quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Outro arroz cremoso. Dessa vez de beterraba

Esse post tem inúmeros motivos e marca minha volta a este espaço depois de uma breve pausa ocasionada por uma incursão de férias ao meio do mato, perto de lugar nenhum [mentira era perto de Saquarema, mas parecia lugar nenhum].

Cheguei ontem dessa viagem ultra-rápida, de apenas dois míseros dias, mas muito bem aproveitados para descansar e não fazer nada. Pés na areia, muito mato - alto, diga-se de passagem - e paisagens bem rurais, mesmo estando perto da região metropolitana do Rio de Janeiro. Cozinha, apenas para o necessário, pois a infra-estrutura não era das mais tentadoras ou, pode-se considerar que sequer existia, numa avaliação mais radicais. Tive que aturar meu querido companheiro de viagens mostrando a faca sem corte e me sacaneando dizendo que era a "faca chef". Fora os comentários maldosos sobre como eu me sentia brigando com os alimentos e cozinhando como se estivesse num campo de batalha.

Sim, eu estive aqui. Chegando às seis e pouca da manhã.

Fim do mundo: eu fui!
 
A estrada que leva até ele.
Bem, nada que inspirasse pratos muito sofisticados ou mirabolantes, mas certamente permitindo que se cozinhasse com o mínimo de qualidade e bastante simplicidade. Digamos, uma comida daquelas das quais se diz honesta, que alimenta, não estando nem muito perto dos melhores restaurantes [e eu tenho minhas dúvidas que isso seja uma vantagem] nem muito longe da boa [essa sim] comida caseira. Com as limitações logísticas de se estar longe de casa. Serviu bem para duas coisas: testar minhas habilidades com "ferramentas de baixo nível" - como diz um amigo do ramo de TI, querendo dizer que você deve aprender a trabalhar com as ferramentas mais básicas [sem interface gráfica] porque são elas que vão te salvar no momento do desespero - e exercitar a objetividade e a simplicidade sem se sentir um fracasso por causa disso. Pelo contrário, expectativas desinfladas fazem muito bem para que prevenir chatice crônica.

Digo isso, porque numa das vezes em que estávamos voltando da praia para casa, me ocorreu que poderíamos ir, no fim da tarde, ao pequeno centro da cidade para tomar um sorvete. Ao dar a sugestão, meu companheiro logo disse: "Sabe que você não vai encontrar nada de especial em matéria de sorvete!?". Taí uma coisa a se pensar. Claro que eu sabia disso, mas tenho que relaxar e comer sorvetes ruins apenas pela oportunidade de dar um passeio, aproveitar a luz do fim do dia e estar em uma situação diferente da habitual. Se começar, com a minha idade, a ter mania de comida [coisa que sempre critiquei muito] fico em casa e não faço mais nada. Então, a viagem serviu também para dar uma amenizada nesse espírito crítico insaciável, para o qual nada nunca está bom. O que não me torna nenhuma Poliana, longe de mim ficar procurando lado bom em tudo! Estou apenas exercitando minha tolerância para as situações em que o universo de possibilidades esteja fora do meu controle. Em casa, sigo com o mesmo rigor e chatices que me são características.

Back to the kitchen!

Ontem, obviamente, eu não fui pra cozinha depois de voltar de viagem. Seria taradice demais. Estava cansada, com preguiça e nenhuma disposição nem mesmo para terminar o post do bolo de limão que já estava começado desde antes da escapada. Cozinhar, só em pensamento e planejei para hoje fazer uma lasanha com massa caseira e recheio de alguma coisa que tivesse na geladeira.

Eu ia fazer massa de macarrão para voltar em grande estilo, mas o plano não saiu como esperado e quando olhei a hora já era tarde demais para começar a preparar tudo. Fazer coisas correndo não é o meu forte, já que corro riscos de acidentes, tudo começa a dar errado e minha forte inspiração para a cozinha vai se esvaindo até levar junto o meu humor. Tem dias que dá certo, mas não arriscaria isso com meu estado recém-retornada de dias de ócio extremo, ainda mais com um prato com camadas. Camadas invariavelmente dão trabalho.

