domingo, 29 de janeiro de 2012

Com vocês... a semana da abóbora

Como duas pessoas podem consumir três quilos de abóbora antes que ela estrague? Como conseguir tal feito se umas dessas duas pessoas jura de pés juntos [não sei de onde tiraram essa expressão engraçada] que não gosta de abóbora [assim como de outra gama enorme de vegetais e frutas]? E, porque alguém compraria 3 quilos de abóbora em condições tão adversas?

Começando pelo fim, a abóbora em questão veio na cesta de produtos orgânicos que recebi na semana passada e não tive muito o que fazer em relação ao seu tamanho. Quando enviei o e-mail com os itens que gostaria de receber pedi uma abóbora-moranga pequena, mas os vendedores me responderam avisando que aquela era a menor disponível no momento. Eles foram bastante atenciosos e enviaram uma foto da moranga para a minha avaliação, logo, resolvi aceitar o desafio da abóbora.

Você compraria essa abóbora?
Pois é, eu comprei e agora estou me virando pra usar ela toda na semana da abóbora. Esse post está meio atrasado, uma vez que a dita semana começou na quarta-feira passada em grande estilo. E, como a moranga ainda não acabou se estenderá por mais alguns dias, de modo que vou atualizando assim que as receitas forem sendo produzidas. Não vou me estender no assunto que o meu querido companheiro não gosta de abóbora, porque é repetitivo para qualquer vegetal, exceto batata, mas vale dizer que o menino não se nega a experimentar nada e é sempre bem coerente nas análises dos pratos. Embora, às vezes goste de ficar implicando comigo por causa do terrorismo alimentar a que vem sendo submetido.

Pensando nos pratos já feitos eu tenho que confessar que devo essa semana a Ana Elisa do La Cucinetta, pois agora me dei conta que usei muito suas receitas e, pode-se dizer, experiência com pessoas que juram não gostar de abóbora. Não a conheço pessoalmente, mas compartilho de alguns pontos de vista e sempre que tenho um legume pra transformar em comida dou uma pesquisada lá no site dela, porque tem bastante informação boa, fora os textos. É uma pena que enquanto escrevo isso, ela pode estar dando um tempo de blog, conforme anunciou numa explicação nem tão curta assim a alguns dias. Perfeitamente compreensível, porque as coisas que são feitas por diversão não devem se transformar em tarefa, fora os chatos da internet. O que é ruim, pois era uma das poucas vozes dissonantes do universo dos foodbloggers tão colorido, otimista, cheio de frufru e igual. Estava comentando isso hoje aqui em casa: os blogs de comida tem me cansado um pouco, porque tudo é muito parecido, todo mundo quer ser legal e positivo, fazer receitas fáceis e que impressionam, falar sem pensar muito em sustentabilidade e ficar fazendo propaganda de produtos e serviços na forma de conteúdo. Isso me enjoa e me soa falso e viva a ranzinzice.

Depois da inevitável lamúria do dia, a comida. Na quarta-feira comecei - como já disse em grande estilo - com esse flan de abóbora. Mudei um pouco a receita e usei apenas dois ovos e duas gemas, porque achei 6 ovos meio exagerado, mas acho que não foi uma perda muito grande. Troquei o queijo gorgonzola por provolone, porque não sei se a outra parte gosta de queijos tão fortes [acho que nem ele sabe se já comeu gorgonzola na vida], e, coitado, a abóbora por si só já não é algo gostoso para ele, se eu metesse um queijo fedido que ele também não aprovasse a minha recém iniciada semana da abóbora iria ladeira abaixo. Só lamentei um pouco por não ter mais que 2 ramequins tendo portanto que colocar o restante do flan em um refratário comum. Acompanhei com uma salada de alface simplinha só temperada com azeite, limão e gersal e casou perfeitamente sem necessitar de mais nada. Como sobrara apenas um pouco do flan, no dia seguinte, mortos de fome ao retornar de um passeio no parque ecológico aqui perto, tive que aumentar o almoço fazendo um arroz com linhaça e mais salada verde.


Eu tô devendo essa continuação, mas é que são tantas as novidades que acabei me perdendo e esquecendo de postar. Outro fator que contribuiu para esse inevitável desleixo foi o fato de eu ter voltado a trabalhar na semana passada e com o cansaço decorrente desta experiência minha vontade de escrever declinou consideravelmente. A continuação da nossa saga abobrística se deu com uma incrível sopa apimentada e ao mesmo tempo confortante numa noite um pouco mais fria deste verão esquisito. Tudo bem que a sopa mistura coisas quase infalíveis como abóbora, curry e leite de coco, mas sabe como são os preconceituosos. Quando o fofo que mora comigo olhou para uma panela com o creme cor de abóbora fez aquela cara de "nós vamos comer isso, aí". E eu tive que dizer firmemente que sim e que ele iria gostar, que estava até com uma uma camisa laranja pra combinar. A única diferença da minha sopa para a receita foi que eu tinha um coco fechado para fazer o leite e um pouco de creme de leite fresco, o qual eu não podia deixar estragar. Assim, usei o creme de leite no lugar do leite de coco, o que deu uma ótima textura a sopa e um motivo nobre para fazê-la novamente - experimentar com o leite de coco. O fato é que na hora de comer ele fez caras e bocas, disse que aquela não era a sopa preferida dele, reclamou da cor, sentiu a ardência do prato, mas foi sorrateiramente da mesa ao fogão para pegar a segunda rodada.

Sopa doce-picante na medida certa pra ser repetida.
E, por último, neste post, que já é um tratado sobre abóbora no qual eu vou acabar me perdendo: um quibe de forno vegetariano... De abóbora? Não, com recheio de abóbora, feta e ricota. Desse eu não tenho foto, porque não deu pra tirar, mas certamente a mistura ficou muito boa, com aquele gosto que lembra armazém característico dos pratos com trigo para kibe. Eu acho que gosto mais do cheiro que do gosto, pois o aroma desses pratos me lembra algo bom que eu nem sei o que é. Não tenho nenhuma memória olfativa significante que envolta tal ingrediente, mas eu fico feliz quando faço. Essa receita, não é beeem um kibe, porque não leva carne - nem de soja - e fica com uma textura um pouco diferente, menos firme e mais desmanchante quando a gente põe no prato. Geralmente, o quibe de forno [já escrevi com k e com que - devo estar meio bêbada de cansaço de uma semana que insiste em não acabar] é um prato cortável, ou seja, você consegue retirar pedaços inteiros e montadinhos da travessa, o que não é o caso desse aqui. Mas na falta de nome melhor vai quibe de forno mesmo.

Infelizmente eu não tinha comprado hortelã e o pé que tem aqui no condomínio ainda tá muito pequenino, de modo que não era possível retirar-lhe uma quantidade que fizesse alguma diferença no sabor do prato e eu não ia de-predar a pequena moita em vão. Logo, vai quibe sem hortelã mesmo, o que não quer dizer que vai ser quibe sem gosto. Fiz uma substituição de ervas [ops!] e usei bastante salsinha crespa e cebolinha francesa, ambas recebidas na cesta orgânica - fazendo companhia para o abobrão - e disponíveis abundantemente na geladeira.

Misturei bem uma xícara de trigo para quibe, salsinha crespa e cebolinha francesa picadas, azeitonas bem picadas, pimenta síria, sal, azeite, um pouco de manteiga gelada e umas gotas de tabasco. Acho que foi isso,  pois já faz muito tempo e estou levemente desmemoriada em relação a essa receita. O recheio foi feito com cerca de 500 gramas de abóbora assada no forno e amassada [essa linda abóbora, especialmente, está macia e desmanchando facilmente] com o garfo juntamente com um pedaço de queijo feta e um pouco de ricota fresca caseira. Tudo no olho mesmo, já que a intensidade desses sabores é muito pessoais ou, como no meu caso, é fruto das sobras de ingredientes que habitam a minha geladeira. Salvo a abóbora, que tinha em bastante quantidade, mesmo três refeições depois, os queijo foram sobras e até mesmo por isso juntei a ricota e o feta para aumentar a quantidade de recheio e do queijo. Depois é forno até dourar e comer alegremente esse prato saudável, saboroso e saciante.

A semana da abóbora, que já estende a bem mais que sete dias, continuou no último domingo [05/02/2012] com o risoto de abóbora sobre o qual já escrevi aqui, mas acho que desta vez ficou com um sabor mais intenso e profundo devido ao incremento generoso de gengibre ralado e do uso de 150ml de caldo de frango caseiro. Também usei abóbora ralada e como ela estava muito macia, deu ainda mais cremosidade ao risoto. Pena que não pude usar queijo ralado, uma vez que o companheiro [que dessa vez comeu sem susto, piadinha, comentários infames e ainda elogiou - bom menino] estava se recuperando de sua, infelizmente mais comum do que gostaríamos, enfermidade cefálica e estomacal. Estou quase chegando a receita perfeita desse risoto - pelo menos pra mim - quando conseguir juntar as informações dessas duas execuções com arroz próprio para risoto e um bom vinho branco.

Ainda fiz um doce de abóbora que vai em outro post, para que a busca por ele fique mais fácil. Além disso, levei o doce para o trabalho e o sucesso que ele fez com a querida amiga Luciana me gerou um pedido meio que indireto assim: "Comeu? Comi, tava bom. Tá no blog?" Ao que eu respondi: "Comecei a trabalhar, esqueceu? Não dá mais tempo de escrever no blog." Essa conversa foi hoje, e veja como são as coisas de amizade, vou tentar postar o doce no blog hoje em post separado para que ela ache e talvez o faça.

Antes de acabar preciso dizer a melhor frase de todas sobre essa abóbora específica, que foi proferida, assim que ela chegou aqui em casa, por ele, que sempre faz os melhores e mais debochados comentários a respeito de quase tudo: "A gente pode ficar com ela?"

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