quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Guia da autossufuciência doméstica. Episódio: pão para o dia a dia

Eu ando com uma preguiça de escrever nesse blog. Mas escrever me faz pensar e pensar me faz concluir e concluir me deixa um tanto quanto desesperada. Isso porque concluo - e dessa vez espero estar completamente enganada - que férias me dá preguiça. Eu sinto que estava muito mais disposta a fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo enquanto estava trabalhando, e estudando e indo de lá pra cá, de ônibus em ônibus. Será que dou mais valor ao tempo com a perspectiva de sua falta? Isso eu ainda não sei, mas o que eu posso afirmar é que isso me deixa bastante incomodada.

Toda vez que eu estou pra entrar de férias eu crio um mundo de expectativas e planos mirabolantes de coisas para fazer enquanto eu estiver desfrutando do mais completo e merecido ócio. Enquanto estava na faculdade, o plano sempre era ler os textos/livros/artigos que não li quando deveria, ou seja, no dia da discussão em sala. E assim passaram quatro anos e até hoje eu não peguei os clássicos da História Medieval, o livro do Lênin, os maravilhosos textos de pensadores ranzinzas que nos dizem como somos explorados - o maravilhoso não é ironia. Todos os textos são muito bons, mas parece que quando a oportunidade do tempo surge, acabo menosprezando ele por acreditar que amanhã tem mais.

Refletindo sobre isso agora, nesse momento que começo dizendo que estou com preguiça de escrever e minhas ideias não me deixam para de digitar freneticamente, acho que um revés de estar de férias é adiar. Adiar os planos, porque amanhã também não farei nada e então posso curtir um tédio hoje; adiar as tarefas deixadas para concluir nas férias, porque afinal estou de férias; e deste modo, elas acabam e mal percebo que deixei de fazer muitas coisas.

Nessas férias, por exemplo, eu tinha planejado fazer fermento natural, muitos pães, macarrão caseiro e toda e qualquer receita mirabolante que requeira tempo de preparo. Aí eu olho a receita, ela olha pra mim e me dá um desânimo, uma preguiça. Sequer o extrato de baunilha - que não deve levar 5 minutos para ficar pronto - eu fiz ainda. Isso falando apenas do terreno gastronômico, já que tenho outras atividades de estudo e lazer que também não saíram do universo do quando-eu-ficar-de-férias-vou-fazer...

Isso tá parecendo aquelas coisas de início de ano, mas é só porque minhas férias coincidem com esse período nefasto de recomeço e blá, blá, blá. Mais do que nunca EU QUERO CONTINUIDADE.

Entretanto, hoje, após uma sessão nem tão puxada assim de exercícios físicos, as coisas clarearam um pouco. Estou me sentindo mais animada, sem a garganta doida que me acompanhava a alguns dias, e com vontade de resolver pendências. Cheguei em casa e dei cabo de umas três ou quatros coisas de trabalho que estavam amarradas, enquanto escrevo aqui já respondi a um e-mail que não levou nem 3 minutos e talvez, houvesse chegado ontem, ficaria na caixa de entrada marcadinho com aquele negrito que denuncia a sua inação e parece que acordei de um pequeno pesadelo. O almoço ficou excelente, saboroso, saudável e com ingredientes combinado perfeitamente; tenho um pão para ir para o forno daqui a 20 minutos e estou tagarelando em letras sem querer parar e sem ter começado o assunto desse post.

Respondo outro email em 1 minuto. Vou ligar o forno para o pão. Que não é esse do dia a dia, não. Voltei, com uma pera. Demorei porque tive que arrumar uma arapuca pra providenciar steam no forno doméstico para o pão. Viu porque ele não é o do dia a dia?

Eu já dei essa receita aqui, mas é que dessa vez ficou bem melhor e o método vale até mais que a receita, para torná-lo o pão "pau pra toda obra". Eu confesso, eu tenho um sonho: não precisar comprar mais pão de forma no mercado. Só que isso ainda é um plano que me parece distante devido a relação cruel que existe entre o tempo da empreitada e a velocidade do consumo de pão aqui em casa. Dua no máximo três dias. O que é bom se você pensa na questão da perecibilidade de pão caseiro [sem químicas fortes dura bem menos que os comerciais], mas ruim se leva em conta que quando acaba um tem que ter outro no gatilho, senão não há sustentabilidade alimentar para os desprovidos de habilidades culinárias.

Não é propaganda, mas era a melhor foto. Crédito do sujeito viciado em pão que mora comigo

Essa preparação então, já pode ser considerada um passo na busca pela autossuficiência panificadora, visto que toma pouco tempo de preparo em si, bastando calcular adequadamente o tempo entre o início dos trabalhos e a mordida em uma fatia dessa belezinha com manteiga. Começo pesando a manteiga na tigela em que o pão vai ser amassado: são três colheres de sopa, então 32 gramas. Depois aqueço, no microondas, em um copo de medida, uma xícara de leite ao qual acrescento uma colher de chá de mel ou melado [dessa vez usei melado]. Pode-se colocar mais mel ou melado se quiser um pão mais docinho, desde que não ultrapasse uma colher de sopa. Despejo essa mistura líquida na manteiga, mexo para ela dar uma derretida e no copo de medida bato ligeiramente um ovo que também será incorporado aos líquidos. Misturo tudo até ficar mais ou menos homogêneo [claro que ficam uns floquinhos de manteiga boiando no leite, mas finjo que não estou vendo]. Agora vem a parte dos secos: meia colher de sopa de fermento seco, uma xícara de farinha integral com um pouco de centeio [só tinha uns 30 gramas de centeio em casa e juntei com a farinha pra não ficar no abandono do armário e incorporar mais informação ao pão semi-integral], uma xícara e meia de farinha branca comum incorporadas a massa de meia em meia xícara. Depois de juntar um pouco os ingredientes, acrescento meia colher de chá de sal [que dessa vez eu esqueci e tive que juntar na hora de modelar]. Daí é partir pra sova até a massa ficar mais moldável, porque seca e soltando das mãos ela não vai ficar. Fica bem grudenta, mas vai dar pra fazer uma bola no fim das contas com um pouquinho de nada de farinha.

É na hora da sova que acho que está a chave para a minha autossuficiência em pãos. Embora eu goste do trabalho manual, creio que com a aquisição de uma batedeira com gancho vou enfim poder ter uma produção mais regular de pãos caseiros. Deixando os artesanais para os dias mais inspirados ou de panificação-terapia, com o trabalho automatizado da batedeira a produção poderá ficar mais corriqueira e cotidiana, tornando a ida ao mercado mais difícil que a produção doméstica.

Voltando ao assunto da receita, depois de descansar uma hora e meia, modelo o pão na forma média, envolvo a forma com um saco plástico, amarro bem e cuido para que o saco não fique muito próximo da borda da forma, pois o pão cresce e gruda no saco. A forma fica na geladeira até a manhã do dia seguinte quando o pão vai para o forno para um delicioso café com pão que vem com cheiro, sabor, e quentice de brinde. Nada melhor do que isso. No caso desse pão dá certo fazer desse modo, porque já é a segunda vez que eu faço. Comecei a prepará-lo por volta de duas da tarde do dia anterior e ficou 14 horas na geladeira.

Acordei, retirei o pão da geladeira e coloquei o forno para aquecer por uns 20 minutos. Pão no forno e foi só esperar. Muito bom mesmo e, como previsto, durou uns três dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário