomos comer: decepção. Nem tão sour assim, parecia mais uma overfermentação e com a casca dura demais. Ontem o miolo ainda estava macio, mas hoje me foi sugerido que usasse uma Makita pra cortá-lo. Bom nem só de sucessos vive uma cozinha.

Consequência: hoje a minha disposição para cozinha estava no nível zero. Eu já tava achando que pães artesanais não eram para mim e que de agora em diante só faria pães simples, com fermentação direta e já testados com sucesso por mim mesma. Esses pensamentos nefastos estavam contrariando toda empolgação panificadora que ontem me animou até a pensar em produzir meu primeiro fermento natural nas férias. Tentando colocar as coisas em perspectiva, tendo a optar pelo meio termo no qual os pães artesanais só serão feitos em dias de muita inspiração culinária e de sol [dias de chuva não me fazem muito bem], não sendo eles nunca uma opção para substituir o pão do dia a dia. Isso porque depois dessa experiência, como iremos comer o pão durinho assim mesmo, fiquei com peninha daqueles que terão que aturar a massa pesada pelo resto da semana, mesmo ele não tendo falado nada sobre esse assunto.

Mas aí veio o morango. Ah! O morango! O que ele tem haver com isso? Deixou meu dia bem melhor logo cedo e até o sol saiu [isso não é uma metáfora]. Meus pensamentos anti-panificadores foram sendo dissipados e acho que com o próximo pão bem sucedido, provavelmente uma foccacia tiro certo, e as férias se aproximando minha regulagem vai voltar ao normal e vou até arriscar um panettone. Afinal, eu até comprei um livro só de pães!!

Restabelecida a normalidade culinária nesta cozinha até o pobre pão ruim teve seu acesso ao estrelato. Virou ingrediente numa bela salada com manjericão, azeite, alho frito, pimenta cambuci, cebola e sardinha. Que recebeu um único comentário após ser comida no almoço: "E agora, o que tem pro prato principal?".

"Rá."

De todo o modo, esse fim de semana não foi lá essas coisas em termos culinarísticos, mesmo com a recuperação pós-morango. Tenho que fazer compras, porque estou adiando isso há exatas duas semanas, colocar algumas coisas para funcionar, de modo que mantenha meu espírito de comer melhor, e ainda tenho que superar o episódio da frigideira amaldiçoada que fez minha omelete de atum grudar no almoço de ontem. Tenho que dizer, apesar disso beirar a humilhação, que a frigideira é antiaderente. Por isso, acredito piamente que ela estava ou está amaldiçoada pelos deuses do ovo grudado.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Almoço ou trabalho do mestrado? Gratinado de batata baroa

Eu perdi esse post inteiro por causa do teclado do computador. Será que eu começo tudo de novo? Tava tão pessoal e filosófico, que de repente eu perdi por um desígnio dos deuses para que tudo isso não ficasse pra posteridade. Pelo menos não perdi o trabalho que tenho que entregar.

Mas vamos, lá. Recapitulando o que eu lembrar.

Estou numa fase em que tenho um monte de coisas para fazer e pouca vontade de fazer o que devo, mesmo sabendo que é preciso. Fazer o quê! Não estou com paciência para ficar escrevendo um trabalho inteiro com o balanço da minha pesquisa de mestrado enquanto o mundo gira lá fora. Embora eu esteja aqui, nesse momento, escrevendo [e tudo de novo], um trabalho acadêmico não é algo em que se possa exercitar todo o seu potencial criativo, e essa constipação literária não me deixa muito muita margem para minha empolgação com a escrita.

O fato é que eu tenho lidado com isso de uma maneira mentalmente saudável. Não deixar tudo para a última hora e traçar pequenas metas para serem cumpridas diariamente tornam esse esforço um pouco menos sacrificante, garantindo a sobrevivência dos meus neurônios e da minha paciência. Exatamente como aconteceu com os trabalhos finais das disciplinas no meio do ano, durante esse processo eu fico mais reflexiva, mais atenta às coisas ao meu redor e um pouquinho mais criativa, mesmo que essas experimentações não possam ser utilizadas no trabalho do que vale nota. [É o fim dos tempos ser adulto e pensar no "trabalho que vale nota". Veja bem, eu disse "nota"].

