quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Obsessão seu nome é bolo de limão ou como evitar uma neurose escrevendo um blog

Engraçadinho título!!!

Limões sicilianos: fui atraída por uns outro dia no mercado. Fui chegando perto da banca onde estava uma caixa pequena deles, com apenas algumas unidades. E, como nos desenhos animados, fui levada flutuando até eles pelo seu aroma inebriante. Não resisti e tive que comprar uma meia dúzia de quatro, mesmo estando pela hora do morte à 6 e pouco o quilo. Bom, coisas de pessoas levemente amalucadas e que são atraídas por alimentos pelos quais a maioria dos mortais - pelo menos os do lado de cá do Equador - não dariam a mínima.

Limões na sacola e, como eram poucos, um ponto de interrogação sobre o onde seriam empregados. Dessa vez eu contrariei a minha lógica de não comprar por impulso algo que "talvez eu possa precisar", mas eu já vinha de olho nesses limões a algumas semanas e vejo isso como um passo fora da linha que permite a manutenção do equilíbrio - cada vez menos radical, cada vez mais tendendo ao meio termo.

Limões atraentes
Como disse meu querido companheiro, talvez, se nós vivêssemos em terras de limão siciliano seríamos apaixonados pelo verde e óbvio "tahiti". Só que vivemos deste lado quente do planeta e o exotismo dos limões ovalados, amarelos, muito perfumados e que nos remete aos caça-níqueis de filme americano me faz querer comprá-los por preços absurdos e, quiça, tê-los no quintal de casa numa árvore grande pontilhada de amarelo.

Lembro de um episódio do programa do Claude Trogrois em que ele diz o quanto ficou impressionado quando experimentou o limão tahiti no Brasil, já que ele não estava acostumado com aquele sabor e aroma. Então, se ele que é famoso e importante pode eu também posso. Colocados em escala, não sei se pela estranheza ou se pelo sabor, o siciliano está á frente de todos os outros limões, sendo seguido pelo galego e depois pelo verde - são esses que eu conheço até hoje.

Mas o que tudo isso tem a ver com as neuroses sendo evitadas?

Com os limões sicilianos me olhando da fruteira e os dias sem bolo em casa ultrapassando perigosos limites eu resolvi que nada poderia ser mais propício do que utilizá-los com a nobre finalidade de perfumar e aromatizar um bolo de limão.

Eu tenho duas experiências com bolos de limão nesta casa: uma ruim e outra muito boa, exatamente nessa ordem. A primeira vez que tentei fazer esse tipo de bolo, simples e levemente azedo, errei feio naquela cobertura durinha que vai por cima e fiz uma melecada que acabou com tudo. A calda ficou muito mole e muito doce e quando eu joguei por cima do bolo ela foi engolindo a massa toda e caindo pra fora do prato. Um desastre tanto estético quanto de sabor, pois a massa ficou exageradamente doce e o furo do meio do bolo virou uma piscina de calda. Comemos? Sim, comemos, mas não com tanto entusiasmo. Sinto-me um pouco menos traumatizada por esse episódio atualmente porque naquela ocasião eu ainda não compreendia muito bem o temperamento do forno novo e os bolos saíam sempre com pequenos defeitos.

Tudo isso rendeu, além de frustração gastronômica [dois frustrados, quem cozinhou e quem comeu], uma certa desconfiança em relação aos pobres bolos de limão, tão saborosos em minhas lembranças nem tão vivas assim [tenho a impressão de que não comi muitos bolos de limão na vida]. Fui para uma segunda tentativa com muito mais confiança, visto que já estava com o forno domado e acabara de produzir, alguns dias antes, um bolo mesclado que foi sucesso absoluto e tinha aparência de prateleira de confeitaria tamanha perfeição. Orgulho mode on! Só que, um bolo ruim no histórico abala a credibilidade dos críticos mais vorazes e quando eu sugeri um bolo de limão para aquela tarde de inverno a resposta foi que era melhor não porque o último...

Eu insisti que faria o bolo novamente e daria certo dessa vez. Resultado: ninguém se arrependeu por isso. Aqui está a prova que tudo saiu conforme deveria.

A decoração deixa a desejar, mas a aparência...
Com cobertura nevada! Pena que a foto é do celular.
Agora começa de fato o problema deste post. Na época em que este bolo maravilhoso foi produzido eu não escrevia sobre o ato de cozinhar. Apenas cozinhava e marcava diversas páginas como favoritos. Obviamente, isso acarretava problemas ingerenciáveis para um universo do tamanho da internet. Muito fácil é anotar receitas favoritas em um caderno, mas em sites a coisa complica. Especialmente porque, devido aos meus critérios de organização pouco convencionais, os meus favoritos não são a fonte mais confiável de conhecimento.

Voltando ao bolo de limão siciliano eu tinha a seguinte dúvida antes de começar a prepará-lo: qual fora a receita utilizada para fazer o bolo de limão que deu certo da última vez? Isso seria uma dúvida besta e qualquer pessoa normal, diante da impossibilidade de solucioná-la, iria deixar pra lá e procurar outra receita que fosse de bolo e que levasse limão. Mas não, a pessoa resolve encarar as coisas de um modo obsessivo-compulsivo e descobrir a todo custo qual era "a" receita para a perfeição bolístico-limonácia. Daí surgem ideias absurdas e tentativas mais absurdas ainda de refazer os passos virtuais daquele dia; procurar informações através da fotografia do bolo [único registro e evidência material que o bolo existiu]; tentar rastear o histórico pela data da foto [tarde demais a foto datava 13 de agosto de 2011]; inventariar os sites mais visitados a procura de bolo de limão e comparar as datas das postagens para descartar o que foi feito depois; ler as receitas e tentar se imaginar usando os ingredientes listados; e mais um sem-número de pesquisas investigativas dignas de um crime de assassinato de livros policiais; tudo pelo bolo de limão.

Isso deve ter tomado toda a minha tarde, mas ideias fixas são assim mesmo. Por sorte eu sempre faço várias coisas ao mesmo tempo no computador e a pesquisa foi combinada com outras tarefas que eu precisava cumprir. Conjugando todos os fatores, eu deduzi que a receita era essa aqui. Quem dera tivesse toda essa disposição para pesquisa acadêmica. Eu seria o ás dos arquivos.

Definida a receita a ser utilizada fui pra cozinha e fiz o bolo colocando apenas mais suco de limão, já que o siciliano é bem menos ácido que o tahiti. Usei o todo o suco de um limão mais as raspas. Diminuí também a manteiga e usei 180 gramas [mais do que suficiente, na minha avaliação].

O bolo ficou muito bom, extremamente perfumado, azedinho na medida e fofo, muito fofo. Tanto que já o elegeram o bolo de limão oficial melhor de todos. Entretanto, eu não acho que tenha sido essa a receita utilizada da outra vez e preciso tentar outras até encontrar. Virou uma questão de honra saber. Mesmo depois de mais um bolo bem sucedido, continuo a busca pela receita perdida de bolo de limão.

Notaram a diferença?

Bolo + Instrumentos de trabalho.


Conclusão: tudo isso poderia ter sido evitado se eu escrevesse um blog de comida desde sempre. Quantas neuroses seriam evitadas ou pelo menos amainadas por esse simples gesto.





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