Pensa, pensa, pensa e lá fui eu perguntar pra outra boca o que ela queria almoçar, porque a lasanha havia desertado. Já disse, porque eu ainda faço isso!???

"Não sei, quais as opções? Tem alguma coisa pra fazer um risoto?"
"Beterraba. [coloque aqui um pouco de sarcasmo]"
"E o que você vai fazer pra ficar gostoso?" [OK! Ele venceu.]
"Queijo, eu boto queijo."
"Tá então, né? [coloque aqui um desânimo e um descrédito]"

Tudo isso porque ontem ele rejeitou uma sopa de beterraba que eu havia me oferecido pra fazer, mesmo estando sem espírito de cozinha. Bom, não foi uma punição, foi o que tinha na geladeira. Confesso que eu fui pra cozinha meio desmotivada e com sérias e preocupantes vontades de parar com esse lance de comida saudável, pelo menos quando é comida pra ser servida para nós dois. Fiquei pensando que isso era assim e não gostar de nenhum vegetal era quase um traço da personalidade dele inscrita no código genético [isso talvez provasse que ele foi adotado, já que não parece nenhum um pouco com o resto da família]. Esses pensamentos nefastos podem botar um almoço a perder, desperdiçando uma boa chance de tornar um vegetal mais palatável. Coragem, mulher, coragem! Afinal você está planejando esse risoto a algum tempo e é uma grande oportunidade para combinar beterraba, gengibre e queijo feta.

Ah! Não é um risoto porque eu ainda não tenho arroz apropriado para esse fim. Quando o meu arroz comum estava acabando, tive que comprar mais para fazer o prato do churrasco de fim de ano e adiei mais uma vez a compra de outra variedade de arroz. Mas dessa vez não usei margarina, ao menos. Vamos deixar como arroz cremoso cor de vinho.

Foi exatamente o que eu fiz. Cortei as beterrabas em cubos pequenos, coloquei em uma frigideira grande que pode ir para o forno, temperei com azeite, vinagre balsâmico, gengibre ralado, sal [acho que coloquei muito dessa vez e da próxima posso diminuir], tomilho, manjerona, pimenta do reino, um dente de alho inteiro e uma folha de louro. Coloquei no forno até as bets ficarem macias, mas ainda mordíveis. Quando chegaram nesse ponto eu retirei a frigideira do forno e levei ao fogo para apurar mais um pouco com uma pitada de açúcar mascavo. Joguei um pouco de vinho branco [cerca de um quarto de xícara ou menos], deixei reduzir e juntei uma xícara mal cheia de arroz branco. Misturei um pouco na beterraba e imediatamente ficou tudo cor de vinho. Então é o básico de todo o risoto: ir juntando água e mexendo até cozinhar. Não sem antes alguém entrar na cozinha dizendo de um modo cantarolante:

"Você está fazendo uma coisa cheirosa..."
Sincronizadamente ele termina esta frase quando está atrás de mim no fogão e continua.
"e de aparência esquisita."

Eu mereço!

Arroz cozido alguns minutos e uma espera depois [não finalizei o cozimento até todos estares disponíveis na mesa para o almoço] juntei um pouco de requeijão que tinha no fundo do copo na geladeira, manteiga e cubos de queijo feta. Ficou muito bom e parece que todos aprovaram. O sabor do gengibre estava bem pronunciado e o prato ficou doce e picante. Não tão doce quanto eu gostaria, pois as beterrabas não estavam tão boas assim, mas elas foram salvas pelo risoto e pelo queijo.

Não tem foto, porque não deu tempo e também porque o meu querido companheiro disse que precisava ter louça branca pra sair bem. No prato "duralex" ficava igual comida de cachorro.

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