Então hoje de manhã lá fui eu para a frente do computador dissertar sobre as minhas pretensões acadêmicas, quando tudo o que importa é o que você vai fazer para acabar essa joça no prazo. Ossos do ofício, do qual eu reclamo mas gosto. É bom poder ter pensamentos fora da caixa, ler o mundo de uma maneira um pouco menos óbvia e ser, às vezes irritantemente, desconfiada de tudo o que tem na aparência das coisas. O que acarreta um invariável pessimismo, do qual eu tendo a achar graça para não chatear os outros com minhas esquisitices, e uma ponta de sofrimento por achar que, como diria um grande amigo meu, "a humanidade é uma causa perdida". Acho que não irei esquecer desse ano de disciplinas do mestrado da fala de uma professora no final de uma aula sobre A dialética do esclarecimento e A indústria cultura do Adorno e do sempre esquecido Horkheimer [escrevi esse nome certo pela primeira vez, que orgulho! Fui no Google conferir e era assim mesmo], que era mais ou menos assim:

Professora: O fato é o nosso suposto desejo de ter um produto é na verdade apenas uma ideia criada pela industria cultural para inculcar esse desejo em nossa cabeça. A indústria cultural é uma face da necessidade que as corporações têm de nos fazer acreditar que a nossa escolha é individual e exclusiva, quando ela é apenas fruto desse padrão criado para que nós continuemos consumindo sempre e mais. [Essa fala é uma anotação de memória, que está sendo anotada de novo, então pode não ser exatamente assim que a coisa foi dita]

Professora: Então é isso gente, obrigada até semana que vem, vamos todos lá agora consumir coisas e fazer exatamente aquilo que discutimos hoje.

Ao que eu respondo: Pelo menos eu sei disso. Sei que estarei sendo alienada.

Já que não se tem escolha, a melhor maneira de participar desse jogo é sabendo como ele funciona e tentando minimizar a sua contribuição para que ele siga em frente. Por vezes me encontro proferindo a célebre frase: "A ignorância é uma benção!". Mas, de fato, não creio nisso e penso que se existe a impossibilidade da mudança, a consciência pelo menos redime um pouco da frustração.

Acho que perdi o texto até aqui e, agora que o recuperei do meu próprio HD movido a carboidrato, chego a conclusão que:

1. Minha memória é boa. Consegui escrever ele quase na íntegra de novo. Donde: Cérebro humano 1 X 0 HD artificial.
2. Minha paciência, tolerância e resignação estão em níveis elevados. Eu poderia ter desistido de escrever, ou amaldiçoado para todo o sempre o meu computador, mas não, eu comecei tudo de novo.
3. Eu tô com um caboclo escriba no corpo hoje. Estou desde de manhã escrevendo e só parei para fazer o almoço.
4. Eu gosto mesmo de manter esse blog. E isso me deixa feliz!
5. Minha estratégia para terminar o trabalho que é obrigação está dando certo. Meu tempo controlado me permitiu escrever - DUAS VEZES - o mesmo post.

Mas eu vim aqui falar do almoço, que além de ser rápido, prático e cheio de lições de aproveitamento dos vestígios de refeições passadas, também caiu muito bem com uma salada básica de alface e tomate da horta. Nada mais nada menos do que um gratinado de batata barôa [ou mandioquinha], com um molho de creme de leite, atum, alho poró e um restinho de salada de cenoura.

O queijo ficou mais branco do que se esperava.


O que eu fiz foi fatiar a batata barôa em rodelas tipo chips [o que me custou um corte no dedo por causa daquele maldito ralador/fatiador de R$ 1,99]. Depois misturei uma lata de creme de leite [e foi-se embora mais um item do meu armário que como já disse hoje aos que me acompanham só voltará em fevereiro quando estivermos curados da ressaca nababesca das "Festas"], uma lata de atum e um restinho de salada de cenoura, tomates cereja cortados, azeitona, damasco, passas brancas e ervilhas [se eu não estiver em casa o resto de qualquer coisa que lembre salada permanece inalterado nos recônditos frios da geladeira]. Temperei com shoyu e mostarda Dijon [ganhei esse pote de mostarda Dijon e fiquei muito contente]. Untei um refratário e fui montando uma camada de molho, batata barôa e molho [vezes 3]. Joguei algumas rodelas por cima, preenchi os espaços com lascas de atum e finalizei com uma boa porção de queijo parmesão roots [comprado no tio da Delicatessen e que não tem marca]. Forno por um bom tempo, pois a batata tem que cozinhar e pronto.

Só comer e ficar feliz de ter uma coisa com creme de leite pra mastigar. Esse foi o pensamento do meu querido companheiro que me brindou, mais uma vez, com um de seus comentários indefectíveis: "Tirando o grão-de-bico, tá ótimo". Seria um elogio bacana, se... Alguém viu grão-de-bico em algum lugar nesse post? Pois é, ele viu na latinha, ontem, junto com o os outros itens das compras.

Esse é o típico prato da cozinha efetiva, permite que você coma bem e faça seu trabalho de mestrado quase ao mesmo tempo.

Esperem só pelo episódio do ovo grudê. Coming soon.

domingo, 27 de novembro de 2011

Geleia... De novo... De jabuticaba

Fui fazer geleia de novo, depois da saga da geleia que virou calda que virou sorvete de amora e da segunda tentativa mais bem sucedida, mas dessa vez de jabuticaba. Eu adoro jabuticaba, principalmente se for pra ficar comendo in natura em quantidades excessivas, estourando aquelas belíssimas bolinhas pretas na boca com casca e tudo. Entretanto não me lembro de ter comido a geleia da fruta, o que me soa um pouco estranho, mas levando em conta os lapsos de minha memória pode ser que seja isso mesmo, ou não. O fato é que essa geleia me rendeu boas surpresas desde antes de eu pensar em fazê-la.

Pão de aveia e geleia de jabuticaba caseiros. Viva a autossuficiência doméstica!


A primeira surpresa foi o meu encontro - literalmente - com a jabuticaba. A temporada da fruta já passou por aqui e eu fiquei meio frustrada de não ter conseguido nem umazinha sequer pra comer, menos ainda um monte delas para testar minhas habilidades geleificantes. Ei que ao caminhar pela rua no centro da cidade dou de cara com um saquinho cheio de bolotinhas sobre uma banca conhecida. Passo por elas e sou atraída de imediato, num instante a luz do "eu preciso disso" acende, ao que eu volto e pergunto a moça na barraca: "Isso é jabuticaba, né?", não resisto e levo o saco pra casa imaginando a geleia a ser produzida.

No dia seguinte, ontem, separei metade que foi direto para o freezer e com o restante comecei os preparativos para fazer a geleia tentando me organizar mentalmente para não fazer a bagunça tradicional quando se trata desse tipo de compota. Nem preciso dizer que o esforço foi em vão e meu caminho até o nirvana da compota sem caos na cozinha ainda será longo, mesmo tendo o conforto de saber que estou apenas no início dele e na quarta tentativa de toda uma vida.

Até determinado ponto tudo correu muito bem; lavei as frutinhas e as escorri, espremi com as mãos [sem pedaço de nada voando pela cozinha, o que me deixou satisfeita], coloquei tudo na panela para aquecer e fazer a jabuticaba soltar líquido e apurar seu sabor, tudo isso com apenas uma panela um escorredor e uma colher de pau sujos. A perfeição. Minha concentração estava mantida nas etapas e o foco em uma única tarefa, ao contrário do que normalmente ocorre, funcionando a contento.

Só que - como em toda receita que exija um pouco mais de técnica - em algum momento vai acontecer da pessoa voltar ao seu estado natural e dotada de todo seu avoamento característico produzirá o verdadeiro caos com a falta de jeito de quem nunca entrou em uma cozinha antes. E no meu caso, dessa vez, foi a hora de passar as jabuticabas levemente cozidas pela peneira para separar o caldo das cascas e caroços. Comecei tentando usar o escorredor com uma bacia em baixo: muito grande e com furos pequenos demais. Fui de peneira de plástico [porque a de metal enferruja]: muito pequena e mole demais, não conseguia apertar com a colher para extrair toooodo sumo da fruta. Aí, no auge da falta de noção pensei: "vou espremer com a mão": quente demais. Alguns palavrões mentais e uma determinação huge [não achei outra palavra ainda - quem sabe até o fim do texto] monstro [achei a palavra, antes de acabar o texto] fizeram eu persistir na empreitada de "peneirar" aquele caldo colorido. No fim de tudo, até minha alma estava cor de jabuticaba, num tom meio roxo, meio vermelho, o que dizer então da pia, fogão e chão da minha cozinha. Camisa pintada, mãos rosadas, braços e rosto respigados depois, meu caldo de jabuticaba estava pronto para receber a metade do seu peso em açúcar que lhe faltara.

Pesei o caldo e o açúcar, passa pra lá e pra cá aqueles resíduos todos e comecei a fase três com momentos de grande tensão. Explico. Um dos meus pesadelos culinários é o tal do ponto da geleia, porque fico excessivamente preocupada em passar do ponto - tendo em vista o meu primeiro grande trauma -, tendendo, portanto a não atingi-lo, produzindo um doce com consistência mais líquida do esperamos quando se trata de geleia para passar no pão [e não para molhar o pão]. Vasculhei incansavelmente a internet atrás de algum site|blog|texto que explicasse, e sobretudo mostrasse, o ponto correto de retirar a geleia do fogo, mas para a uma cabeça [a minha] "nunca fiz geleia antes" tudo era muito vago e pouco ilustrativo. Como eu vou saber como é uma calda grossa o suficiente se eu nunca vi uma antes? Convenci-me de que teria que ser no prosaico método de tentativa e erro até que na leva em que comprei os primeiros livros de culinária para chamar de meus [já encomendei a segunda remessa na fatídica sexta-feira de ode ao consumo chamada ironicamente de Black Friday] tinha o Conservas e Compotas específico sobre geleias, compotas e afins.

No livro, além de várias receitas, estão algumas técnicas, utensílios necessários e pasmem... uma fotografia com o ponto correto da geleia. Não é preciso dizer o tamanho da felicidade súbita que me acometeu ao ver aquela foto. O investimento no livro já havia valido à pena só pela por me fazer visualizar algo que do qual eu só tinha uma ideia abstrata e porque finalmente eu consegui entender o que toda aquela história de pingo que não pinga significava. Eu não tirei uma foto da minha geleia de jabuticaba ao atingir o ponto correto [pode me bater agora] e também não vou usar a do livro, mas prometo que na próxima tentativa eu vou me esforçar para lembrar de fazer isso, mesmo se o caos estiver instaurado no momento.

No meio de tudo isso, enquanto eu estava lá mexendo a calda no fogo esperando pelo ponto certo com tudo bagunçado ao meu redor, me dei conta do quanto eu gosto de de fazer geleia. Assim como outras coisas na cozinha, como pães, fazer geleia me deixa feliz gratuitamente, mesmo sem eu nunca ter tido oportunidades de fazer esse tipo de doce antes ou mesmo sem nunca ter pensado que era uma coisa da qual eu podia gostar. E, num momento claramente filosófico, fiquei emocionada e realizei que o estilo de vida que tenho hoje é algo que me satisfaz plenamente, apesar de nunca ter esperado por isso, ou saber que ia ser assim tão diferente da vida que eu tinha antes de me mudar. Cheguei a verbalizar esse momento de satisfação com uma coisa tão simples como ter frutas frescas e produzir minha própria comida e comentei: "Sabe, eu gosto de fazer geleia! É uma coisa que me faz bem. Não só pelo fato de cozinhar, mas de poder ter acesso as frutas e todo o resto. Pelo novo estilo de vida".

A geleia ficou pronta com uma consistência satisfatória, embora não tenha ficado tão espessa [ai, meu trauma subconsciente]. Para minha próxima surpresa, ela é de um tom vermelho para roxo e eu sempre achei, não sei porque cargas d'água e sem nenhuma fundamentação lógica ou científica, que a geleia de jabuticaba era mais pro roxo enegrecido. Mas, como em algum momento levemente amalucado, por causa daquelas embalagens com as frutinhas pintadas que confundem a minha imaginação, eu pensei que geleia de cassis fosse de jabuticaba, não é nem tão estranho assim.

A outra surpresa ficou por conta do comentário que saiu da boca do meu querido companheiro após provar a geleia: "Ficou boa, mas tá muito doce, não? O doce tirou um pouco o gosto da jabuticaba". Apesar da crítica, essa frase é motivo de orgulho, já que a referida pessoa não sabia a diferença de gosto de um queijo para o outro há menos de três anos. Para alguém que cozinha para outra pessoa assim a evolução, digamos, gustativa, expressa na forma de um comentário tão elaborado - pelo menos no que diz respeito a percepção dos sabores - é algo a ser comemorado. De fato, a geleia ficou doce, mas acho que foi por causa da doçura inerente a fruta, já que a quantidade de açúcar foi a de sempre.

Nada que atrapalhasse a performance da geleia.

Update de mesmo dia: mantendo a linha e evitar o desperdício, não quis jogar o resíduo de cascas e caroços no lixo [nem sabia, mas as propriedades nutricionais da jabuticaba estão mesmo é na casca]. Então bati tudo no liquidificador com água e coei o líquido, o que resultou num creme espesso, muito parecido com acaí, mas ácido demais no sabor. Ainda assim dispus o creme em potes na geladeira para ver o que fazer com aquilo. Agora há pouco fiz a descoberta revolucionária: misturei duas colheres desse creme de jabuticaba com iogurte e granola e fui feliz com a experiência do lanchinho cor de vinho. Vou congelar uma parte para ver se cabe num bolo.